No Brasil o apagão é progressivo. Não é um evento isolado, identificado e superado, mas mantido, custeado pela ingerência e pelo descompromisso de nossos governantes. Algo vergonhoso e escabroso, impensável em um país um pouquinho mais sério.
Com milhões de testemunhas e vítimas espalhadas por 18 estados bem mais que a metade de todo o país - o blecaute moral que se abateu sobre o Planalto Central assombra nossas consciências. À meia luz da vela, aquela que o vento da história insiste em apagar, os outrora radiantes gestores se escondem e esquivam-se da natural responsabilidade. Habilidade para desviar do foco eles têm, para subir no pódio também. Só sabem fazer isso, animar a platéia. E, ao primeiro sinal de um blecautizinho qualquer, se escondem, assumindo em plena luz do dia o tamanho de sua competência, responsabilidade e comprometimento.
É a mesma ideologia de Sérgio Naya, o vendedor do sonho da casa própria, o construtor de castelos de areia. Isso tudo é o Brasil, a mais pura e real paródia de nossa tosca vida diária, que não suporta uma tempestade sequer, um vendaval banal, um raiozinho gaiato que fez barulho e não caiu.
Estamos nas mãos de pessoas como essas, que encobrem fatos, distorcem dados e aprisionam a verdade. Até hoje, não temos uma justificativa clara do que realmente acometeu o Brasil e o levou a uma escuridão total. Segundo dizem, para nossa vergonha maior, um raio parou o Brasil! Como pode? Bem que ele poderia ter caído em outro lugar, com toda certeza, faria menos estragos e diminuiria, em muito, nossos prejuízos.
Atingindo os estados mais industrializados da federação, a parte mais rica da população, ainda assim o apagão é um mistério, uma incógnita. Imagino se ele estivesse restrito aos estados do norte e nordeste. Na justificativa do injustificável, dentro de nossa primaria filosofia tupiniquim, por certo a culpa seria dos índios kaiapós, que fizeram de uma torre de transmissão o tiro ao alvo de suas flechas.
Em um governo o problema é na geração de energia. No outro, a transmissão de energia. Em todos, o continuísmo da incompetência e ingerência marcando o nosso dia a dia. Depois das tempestades, vem a herança de um país de quase nenhuma bonança.
Maior que o apagão covarde do silêncio, é o assunto encerrado antes de descobrir suas causas e conseqüências, antes de identificar, apontar e corrigir o problema. Tudo isso, resquício de um país que viveu sobre o apagão total das idéias, girando qual inseto ao redor da meia luz, na falta maior de um sol. Eram tempos obscuros, quando chefes da casa civil duelavam contra marimbondos de fogo, terroristas, sociólogos e lobos.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritorSubscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter