Segundo alguns analistas o governo de Michel Temer atua nos quadros de uma situação contraditória pois, apesar de não contar com apoio popular, tem implementado medidas econômicas e proposto reformas legislativas que atendem vários interesses da vida econômica e política do conjunto da população e do eleitorado da nação. Lembre-se aqui que algumas de tais ações governamentais, embora necessárias para a recuperação socioeconômica e política do Brasil, ferem interesses arraigados no espírito e na vida cotidiana de amplas parcelas de trabalhadores e empresários.
Iraci del Nero da Costa *
Assim, haveria um paradoxo em curso: um governo sem contar com a concordância da massa de seus governados adota soluções de amplo interesse nacional.
Como bem lembram alguns dicionaristas o termo paradoxo reflete uma condição aparentemente contraditória; é exatamente essa a situação ora vivenciada pelos brasileiros: a contradição é meramente aparente.
É justamente por estarmos diante de um governante provisório cuja alegação efetuada repetidamente é a de não pretender candidatar-se à presidência da República nas eleições vindouras - e, portanto, dispensado da sempre presente bajulação do eleitorado - que podemos dele esperar propostas e implementação de práticas econômicas e políticas capazes de superar e enfrentar os interesses e desejos imediatos, muitas vezes enganosos, do eleitorado e da população brasileira como um todo.
Como se observa, a impopularidade de Michel Temer ofereceu-lhe a oportunidade de - deixada de lado a tentativa de continuar no cargo - incrementar soluções para a grave crise que ainda nos afeta. Caso a recessão venha a ser efetivamente debelada poderemos nos defrontar ao fim do atual mandado presidencial com um político com baixo índice de aprovação popular, mas inquestionavelmente virtuoso e que virá a contar no futuro com a indelével e sincera gratidão de seus compatriotas.
* Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.
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