Foi com grande satisfação que recebi a notícia de que Jeremy Corbyn vencera novamente a liderança do Partido Trabalhista britânico. Mais, apesar de todas as purgas levadas a cabo pelo aparelho centrista (expulsando ou retirando o direito de voto a dezenas de milhar de militantes - 130.000 militantes na estimativa mais pessimista, alguns deles históricos) e da insurreição interna dos seus próprios deputados mais à direita, Corbyn não só conseguiu vencer as eleições por maioria absoluta como viu a sua eleição reforçada (neste plesbicito obteve 61,8% dos votos enquanto que no ano passado obtivera apenas 59,5%).
Flávio Gonçalves
Cabe agora a Corbyn acalmar os ânimos e tentar unir o Labour em seu redor, evitando que os centristas abandonem o partido (o que é pouco provável, o eleitorado britânico, tal como o português e o estadunidense, é avesso a votar fora dos dois partidos que habitualmente alternam no poder) e que a sua base de apoio não procure vingar-se do aparelho centrista, blairista e "de direita" pela perseguição, humilhação, suspensões e expulsões dos últimos meses.
Há um ano que acompanho Jeremy Corbyn e a sua luta para fazer com que o Partido Trabalhista regresse às suas raízes históricas de partido socialista democrático, vi-o bater-se contra 80% dos deputados do seu próprio partido (centristas reféns de interesses privados e completamente afastados da base de militantes, simpatizantes e eleitores do partido que os elegera) e atrair, com o seu discurso e as suas opções políticas, toda uma nova horda de jovens militantes (o Partido Trabalhista triplicou o número de militantes desde Maio de 2015). Os partidos socialistas democráticos estão em pleno processo de PASOKização por toda a Europa e, com excepção do Labour de Jeremy Corbyn e do Partido Socialista de António Costa, parecem querer insistir nessa via suicida que só tem favorecido o surgimento e o crescimento dos partidos populistas (vejamos a insistência do PS francês de François Hollande em adoptar à força um Código do Trabalho que parece ter sido traduzido directamente das alterações do CT por parte dos nossos PSD e CDS/PP e o PSOE de Pedro Sánchez que insiste em manter a instabilidade evitando uma "solução à portuguesa" com o Podemos).
Como muito bem denuncia Rob Sewell, os centristas "são a Quinta Coluna dos grandes negócios dentro do Partido Trabalhista. São carreiristas como as suas contrapartes dos partidos capitalistas." Os cidadãos europeus, o povo, está saturado de políticos cinzentos que tudo prometem e nada cumprem, a mudança só poderá vir da capacidade de adaptação e renovação dos partidos do arco do poder tanto cá, com Costa, como lá, com Corbyn, só o socialismo democrático poderá evitar o cataclismo que se aproxima.
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