A batalha pelos corações e mentes dos gaúchos

A batalha pelos corações e mentes dos gaúchos

No lançamento do livro do jornalista Marco Weissheimer, Governar na Crise, um Olhar sobre o governo Tarso Genro, mais uma vez se perguntou, começando pelo autor, como foi possível que os gaúchos na eleição de 2014 tenham escolhido José Ivo Sartori como governador em vez de reeleger Tarso Genro.

Seriam os gaúchos uns masoquistas, querendo escolher um governador, que como se vê agora, só traz sofrimentos à maioria da população?

Tarso Genro, em seu breve discurso, lembrou que Sartori nunca revelou que seu projeto de governo era a privatização do Estado. Realmente foi isso que aconteceu, mas no confronto de ideias, enquanto Sartori não tinha nada para dizer, Tarso tinha todas as realizações do seu governo, um dos melhores da nossa história, para apresentar.

Por que não funcionou?

Porque o inimigo não era Sartori, que dizia que seu partido era o Rio Grande, e sim um outro partido muito mais poderoso, que ele nunca nomeou, mas que estava por trás da sua candidatura, a RBS.

Essa sigla, RBS, representa o nosso maior partido regional. Ela tem hoje dois senadores e um deputado federal saídos diretamente do seu quadro de altos funcionários. Ajudou a eleger um governador e na última eleição para prefeito de Porto Alegre eliminou os dois candidatos de esquerda (Luciana e Raul) já no primeiro turno e ficou na confortável posição de se dizer isenta no segundo turno. Ganhasse Melo ou ganhasse Marchezan, estava tudo em casa.

Mas, mesmo na esquerda, em nome de uma estranha ética, não se aponta a RBS diretamente como o grande inimigo, talvez acreditando que ela ainda guarde algum resquício de uma certa ética jornalística que, no passado, fazia parte da história gaúcha.

A esquerda deve se dar conta que os tempos são outros. A mídia é hoje a grande ponta de lança do capitalismo para afastar qualquer ideia socializante. E ela não brinca em serviço. Basta ler uma edição qualquer de Zero Hora para ver que nada é de graça. Tudo faz sentido, desde transformar a questão dos presídios no grande problema do Brasil, até a jogar, escondida numa página interna, o fórum de resistência democrática que se realiza em Porto Alegre.

Mais uma vez, vai surgir nas esquerdas, alguma voz dizendo, esqueçam a RBS e seu jornal, vamos nos apoiar nas redes sociais, e ela estará apontando, outra vez o caminho errado.

Não que as mídias sociais não sejam importantes. São, mas o problema é que elas são também, pautadas pelos grandes veículos. São eles que têm uma estrutura profissional para buscar as informações, para moldá-las depois de acordo com seus interesses de classe. As mídias sociais são alimentadas por estes grandes veículos, para aplaudir ou criticar. E, todos nós sabemos, como a grande mídia escolhe a versão que vai publicar.

Embora toda e qualquer luta contra o status quod seja válida, o importante hoje é definir o grande alvo a ser atacado. No Rio Grande do Sul, o grande alvo é a imensa estrutura (não apenas de informações, mas também de cultura e entretenimento e que usa inclusive profissionais da nossa esquerda mais esclarecida), da RBS.

A batalha pelos corações e mentes dos gaúchos tem que ser travada contra ela.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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