ONU Destaca Necessidade de Abordar Causas Reais do Terrorismo
Edu Montesanti
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban-Ki-moon, afirmou dia 14 que se deve dar atenção às causas reais do terrorismo a fim de se questionar o que realmente leva ao extremismo violento internacional, em um debate aberto do Conselho de Segurança (CS) sobre o flagelo humano convocado pela China, que preside neste mês o CS.
"Considerando as causas em sua raiz, poderemos usá-las como uma ferramenta priorizada em sua prevenção e enfrentamento, sem esquecer a importância das medidas anti-terroristas", disse Ki-moon, que credita à pobreza e à migração o extremismo que, segundo ele, não pode ser associado a nacionalidades e nem a religiões.
Ban Ki-moon ressaltou a necessidade de que cada país desenvolva, de acordo com a realidade interna de cada país, um plano nacional que envolva às comunidades suscetíveis ao recrutamento de extremistas, e que se centre na prevenção de conflitos.
Pedindo mais atenção internacional no que chamou de "fenômeno" dos chamados "combatentes estrangeiros", isto é, aqueles recrutados inclusive na Europa, o titular da ONU enfatizou ainda a responsabilidade em se respeitar as leis internacionais humanitárias e de direitos humanos, cujos princípios são frequentemente transgredidos ou ignorados, segundo Ki-moon, pelas políticas de combate ao terrorismo.
"Sabemos que [o terror] floresce quando os grupos são marginalizados, os espaços políticos se reduzem, os direitos humanos são atropelados e as pessoas carecem de perspectivas e de sentido de vida. (...) O terrorismo e o extremismo violento constituem uma ameaça global que transcende culturas e fronteiras geográficas, e não pode ser associados às religiões, nacionalidades ou aos grupos étnicos", acrescentou Ki-moon que também respaldou campanhas pelo corte de financiamento aos grupos terroristas.
A Parcial Realidade da Comunidade Internacional
Até aí, o tão impotente quanto em determinados casos cheio de boa-vontade secretário-geral da ONU tem a mais absoluta razão. Contudo, parou no meio do caminho além de ter, como sempre, evitado dar nomes aos responsáveis pelo alastramento do terror internacional.
A pobreza não é a única causa do extremismo, e mesmo quando está envolvida se dá em um claro contexto diante da comunidade internacional insiste em fechar os olhos.
Na Europa, não são os imigrantes marginalizados tais como os islamitas na França ou na Turquia os principais recrutados pela Al-Qaeda e pelo Estado Islamita (EI), muito pelo contrário: os maiores exportadores de combatentes na Síria são Bélgica, Alemanha, França e Reino Unido, sendo que os voluntários a combater são oriundos das classes médias locais.
Dentro dos EUA, que vive sua intocável guerra civil especialmente contra negros, islamitas e classes menos favorecidas, também se produz muitos terroristas a ponto de a Red Cell da CIA ter emitido este relatório secreto liberado por WikiLeaks, denominado E se os Estrangeiros Virem os Estados Unidos como País "Exportador de Terrorismo":http://mirror.wikileaks.info/leak/us-cia-redcell-exporter-of-terrorism-2010.pdf
No documento, lê-se:
"Este relatório da "Red Cell" da CIA de 2 de fevereiro de 2010, veja o que vai acontecer se for internacionalmente entendido que os Estados Unidos são um país exportador de terrorismo; Contrariamente à crença comum, as exportações norte-americanas de terrorismo ou de terroristas não é um fenômeno recente, nem tem estado associado apenas aos radicais islamitas ou a pessoas do Oriente Médio, africanas ou de origem sul-asiática. Essa dinâmica desmente a crença norte-americana de que nossa sociedade livre, aberta e multiculturalmente integrada diminui a atração do radicalismo e do terrorismo aos cidadãos dos EUA. O relatório analisa vários casos em que os EUA exportaram terrorismo, incluindo ataques terroristas pelos EUA com base ou financiados por judeus, muçulmanos e nacionalistas irlandeses. Conclui que a percepção externa dos EUA como "exportador de terrorismo", juntamente com dois pesos e duas medidas dos EUA em direito internacional, pode levar à não-cooperação em entregas [de cidadãos] (incluindo a detenção de agentes da CIA) e à decisão de não compactuar com a Inteligência dos Estados Unidos no que diz respeito a terrorismo.
"Muita atenção tem sido dada ultimamente, à ocorrência crescente de ataques terroristas islamitas contra alvos dos EUA, principalmente em solo norte-americano. Menos atenção tem sido dada ao crescimento local do terrorismo, não exclusivamente terroristas muçulmanos, exportados para atingir pessoas que não sejam norte-americanas. Este relatório analisa as implicações do que isso significaria para os EUA, se for visto cada vez mais como incubador e 'exportador de terrorismo'."
Gráfico do FBI revela que, dentro dos EUA de 1980 a 2005 os que menos cometeram atos de terror foram comunistas (5%) e islamitas (6%); no outro extremo da tabela, aparecem criminosos de origem hispano-americana (42%), e (pasmem!), grupos de extrema direita (24%). Por incrível que possa parecer, naquele período (e os ânimos se acirraram entre estes dois últimos grupos de lá para cá, certamente aumentando o número de ataques) oavdas atos de terror por parte de judeus superou o de islamitas: foi de 7%. (veja o gráfico através desta ligação: http://www.globalresearch.ca/non-muslims-carried-out-more-than-90-of-all-terrorist-attacks-in-america/5333619)
Quando a pobreza está envolvida em atos de terror ou do que se qualifica de terror, dentro de seu contexto existe repressão contra minorias indefesas perpetrada por práticas imperialistas e sub-imperialistas, já que a única via que essas minorias reprimidas enxergam para não apenas se libertar da situação como também chamar a atenção internacional, é através da violência que diariamente sofrem.
Estas duas realidades são de suma importância se realmente se busca solução para o terror internacional: no primeiro caso, a fim de se abandonar a hipocrisia das grandes potências que desemboca nos mais graves crimes internacionais da atualidade em suas invasões, com ou sem consentimento da ONU, contra nações seletivamente escolhidas; no segundo caso, a fim de se ter consciência do limite entre terror e resistência dado que o direito internacional a garante como legítima defesa (no caso dos palestinos, por exemplo).
Reedição da Invasão ao Iraque
Quanto ao financiamento do terror, está claro que os Estados Unidos não apenas se prestam a isso como também armam diretamente grupos como Al-Qaeda e Estado Islamita - inclusive com bombas químicas. Este documento do regime norte-americano, liberado em maio de 2015, é mais uma evidência de tal financiamento desde a criação do EI, e do início da atuação da Al-Qaeda na Síria: http://www.washingtonsblog.com/2015/05/newly-declassified-u-s-government-documents-the-west-supported-the-creation-of-isis.html
A Al-Qaeda, que antes de outubro de 2001 atuava apenas em solo afegão, hoje está espalhado pelo Oriente Médio e norte da África (inclusive no Iraque). Essa mesma Al-Qaeda também é mencionada pelo Departamento de Estado dos EUA, que reconhece a Al-Nusra como sua afiliada na Síria:http://www.state.gov/r/pa/prs/ps/2012/12/201759.htm.
Pois desde o início do genocídio sírio que já assassinou mais de 250 pessoas, na grande maioria civis inocentes, o Nobel da Paz, presidente Barack Obama envia armas à Al-Nusra. Esta reportagem do New York Times, de 24 de março de 2013, não deixa dúvidas quanto à colaboração secreta da CIA aos terroristas na Síria, através de Jordânia, Turquia, Catar e Arábia Saudita: http://www.nytimes.com/2013/03/25/world/middleeast/arms-airlift-to-syrian-rebels-expands-with-cia-aid.html?pagewanted=all&_r=4&
Esta outra reportagem do New York Times, de 8 de dezembro de 2012, já havia jogado por terra a falácia de que existem "rebeldes moderados" apoiados por Washington em solo sírio: http://www.nytimes.com/2012/12/09/world/middleeast/syrian-rebels-tied-to-al-qaeda-play-key-role-in-war.html?pagewanted=all&_r=0
A Comissão Independente da ONU, encarregada de inspecionar armas químicas na Síria e boicotada justamente pelos EUA, confirmou em maio de 2013 o uso de armas químicas pelos "rebeldes" da Al-Qaeda dentro do território sírio. Enquanto isso, o regime de Barack Obama não conseguia provar o uso dessas bombas por parte das forças de Al-Assad. "Esta [bomba química] foi usada por parte da oposição, os rebeldes, e não pelas autoridades governamentais", afirmou a investigadora Carla del Ponte, membro desta Comissão da ONU (ver reportagem do jornal Chicago Tribune) (http://articles.chicagotribune.com/2013-05-05/news/sns-rt-us-syria-crisis-unbre94409z-20130505_1_chemical-weapons-sarin-syria).
Em dezembro de 2012, a CNN já havia informado que forças norte-americanas estavam treinando os rebeldes a manejar armas químicas, na reportagem EUA Ajudando Rebeldes no Treinamento na Segurança de Armas Químicas (http://security.blogs.cnn.com/2012/12/09/sources-defense-contractors-training-syrian-rebels-in-chemical-weapons/).
As coincidências com o cenário da criminosa invasão ao Iraque em 2003 não param por aí: o presidente sírio Bashar al-Assad, desde o início da guerra civil, tem permitido as intensivas inspeções da ONU dentro de suas fronteiras a fim de detectar quem realmente usa armas químicas.
Tais semelhanças, para nem se mencionar as tendências midiáticas.
Todos São Iguais Perante a Lei - Mas Alguns São Mais Iguais que os Outros
Não é segrego para mais ninguém que Washington criou as madrassas(escolas do fundamentalismo islamita que, a princípio no Paquistão, estendidas posteriormente ao vizinho Afeganistão): os livros didáticos que ensinam a jihad como meio violento de combate em nome da religião, foram produzidos nos EUA no final dos anos de 1970.
Os combatentes islamitas em ambos os países, então conhecidos comosenhores da guerra que décadas mais tarde comporiam as fileiras de Al-Qaeda e Taliban, foram a criação norte-americana a fim de atingir seus almejos econômicos e estratégicos na região mais rica em petróleo do planeta.
Portanto, as afirmações de Ban Ki-moon são inócuas e não dão esperanças de que o efetivo combate ao terror parta da tão propalada comunidade internacional. Até porque tal combate se resume a cumprir as leis internacionais, e isso é algo que a ONU não tem a menor disposição em fazer. Por questões óbvias: seu maior financiador é exatamente o Estado mais terrorista da história, o regime de Washington que mais sofreria sanções e seu presidente, certamente, seria condenado se as leis fossem minimamente levadas a sério.
É proibido encarar a realidade dos fatos, dar os devidos nomes e falar em justiça diante de um moribundo Império (ainda) acima do bem e do mal que busca, desesperadamente, a eclosão de uma III Guerra Mundial a fim de derrotar ascendentes nações que apresentam ameaça ao poder inquestionável dos Estados Unidos, e de consolidar seu poderio através de uma Nova Ordem Mundial, já bastante avançada.
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