Janot x Schindler

Depois da famosa Lista de Schindler, a lista mais falada hoje é a do Janot,que inclui centenas de políticos de todos os partidos brasileiros, acusados de favorecer a corrupção.

Como a lista original, a de Schindler, ela é cercada de muita hipocrisia. Era para ser secreta, mas todos os jornais e a televisão  divulgaram os nomes do que nela estão incluídos, juntando prováveis  corrompidos , com possíveis inocentes.

Tudo para atender o roteiro de mais um espetáculo mediático, que Guy Debord já tinha antecipado há alguns anos atrás, destinado a atender os anseios moralistas de uma classe média raivosa, que despreza o jogo político.

Como no caso da lista de Schindler, a do Janot parte de uma base falsa.

Schindler, que virou herói depois do filme que Steven Spielberg fez sobre ele em 1993, era um nazista da pior espécie,  que usava uma aparente motivação política para ganhar dinheiro.

Ele chegou a Cracóvia, na Polônia, em 1939, logo depois da ocupação da cidade pelo exército alemão e com apoio dos oficiais da Wehmarcht  e das SS, adquiriu uma fábrica para produzir panelas para o exército.  Para aumentar seus lucros, ele vai usar judeus do gueto, como operários,  que trocam seu trabalho pela oportunidade de ficar mais tempo vivos. Para isso, ele ganhará a colaboração de Itzhak Stern, um membro da Judenrat - o Conselho Judeu que colaborava com os nazistas - para selecionar seus trabalhadores escravos.

Quando a Polônia é libertada pelo Exército Vermelho, Schindler, pagando grandes subornos a oficiais nazistas, como Amon Goth e Rudolf Hoss, consegue a autorização para levar uma centena de operários judeus especializados junto com a fábrica que transfere para sua cidade natal, na Alemanha, Switt Au-Brinnlitz.

Ou seja, como na atual lista de Janot, os critérios de Schindler eram eticamente duvidosos.

As imensas campanhas eleitorais dos grandes partidos, que assistimos periodicamente no Brasil, com produções caríssimas de televisão e uma logística de viagens dos candidatos, que implicam em grandes investimentos, só podem ser feitas com o apoio dos grandes empresários.

É óbvio, que esses empresários não fazem isso porque estão ideologicamente comprometidos com um partido político e muito menos porque acreditam na democracia. Fazem porque vão cobrar um forte retorno depois, seja qual for o partido escolhido.

Não é sem propósito que todos os partidos com alguma chance de ganhar uma eleição - PMDB, PSDB, PP ou PT - se valem desses investimentos empresariais.

É um dinheiro que, nem os empresários, nem os partidos, têm interesse que sejam contabilizados no seu total.

É ilegal? É

É imoral? Talvez

Mas, se não quisermos ser hipócritas, é do jogo. E desse jogo, participam políticos e empresários desde que os militares voltaram aos quartéis.

Antes que alguém pense que na época dos militares era diferente, é bom lembrar que foram os empresários que financiariam o golpe de 64 e continuaram apoiando o regime militar e lucrando com ele, enquanto isso foi possível.  Tudo isso com uma vantagem a mais: o silêncio imposto pela censura.

A lista de Janot, que prudentemente só começa quando o PT chegou ao governo, inclui  quase todos os políticos importantes que disputaram e ganharam eleições.

É bem provável, que alguns deles, além de se beneficiarem do caixa 2 dos seus partidos, fizeram também alguns negócios particulares com os empresários.

Será que em nome disso, vale à pena causar tantos danos à Petrobrás e punir grandes empresas e não apenas grandes empresários, provocando como conseqüência perversa essa profunda aversão à política que existe hoje no Brasil?

Nunca é demais lembrar que, quando a política é transformada em algo descartável, abre-se a possibilidade para que a democracia onde ela é praticada, se transforme numa ditadura.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey