O presidente do Senado disse que estaria assumindo ser culpado, por isso não pedirá licença. Em tensa sessão, senadores da ala governista e da oposição iniciaram ontem um novo movimento para tentar convencer o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a licenciar-se do cargo até que seja absolvido de todas as denúncias que enfrenta. Exigiram que o colega deixasse a presidência a fim de preservar a já prejudicada imagem da instituição e as suas próprias reputações nos Estados. Ameaçaram novamente paralisar os trabalhos da Casa, segundo a Gazeta Mercantil.
Renan rebateu a acusação de que teria mandado espionar os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO). Informou que abrirá uma sindicância interna e manterá afastado até a conclusão da investigação o ex-senador Francisco Escórcio, seu assessor que teria tentado operar o esquema de arapongagem. Os demais senadores consideraram a medida insuficiente. Renan argumentou então que, como ele próprio não queria ser alvo de prejulgamentos, não exoneraria de forma sumária o auxiliar.
O senador voltou a ressaltar que não pedirá licença, pois assim estaria assumindo ser culpado. "Não tenho o direito de recuar. Tenho um mandato a cumprir", declarou Renan. "Vou até o limite das minhas forças para defender a minha honra, para provar a verdade, para dizer aos meus eleitores, aos meus amigos e a minha família que sou um homem digno e continuo à altura do mandato que me foi conferido pelo povo de Alagoas".
Parlamentares influentes de PSDB, DEM, PT, PDT, PSB e PMDB decidiram ontem esperar até o dia 2 para que o Conselho de Ética do Senado julgue as duas representações contra Renan que já contam com relator. A primeira refere-se à denúncia de que o presidente do Senado teria tentado beneficiar a cervejaria Schincariol. A outra é sobre o envolvimento do presidente do Senado em suposto esquema de desvio de recursos públicos de ministérios controlados pelo PMDB. Se o prazo - estipulado pelos integrantes do conselho - não for cumprido, o grupo paralisará os trabalhos do plenário e comissões da Casa.
O grupo de senadores acusa Renan de usar o poder de presidente da Casa para adiar o julgamento. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), foi a porta-voz da preocupação governista com a possibilidade de não serem votadas matérias de interesse do Executivo, como a proposta de emenda constitucional que prorroga até 2011 a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). "Há um sentimento crescente para um melhor andamento dos trabalhos. Quero dizer que a normalidade desta Casa pressupõe que as representações andem", ressaltou a petista. "Esta Casa precisa andar".
Impassível, Renan ouviu a maior parte dos ataques dos colegas sem reagir. O clima da sessão ficou tenso quando alguns senadores apartearam o discurso de defesa de Renan. O presidente do Senado disse que não queria transformar seu pronunciamento em debate, mas não conseguiu evitar o constrangimento. Cortou a palavra de Aloizio Mercadante e abandonou a tribuna (PT-SP) quando este pediu seu afastamento.
Em seguida, fez o mesmo com o senador Demóstenes Torres, líder da minoria na Casa. Durante o seu discurso, o parlamentar goiano pediu para a assessoria técnica da Casa reproduzir uma gravação que supostamente comprovaria a tentativa de Escórcio montar um esquema de espionagem. O senador Valter Pereira (PMDB-MS) saiu em defesa do correligionário. "Senador Demóstenes Torres, depois de ouvir essa gravação, cabe uma pergunta: onde estamos? No Senado Federal ou em uma delegacia de polícia?"
Renan aproveitou a deixa para culpar Torres pela crise: "É isso o que vossa excelência quer fazer com o Senado brasileiro?", perguntou o presidente da Casa durante a ríspida discussão com o senador do Democratas. "Não. É o que vossa excelência fez com o Senado", respondeu Demóstenes Torres.
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