Reconstrução do Iraque Há Um Ano da Vitória sobre Estado Islamita

Reconstrução do Iraque Há Um Ano da Vitória sobre Estado Islamita

Entrevista com Norwegian Refugee Council 

Edu Montesanti

O Iraque, que nos anos de Saddam Hussein (1979-2003) viveu grande período de prosperidade e estabilidade social, então reconhecido pela ONU como um dos países árabes que mais respeitavam a diversidade religiosa, tem sido atualmente uma das nações mais devastadas do mundo desde a Guerra do Golfo de 1991, seguida do criminoso embargo econômico imposto pelos Estados Unidos que perdurou por todos os anos de 1990, assassinando mais de 200 mil criancas entre outras catástrofes, e da segunda invasão e ocupação estadunidense em 2003 - além de baseada em comprovadas mentiras, deu-se sem mandato da ONU, contra todas as leis internacionais (a começar pela Carta da ONU, capítulo VII, ratificada pelos próprios EUA) e contra a própria Constituição norte-americana, enquanto guerra de agressão. 

Se não bastasse isso tudo, o Iraque passou a enfrentar, justamente apos a segunda invasão dos que lhe prometiam liberdade e segurança, ataques de grupos terroristas que jamais haviam atacado antes: Al-Qaeda e, com poder ainda mais destrutivo, Estado Islamita por quase quatro anos, de 2014 a 2017. Ambas as organizações, formadas e financiadas exatamente pelo regime de Washington para, em busca de interesses estratégicos e econômicos, desestabilizar e dividir o Oriente Médio, região mais rica em petróleo do planeta. 

Tom Peyre-Costa, assessor de imprensa e ativista humanitário do Conselho Norueguês de Refugiados (Norwegian Refuegee Council, NRC), detalha na entrevista a seguir o trabalho de sua organização especificamente no Iraque, e comenta os desafios do país árabe para sair de um atoleiro que parece sem fim - o que, historicamente, o regime estadunidense melhor sabe fazer em terras alheias. No caso particular no Iraque, apenas de 2003 para cá quase dois milhões de iraquianos foram mortos por causas relacionadas a terrorismo e pela guerra dos Estados Unidos.

"Os iraquianos sofreram as atrocidades mais terríveis do EI, e agora sofrem com a falta de apoio internacional", lamenta Peyre quem reconhece o esforço do governo iraquiano, ao mesmo tempo que pontua deficiências e descaso de Bagdá em determindos aspectos, nesta fase de tentativa de reconstrução iraquiana.

O NRC faz-se presente hoje em 31 países: Camarões, República Centro-Africana, Djibuti, Repúbica Democrática do Congo, Eritréia, Etiópia, Quênia, Mali e Burkina Faso, Nigéria, Somália, Sudão do Sul, Tanzânia, Uganda, Iêmen, Colômbia, Honduras, Afeganistão, Irã, Myanmar, Grécia, Ucrânia, Iraque, Jordânia, Líbano, Palestina, Síria, Turquia, Noruega, Suíça, EUA e Reino Unido.

ONG sem fins lucrativos, o grupo humanitário nórdico é financiado por doadores voluntários - os principais: Norwegian Ministry of Foreign AffairsEuropean CommissionUN Refugee Agency, UKAID, e Swedish International Development Cooperation Agency.

Abaixo, a íntegra da entrevista. Depois dela, notas resumindo algumas "curiosidades" das "intervenções humanitárias" dos Estados Unidos no Iraque, que resultaram no profundo caos de hoje e sem as quais, colocadas em seu devido contexto, é impossivel tentar tirar o povo iraquiano do atoleiro em que se encontra. O que a grande mídia de emburrecimento das massas jamais relata.


Edu Montesanti: Especifique como trabalham, exatamente, os 900 especialistas do NRC espalhados em 200 missões ao redor do mundo.

Tom Peyre-Costa:
 Nossos especialistas atuam nas várias competências essenciais do NRC: administração de acampamento, assistência alimentar, água potável, abrigo, assistência jurídica e educação. 


O NRC enfrenta situações perigosas nos países onde atua?

Dada a atual agitação em estados afetados por conflitos como a República Centro-Africana, o Sudão do Sul e a Síria, algum nível de exposição a riscos é inevitável e pode até ser necessário para que o trabalho seja feito. 

Mas o imperativo que conduz os agentes humanitários é ajudar as pessoas necessitadas.


O Iraque é um caso bstante particular, país destroçado que, até dezembro do ano passado, sofria com os ataques do Estado Islamita (EI) por todo o territó rio nacional, além de ainda trazer as gravíssimas consequências da invasão e ocupação dos Estados Unidos, em 2003, apresentando também risco consideravel ao NRC, correto?

No Iraque, a guerra contra o EI pode ter acabado, mas ainda há numerosos ataques do grupo no país que ainda crescem na província de Kirkuk, por exemplo. 

No NRC, temos pessoal profissional dedicado à segurança para mitigar os riscos, tanto quanto possível, mas nunca será reduzido a zero. 


Sobre riscos, você tem alguma história pessoal para contar?

Tenho a sorte de nunca ter passado por uma situação difícil. 

Pelo que me lembro, a situação mais recente foi a gravação de vídeos em Sinjar quando havia tiroteios esporádicos na área. Mas isso é comum no Iraque e pode ser por vários motivos: celebrações, intimidações, protestos etc.


Sinjar parece um caso singular no Iraque, Tom, de acordo com sua experiência no país. "Ao contrário de outras partes do Iraque, a reconstrução nunca foi iniciada", você escreveu em novembro, refernido-se exatamente a Sinjar. 

Explique o cenário nesta província iraquiana.


Sinjar é singular por sua recente história, e pelo genocídio perpetrado contra os yazidis. E como eu disse, a reconstrução nem sequer começou três anos depois [do início dos ataques do EI]. Mais de 200 mil pessoas, a maioria yazidis, permanecem deslocadas no norte do Iraque e no exterior, sem casa para onde possam retornar. 

Aqueles que decidiram voltar, não têm as coisas mais básicas para viver, como água. A maioria dos moradores de Sinjar ainda está deslocada em acampamentos, e não pode voltar por causa dessa situação. 


Quanto a corrupção política exerce influência sobre esta situação envolvendo os yazidis, e quais os grandes desafos do governo iraquiano para superar esta situação?

Não posso especular sobre corrupção e influências políticas, o que posso dizer é que é essencial que o governo local e a comunidade internacional entendam a extensão das necessidades e façam mais para responder a elas. 

O governo iraquiano deve superar as divisões religiosas, sectárias, muitas das quais se ampliaram durante o recente conflito [com o EI], especialmente quando se trata de fornecer ajuda à sua própria população.


Comente a atuação do NRC entre os yazidis, em Sinjar.

O que o NRC faz nos campos de Sinjar e Yazidi, é o seguinte:

1. Estamos presentes tanto no territorio de Sinjar, quanto nos acampamentos;

2. Apoiamos as crianças yazidis nos campos a fim de que lidem com seus traumas e sofrimentos psicológicos, por meio de atividades educacionais e recreativas;

3. Nos campos de desalojamento e desde recentemente em Sinjar, apoiamos as famílias na recuperação de documentos essenciais tais como Carteira de identidade e títulos de propriedade, essenciais para que possam reconstruir suas casas. Também apoiamos os jovens com formação profissional;

4. Através do nosso centro comunitário em Sinjar, facilitamos e coordenamos uma resposta humanitária abrangente entre as organizações de parceiros humanitários e as comunidades, a fim de garantir que as necessidades urgentes sejam atendidas.


Enquanto oito milhões de pessoas no Iraque ainda carecem de ajuda humanitária, segundo estimativas do NRC, quanto os governos locais e estrangeiros, especialmente a coalizão liderada pelos EUA que, ilegalmente contra a ONU e todas as leis internacionais, invadiu e ocupou o país em 2003, devem ser responsabilizados e por que exatamente?

A comunidade internacional deve investir tanto na reconstrução do Iraque quanto nas operações militares contra o grupo do EI. Os iraquianos deslocados sentem-se abandonados um ano após a anunciada derrota do EI. 

Há, ainda, uma necessidade imediata de limpar e reconstruir casas, escolas e hospitais para permitir que pessoas voltem para casa. A reconstrução está além da capacidade do que o governo iraquiano possa, sozinho, fazer. As necessidades são imensas.

Nós falamos sobre cidades inteiras e aldeias destruídas. 88 bilhões de dólares são necessários apenas para a reconstrução da infraestrutura básica. O conflito envolveu muitos atores da comunidade internacional, então o apoio é uma responsabilidade coletiva. Esta é a chave para um futuro sustentável.

O governo iraquiano fez muito para facilitar a prestação de assistência aos iraquianos necessitados. No entanto, muito mais precisa ser feito. É imperativo que o governo iraquiano garanta a assistência necessária para recuperar os documentos essenciais, com retorno para casa com segurança, enfim, reconstruir a vida das pessoas. Isso significa que eles precisam facilitar e agilizar o processo para que eles façam isso.


Quais as principais necessidades da população?

Até o momento, 3,9 milhões de pessoas voltaram para casa e cerca de 1,9 milhão permanecem deslocadas em 1,4 milhão de acampamentos, principalmente nas províncias de Ninewa e Anbar. Em 2018, espera-se que mais de oito milhões de pessoas no Iraque precisem de ajuda humanitária, de acordo com o mais recente Plano de Resposta Humanitária (Humanitarian Response Plan).

Enquanto a luta em Mosul e outras áreas, anteriormente nas mãos do Estado islamita, praticamente cessou em 2017, as necessidades humanitárias são imensas. Pessoas deslocadas, particularmente em acampamentos, precisam de serviços de água e de saneamento, além de assistência médica. 

3,2 crianças perderam vários anos de escola devido ao conflito. Elas precisam de aulas e apoio psicossocial para poder lidar com os traumas pessoais. Centenas de escolas em todo o país precisam ser reconstruídas, precisam de livros, carteiras, artigos de papelaria e, acima de tudo, professores.


Qual tem sido a resposta oficial a essas pessoas, e como esses oficiais do governo podem ou devem melhor agir em cima dos pontos especificados acima?

Há uma necessidade urgente de se apoiar os esforços de reconstrução e reconciliação no país, que devem ser prioridade para todos. Os iraquianos que tiveram casas ou propriedades destruídas pelos combates, devem ser compensados pelas perdas. Este é um passo concreto que o governo iraquiano pode dar para ajudar as famílias se reconstruir.

Esforços de reconciliação nacional e local, apoiados pela comunidade internacional, também são necessários para ajudar a enfrentar as tensões comunitárias e tribais, ampliadas pelo conflito com o EI.

Finalmente, precisamos ver o fim da punição coletiva de famílias associadas ao EI. Um grande número destas, são chefiados por mulheres e crianças que não cometeram crimes, mas são tratados como culpados por associação e, portanto, impedidos de regressar a suas casas, incapazes de deixar os campos ou de se deslocar pelo país.


Essa discriminação contra familaires de terroristas ou ex-terroristas mortos, é generalizada no Iraque?

Nao, essa situação não é generalizada, mas há muitos casos relatados neste sentido. Precisamos ver o governo se concentrar em acusações criminais individuais, em vez de punir famílias inteiras, crianças e viúvas, por crime que muitas vezes não cometeram. 

Confiamos que o governo, em conjunto com as autoridades locais, apoiará os esforços de reconciliação em todos os níveis para evitar a punição coletiva, e encontre soluções duradouras para as famílias que não puderem retornar ao enfrentarem vingança ou exclusão da comunidade.


Como está o estado de espírito dos deslocados iraquianos? 

Apesar da considerável diminuição da violência, os movimentos de retorno estão diminuindo. A maioria dos iraquianos deslocados remanescentes não está disposta ou não pode voltar para casa no próximo ano, já que não tem para onde voltar ou não podem sair do acampamento. 

Os iraquianos deslocados sentem-se abandonados pelo governo e pela comunidade internacional. A maioria deles perdeu a esperança.


Alguns temem que o EI possa ressurgir no país, enquanto os terroristas permanecem no norte do Iraque e na fronteira com a Síria. Você tem receio disso, também?

Esperamos que isso nunca aconteça. Os iraquianos sofreram as atrocidades mais terríveis do EI, e agora sofrem com a falta de apoio internacional. Precisamos ter certeza de que a comunidade internacional não os esquecerá. 

Mais apoio permitirá que as pessoas deslocadas retornem. Mais apoio garantirá sustentabilidade e inclusão. Esta é a melhor maneira de se evitar que tal catástrofe aconteça novamente.


Você alegou, ao longo desta entrevista, que os iraquianos sofrem diante da falta de apoio internacional. Não será porque invasões e guerras sejam bem mais lucrativas que a reconstrucao de uma nação?

Não é rentável para os 1,8 milhões de iraquianos ainda deslocados e para os retornados que ainda vivem em situação difícil. Muitos doadores estão afastando a cabeça do Iraque, mas as necessidades ainda estão lá. 

As necessidades de reconstruir, estabilizar e conciliar a sociedade. Não é hora de abandonar os iraquianos.

 

"Humanitarismo" Made in USA no Iraque: "Curiosidades"

● Confirmando diversas inspeções da ONU prévias a invasão norte-americana de 2003, nunca foram encontradas no Iraque as tais bombas de destruição em massa que serviram como justificativa para a "Operação Liberdade do Iraque", nem nunca houve nenhum minimo vestigio de ligacao entre Saaddam Hussein e a Al-Qaeda, muito menos no que diz respeito a uma conspiracao nos atentados de 11 de setembro de 2001 conforme jurava, sem nenhuma investigação nem apresentação de provas, o regime de Bush filho;

● ABC News a Bush, em 2008, último ano de Bush na Casa Branca: - A Al-Qaeda só entrou e passou a agir no Iraque após a invasão norte-americana ao Afeganistão, e ao próprio Iraque em 2003.

Resposta de Bush: - E daí?

ABC News ao vice de Bush, Dick Cheney, no mesmo ano: 70% dos cidadãos norte-americanos aprovam retirada imediata das tropas dos Estados Unidos do Iraque.

Resposta de Cheney: - E daí?

 

● Em 2004, foi revelado o Grupo de Operações Preventivas e Pró-Ativas (P2OG, na sigla em inglês), através do qual Donald Rumsfeld coordenou com a CIA atividades no Iraque a fim de provocar reações violentas e, assim, justificar mais intervenção militar no Iraque. Seguindo perfeitamente a linha midiática na cobertura da "Guerra ao Terror", o P2OG foi completamente ignorado pela imprensa predominante mundial;

 

● Ainda em 2004, veio a publico as torturas por militares norte-americanos na cadeia iraquiana de Abu Ghraib que escandalizaram o mundo, mas logo a grande midia jogou no esquecimento. A revista alema Der Spiegel trouxe reportagem, em sua versao impressa, com o titulo Guerra Particular as Custas do Estado: soldados estadunidenses divertiam-se eletrocutando, abusando sexualmente, puxando por coleiras, atacando com caes ferozes prisioneiros de guerra que, mais tarde seria comprovado, 80% nao possuiam nenhum envolvimento com atos de terrorismo. Tambem seria comprovado que o entao secretario de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, era o mandante dos crimes de guerra. 

 

● Em agosto de 2003, foi morto no Hotel Canal na capital iraquiana de Bagdá o diplomata brasileiro da ONU, Sérgio Vieira de Mello, em circunstâncias bastante obscuras. Viera de Mello, representante especial da ONU no Iraque, o brasileiro era muito bem visto entre os iraquianos, tendo uma de suas vozes oficiais afirmado que sem ele seria impossível a reconstrução do país, e opôs-se desde o início à invasão norte-americana ao país, considerando-a ilegal assim como o órgão que representa.

"Já que houve a ocupação, que dure o menor tempo possível", disse Vieira, explicando ainda que o governo de Washington aplicou de maneira distorcida a resolução 1483 a qual tirou a soberania do Iraque. "Ao invés de retirar a soberania e entregar à ONU, os EUA aplicaram-na a si mesmos". Sua esposa explicaria, entre mistérios jamais revelados sobre sua morte, que a relação do diplomata com o estadunidense Paul Bremen, chefe da Coalizão, estava se esfriando rapidamente;

 

● Já nas primeiras semanas pós-invasão, terceirizada por Washington, foram feitos contratos privados durante a dita "reconstrução" do Iraque, o que viola a convenção internacional que governa a conduta das forças ocupantes, a Convenção de Haia de 1907, e até mesmo o código de ética do exército norte-americano. 

As regras de Haia afirmam que "uma potência ocupante deve respeitar as leis vigentes no país". A Autoridade Prisional da Coalizão, todavia, destruiu esta simples norma e também a Constituição do Iraque, que proíbe a privatização de importantes bens do Estado, ou a possessão de empresas locais por parte de estrangeiros. 

Em menos de três meses de guerra, porém, a administração da Coalizão liderada pelo norte-americano e ex-embaixador Paul Bremer acabou com esses dispositivos e, finalmente, em 19 de setembro de 2003, Bremer colocou em vigência a Ordem 39, que autorizou a privatização de 200 empresas estatais, além do decreto que prevê que empresas estrangeiras podem apropriar-se de 100% dos bancos, minas e fábricas, permitindo-lhes levar 100% de seus ganhos. 

Houve alerta do Procurador Geral da Grã-Bretanha, Peter Goldsmith, em memorando de 26 de março de 2003, no qual dizia que "a imposição de reformas estruturais não está autorizada pela lei internacional", mas tal documento, no entanto, foi completamente ignorado pelas forças de ocupação. 

Ainda que a venda do Iraque tivesse sido levada à cabo com transparência e em licitações abertas, seguiria sendo ilegal pela simples razão que o país não pertence aos Estados Unidos, pelo contrário, é um país soberano. 

Segundo vários especialistas em legislação internacional, isso significa que se qualquer governo decidir nacionalizar novamente os bens privatizados pelos ocupantes, terá poderosos argumentos legais para isso (mas pelo que a história da política opressora norte-americana nos mostra, se isso ocorrer certamente os EUA, alegando provavelmente "prédicas comunistas de nacionalização", declararão a Terceira Guerra do Golfo com aumento ainda maior de forças militares no Iraque);

 

● Em 1990, Saddam Hussein exigiu do vizinho Kuwait determinadas terras na região dos portos de Bubyian e Uarba, historicamente pertencentes ao Iraque, cuja anexação levaria este país a possuir a maior reserva petrolífera do mundo. A Casa Branca manifestou-se logo, dizendo que se tratava de assunto interno entre os dois países, garantindo ainda, diretamente ao ditador iraquiano, que não interferiria na questão, cujo encontro possui transcrição publicada. 

Em 25 de julho de 1990, a embaixadora estadunidense no Iraque, April Glapsie, falou pessoalmente com Hussein, instruida pelo presidente Bush pai: "Não temos opiniao formada em relação a conflitos entre arabes e arabes, como no caso de sua divergência de fronteira com o Kuwait (...), vemos o ponto de vista do Iraque, que as medidas adotadas pelos Emirados Arabes Unidos e pelo Kuwait são, em última análise, paralelas as agressões militares contra o Iraque. Tenho instrução direta do presidente para buscar relações com o Iraque".

Porém, quando o conflito árabe se iniciou, a administração de Bush pai endureceu o discurso contra aquele que, desde o fim da década anterior até o aquele momento, recebia apoio direto de Washington: de uma hora para outra, acusado de terrorista por colocar a humanidade em risco, com as mesmas armas químicas fornecidas pelos EUA na peoca da Guerra Irã-Iraque. Assim, iniciou-se em 1991 a curta e devastadora Guerra do Golfo, que deixou o Iraque arrasado mas não derrubou Hussein (fato "curioso" que obrigou os EUA a prolongar sua "política" autodenominada "humanitária" no Oriente Médio);

 

● Em 30 de janeiro de 1991, observou Gregg Easterbrook, especialista em assuntos externos dos EUA, à revista norte-americana The New Republic:

"Mas a maior falha moral na Guerra do Golfo (...) foi a recusa do Ocidente em admitir, ou pelo menos discutir, não algumas mortes acidentais de civis, mas os 100 mil mortos entre os alvos militares no Iraque. Katherine Boo, do Washington Monthly, notou que ao longo da guerra a mídia norte-americana organizou grandes tabelas de perdas, listando em uma coluna quantos tanques e aviões do Iraque haviam sido abatidos.

"Mas não houve qualquer menção às mortes do lado iraquiano: era como se o objetivo do "exercício" fosse eliminar montes de máquinas e não seres humanos. As famosas palavras do chefe das Forças Armadas, Colin Powell, sobre o Exército Iraquiano - 'vamos estilhaçá-lo e depois eliminá-lo' - claramente eliminaram qualquer consideração sobre a condição humana do inimigo.

"O Pentágono liberou dúzias de vídeos que mostravam bombas inteligentes atingindo objetos inanimados como bases de mísseis; mas há que se lembrar que até o momento não foi liberado nenhum centímetro de filme mostrando qualquer combate envolvendo seres humanos. Censores militares enlouqueceram quando um comandante deixou alguns repórteres ver um vídeo feito de um helicóptero Apache que atacou um batalhão no Iraque.

"No tape, adolescentes aterrorizados correm caoticamente por todas as direções, enquanto metralhadoras disparando do helicóptero, que eles não conseguem ver, cortam seus corpos pela metade.

"O vídeo foi rapidamente tirado de circulação. Quando perguntei a razão disso a um funcionário do Pentágono, ele respondeu: 

"'Se permitirmos que as pessoas vejam esse tipo de coisa, nunca haverá outra guerra'".

 

É por esta razão que eles chamam isto de Sonho Norte-Americano (American Dream): você deve estar dormindo para acreditar

George Carlin (humorista norte-americano, 1937 - 2008)

 

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey