Opinião: O fiasco do Governo Lula

Com as eleições se aproximando, e tudo indicando que o atual presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, assumirá seu segundo mandato, seria interessante fazer um rápido balanço econômico de seu governo, comparando-o com a Argentina.

Antes de assumir a presidência, em 2003, Lula prometia aos brasileiros o “espetáculo do crescimento”, que geraria empregos e melhoraria o nível de vida da população. Naquele ano, o crescimento do PIB foi de apenas 0,5%, mas não foi culpa do governo Lula, mas sim dos choques que o país passou em 2001 e 2002, a crise da Argentina (principal parceiro comercial do Brasil) e a situação externa pouco favorável.

Em 2004, aparentemente a promessa de Lula estava começando a se cumprir: cresceu 5,2%, uma taxa bastante boa, embora longe do ideal para um país em desenvolvimento e com muita miséria e desemprego. Mas, longe de ser o início do “espetáculo do crescimento”, 2004 foi o fim: em 2005, a economia cresceu ínfimos 2%, e para este ano a previsão é igual.

Para se ter uma idéia, em 2005 os Estados Unidos cresceram 3,2%, sendo a maior economia do planeta (desconsiderando a União Européia). A do Brasil, que tem muito mais espaço e necessidade de crescimento, aumentou menos. Um crescimento de 2% é incapaz de gerar postos de trabalhos aos desempregados existentes e a todos os que ingressam no mercado a cada ano.

Quando se compara o crescimento econômico do Brasil com outros países em desenvolvimento, vê-se que de maneira alguma existe um “espetáculo de crescimento”: a Rússia cresce entre 7 a 8% todos os anos, a Argentina entre 8 a 9%.

Muitos no Brasil ignoram a realidade do seu principal parceiro comercial: ainda imaginam a Argentina em 2001, um país quebrado, desindustrializado, com taxas aberrantes de desemprego, e economia em queda. A verdade, porém, é que a Argentina passou por uma crise terrível, mas está se recuperando fortemente desde 2003. O Brasil passou por rpoblemas de menor intensidade em 2001-2002, mas não se recupera: está completamente estagnado há muitos anos.

Onde foi que Lula errou, e Kirchner (presidente da Argentina) acertou? Na política monetária e industrial. Lula seguiu os passos do governo de Fernando Henrique Cardoso: um medo mórbido e irracional à inflação, taxas de juros exorbitantes, salários deprimidos, prioridade ao sistema financeiro em detrimento do produtivo, benefícios desmesurados às empresas de serviços públicos. Os resultados são:

1- A economia não cresce e não gera mais postos de trabalhos, porque devido à taxa absurda de juros é muito mais lucrativo emprestar dinheiro (principalmente ao estado) que produzir ou prestar serviços;

2- Por temor a uma inflação gerada por consumo (algo impossível, com um salário mínimo de 350 reais), a grande maioria da população tem um poder aquisitivo baixíssimo, inclusive a classe média, e os salários são propositalmente mantidos baixos;

3- Para poder continuar pagando a dívida pública sem renegociá-la, o Brasil tem a maior carga tributária do continente americano, superando inclusive o Canadá, principal estado de bem-estar social da região. Com a diferença que os serviços sociais no Brasil são incomparavelmente inferiores aos do Canadá, e piores até do que os da Argentina;

4- Empresas de serviços públicos (telecomunicações, eletricidade, combustíveis) podem aumentar abusivamente seus preços, todos os anos. A Petrobrás vende petróleo extraído no Brasil ao preço do mercado internacional. Nem a Argentina nem a Rússia fazem isso, pois o alto custo da energia se traslada a toda a economia e impede o crescimento;

5- O estado praticamente não investe em infra-estrutura, tornando mais difícil até mesmo o crescimento futuro da economia;

6- O único setor produtivo que cresce é o que exporta. Embora gere empregos, a produção não é destinada à população, e quem mais ganha são os donos das empresas, que têm custos em reais e ingressos em dólares.

Na Argentina, por outro lado, as taxas de juros estão abaixo da inflação: vale mais gastar o dinheiro em consumo ou investi-lo em produção, que deixá-lo em um banco. Os salários são propositalmente altos: o mínimo é de 800 pesos, quase 800 reais.

Há um forte imposto às exportações, que permite ao estado ter um superávit recorde. A moratória declarada à dívida externa fez com que o país pudesse renegociá-la vantajosamente, economizando bilhões de dólares. A economia cresce fortemente, gerando postos de trabalhos bem remunerados e aumentando o consumo interno e o nível de vida da população. Os serviços públicos não aumentam seus preços desde 2001, sendo muito mais baratos do que no Brasil. As empresas e capitais estrangeiros, que fugiram do país por causa da crise e da moratória de dívida, agora voltam, atraídos pelo notável crescimento econômico.

Obviamente, na Argentina há uma inflação maior do que no Brasil, por volta de 11% ao ano, devido aos salários e consumos altos; mas é um efeito colateral aceitável, quando se compara ao crescimento econômico, geração de postos de trabalho, e aumento do nível de vida e do poder aquisitivo. Não é de surpreender que muitos argentinos, que residiam no Brasil, nos últimos 3 anos estão voltando a seu país natal.

O erro de Lula é que não superou ainda a visão monetarista do “Consenso de Washington”, proposto como solução à América Latina no final dos anos 80. Este consenso, apoiado pelo Fundo Monetário Internacional, prega gastos estatais mínimos, pouca emissão de moeda, controle da inflação pela taxa de juros, pagamento incondicional da dívida externa, e deixar todo o setor produtivo e de infra-estrutura nas mãos do mercado. Discursando na Assembléia Geral da ONU, nessa semana, o presidente argentino Néstor Kirchner fez uma observação muito justa: disse que a Argentina cresce porque optou pelo crescimento, e teve sucesso não graças ao FMI, mas porque muitas vezes se opôs ao FMI (ou seja, às políticas monetaristas em geral).

Lula provavelmente ganhará as eleições. Se Geraldo Alckmin vencer, não fará muita diferença: as propostas econômicas de ambos são iguais. No Brasil, não há uma proposta equilibrada de crescimento e aumento do poder aquisitivo, a não ser por parte da esquerda mais radical. Infelizmente, no Brasil não há um político com propostas semelhantes à de Kirchner ou Putin, com coragem de tomar o caminho do crescimento sem necessidade de um conflito direto com o mercado internacional. Era Lula quem propunha isso, e quem não cumpriu. Aparentemente, não há muita esperança de que o Brasil possa, num futuro próximo, realizar todo o seu incomensurável potencial.

Carlo MOIANA
Pravda.ru

Buenos Aires

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