Os ataques à intervenção das forças da coligação internacional partiram sobretudo do embaixador brasileiro António Paes de Andrade, que presidiu à cerimónia, e de Ana Gomes, convidada na dupla qualidade de amiga de Vieira de Mello e de responsável pelas relações internacionais do Partido Socialista.
Perante os representantes diplomáticos dos oito países que integram a CPLP, a dirigente socialista começou por relembrar o"papel fundamental" do administrador transitório das Nações Unidas no processo de independência de Timor-Leste, realçando, logo de seguida, o trabalho de Vieira de Mello no Iraque. "Teve sempre o cuidado de não deixar que as Nações Unidas fossem confundidas com as forças de ocupação", sublinhou. E numa acusação implícita a Durão Barroso, a quem chamou de "ajudante menor do campo belicista", Ana Gomes acrescentou: "Alguém disse que a morte de Vieira de Mello provava que a neutralidade não servia a ninguém. Isto é um insulto, pois nem Vieira de Mello, nem as Nações Unidas são neutras. Foi por isso mesmo que o mataram." Neste contexto, a socialista apelou ainda aos países-membros da CPLP para não optarem pela neutralidade. "É inteiramente justo que todos aqueles que o admiravam se empenhem pelos valores por que ele se bateu", disse.
A sessão evocativa do representante da ONU no Iraque, morto durante um ataque terrorista à sede das Nações Unidas em Bagdad, em Agosto último, serviu igualmente para o embaixador brasileiro lançar duras acusações aos países que desencadearam a guerra (EUA e Grã-Bretanha). No discurso de abertura da homenagem, realizada na sede da CPLP, em Lisboa, Paes de Andrade defendeu que "não haverá paz enquanto maiorias arrogantes continuaram a esmagar as minorias políticas, religiosas, culturais e raciais". Num tom mais inflamado, o diplomata prosseguiu: "Repudiamos a insensatez daqueles que proclamam, em afronta à consciência universal, que a paz deve ser encontrada e construída na base da força." E rematou: "As vigas mestras do direito internacional estão abaladas como abalados estão os alicerces do mundo livre." Apesar das críticas implícitas ao apoio do Governo português à intervenção bélica no Iraque, vindas sobretudo de Ana Gomes, o representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Silveira Carvalho, optou por saudar a memória de Vieira de Mello e destacar o seu "empenho no reforço de cooperação" entre os países lusófonos. "O Governo tem uma profunda gratidão e orgulho pelo legado de Sérgio Vieira de Mello ao serviço da paz", concluiu.
Por MARIA JOSÉ OLIVEIRA in PÚBLICO, 8 de Outubro de 2003
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