O caçador de Marajá não prospera na China

O Brasil, desde a “Carta de Cabral” é considerado o paraíso, onde se plantar tudo vicejará. Nestes 522 anos de existência colonial, poucos momentos foram dedicados ao desenvolvimento do País. São as exceções, quase sempre terminadas em tragédias: o suicídio de Vargas, o golpe em Jango e, ainda maior, em Brizola, e, mais recentemente, com a suabilíssima incorporação dos desprovidos na cidadania brasileira, valendo a Lula 580 dias de prisão.

Mas o candidato a posto eletivo se apresente como não político, ganha com isso credibilidade e inimagináveis razões.


O Papa Francisco, recentemente, classificou a política como a ação mais nobre do ser humano. Tudo que acontece de bem e de mal numa sociedade se deve à orientação política. Porque a política é a ciência social por excelência, que estuda a sociedade sob a ótica do poder e da administração, e das teorias que os sustentam e organizam.


Fracassos são encobertos pela corrupção, ou por ações irregulares, quando, na efetividade, são fruto de não se percorrer todo currículo da política. E, ainda pior, fazer da ignorância um trunfo, como se viu no bolsonarismo, a última criação neoliberal, neopentecostal, colonizadora.


O modelo chinês de administração do Estado se entremeia com o Partido Comunista Chinês (PCCh). É um modelo bastante democrático, se nos despirmos da colonização europeia, pois toda estrutura e as decisões da administração de Estado são colocadas sempre à aprovação da sociedade.


A República Popular da China (RPCh) construiu um sistema participativo que dá aos cidadãos a capacidade decisória adequada à sua vivência e experiência. Não faz do voto um ritual, periódico, sem que os participantes tenham conhecimento do que estão escolhendo.


Veja no caso brasileiro. Você, caro leitor, sabe o que diferencia o candidato do Partido Social Cristão (PSC), do candidato do Partido Social Democrático (PSD), ou dos Progressistas (PP), dos Patriotas, do Podemos, do Novo ou dos Republicanos ou Liberais? Certamente que não. São partidos criados para manter, a sua custa, ou seja, dos impostos que você paga, um grupo de pessoas, famílias, que cuidam apenas e estritamente de seus interesses, ignorando, a não ser por medidas demagógicas e de duração limitada, as necessidades do povo.


No Partido único chinês convivem meia dúzia de perspectivas, pois a realidade política e social não acolhe muito mais, de caminhos que são discutidos, desde o mais estreito conselho, que, no caso brasileiro, seria de um bairro ou um distrito, até a Assembleia Nacional.


Vejamos o exemplo do atual dirigente máximo Xi Jin Ping.


Após concluir a Universidade, Xi Jin Ping concorreu e foi eleito para conselhos de províncias costeiras da China. Sua primeira experiência político-administrativa foi a de secretário de aldeia, sendo eleito para o comitê das províncias após ter governado regiões, inclusive duas províncias, que totalizam 115 milhões de pessoas, com Produto Interno Bruto (PIB) de 1,5 trilhão de dólares (quase como governar o Brasil). Nesta carreira ele levou 30 anos.


Os melhores alunos das universidades chinesas costumam ser recrutados para o Partido e começam pelo nível mais baixo na hierarquia. Ao chegar ao Comitê Central do Partido, pertence à elite dirigente de apenas 360 pessoas, sempre pelo processo eletivo das Assembleias. São efetivas lideranças, aqueles reconhecidos pelos pares, originados de todas os comitês provinciais.


Se o Partido Comunista da China fosse um país seria o 16º país mais populoso do mundo, com seus 96.700.000 membros.


É impossível um “caçador de marajás”, dizendo-se apolítico, ou um ministro, sem ter a experiência eleitoral, ou um deputado sem ter vivido problemas administrativos, chegar a direção de uma província, o que dizer do País de 1,412 bilhão de habitantes.


Desde os níveis de base, nos quais há eleições diretas, aos níveis mais altos que incorporam consultas de todos os setores da sociedade, a China criou novo sistema para representar e responder às demandas da população. A democracia ocidental não é o único caminho e, de fato, a China criou, com sucesso, seu próprio sistema, adequado à realidade da cultura e recursos do povo chinês, que não é perfeito nem é o modelo a ser imposto a outros países, mas é uma demonstração de que existem alternativas ao que nos impõem as colonizações europeias e financeiras, e que estas podem ser bem melhor sucedidas.

Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás – AEPET.

 

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