Em nosso país não existem mais partidos, não existem mais bandeiras... dentro do cidadão, do eleitor, flamula apenas a herege certeza do toma-lá-dá-cá. Falta partido, falta convicção, e sobra a certeza de que tudo, em todo solo pátrio, tornou-se uma coisa só, uma política sitiada pelo interesse privado, pessoal, em detrimento do coletivo.
É uma nova ditadura às avessas, calada, silenciada e compartilhada Brasil afora. Já não precisam mais de armas. Agora, apenas de malas. Malas pujantes e pesadas, cheias de cartas marcadas. Algumas, decoradas com detalhados dossiês.
O que fizeram com a nossa insossa democracia? O que fizeram com o campo das idéias? Tudo, dominado, aparelhado, nos cabendo apenas endossar o que foi tramado na mais fria e alta noite. Lamentamos sozinhos, aqui e ali, o que se tornou esse país tão desigual e tão plural. Como em todo regime de exceção, o diferente é sempre ignorado, legado ao esquecimento coletivo, subordinado ao interesse privado. Não é assim que se compõe uma grande nação.
Do norte, com seus anos de discriminação racial e preconceito social, chega alvissareiro o brado negro de Obama contra a fala educada da menina rica e ex-primeira-dama. Todos, buscando levar ao povo as suas idéias, os seus sonhos, o seu programa de governo; humildemente. Tudo debatido, polemizado, democraticamente exposto e compartilhado.
Não valemos apenas para atestar o que já foi acertado. Valemos para colocar idéias, reivindicações, apresentar projetos e apontar soluções. Valemos pelo que buscamos, pelo que queremos, pelo que somos e pelo o que sonhamos. A vida não está terminada. Uma eleição não inicia finalizada. Ela é, sobretudo, um tempo de discussões, de contato com o povo, da vida repartida nas esquinas de cada cidade, um tempo de aprendizado.
Ao que vemos, partilhamos uma nação desalmada, um povo descrente, sem esperança no futuro, sem rumo.
Não há no que acreditar e, por isso, não há por que protestar. Vamos assim tocados para aqui e para ali como gado, cumprindo, em pleno campo aberto, a triste sina de ser domado, votando no número marcado e seguindo, sempre, o caminho demarcado por nossos detratores.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
http://petroniosouzagoncalves.blogspot.com
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