Hugo Chávez: Três anos da partida física de quem ousou enfrentar o Império

Hugo Chávez: Três anos da partida física de quem ousou enfrentar o Império

"Recordamo-lo [a Chávez] os que sabemos que deixou a vida por um povo livre, e um legado de unidade americana", ex-presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner


Neste dia 5 de março de 2016, cumprem-se três anos da imortalidade do comandante eterno, Hugo Chávez, quem não exagerou quando fez sua voz ecoar pela apaixonada Caracas: "A Venezuela mudou para sempre!".

 

Edu Montesanti

Enquanto no Brasil há cursinho pré-vestibular "ensinando" que o "ditador" Chávez "impôs" a (segure-se na cadeira!) "Revolução Boliviana" (Mundo Vestibular que segue a ignorância preponderante imposta, esta sim, pela mídia de desinformação das massas que forma uma das elites mais ignorantes e histéricas do planeta), durante este terceiro 5 de março sem Chávez, a sociedade venezuelana saiu em peso pelas ruas e instituições de todo o país para, entre choro e alegria pelo legado, rememorar e prestar homenagem ao comandante supremo.

À capital Caracas também compareceram chefes de Estado, ativistas por direitos humanos e as mais diversas personalidades, de diversos cantos do planeta, para visitar o Quartel da Montanha, bairro caraquenho de 23 de Enero, onde estão os restos de Chávez, e recordar aquele ser humano que fez o jornalista colombianoWilliam Ospina observar: "A Venezuela é um país ímpar, único lugar no mundo onde os ricos protestam, e os pobres celebram".

Durante as celebrações deste dia 5, o presidente venezuelano Nicolás Maduro, assegurou que o povo de seu país seguirá trilhando os caminhos da Revolução Bolivariana, graças à fortaleza das forças revolucionárias que mantêm vivo seu legado.

"Aqui está o povo venezolano pronto para seguir lutando pela verdadeira independência e liberdade (...). A Venezuela continuará no caminho da Revolução Bolivariana", afirmou o chefe de Estado no foro "Chávez: Líder del siglo XXI, Unidad Latinoamericana y Caribeña" realizado no Teatro Teresa Carreño (segundo maior da América do Sul), na capital Caracas.

Lá no Quartel da Montanha, visitado diariamente por cidadãos de todas as partes do país e do mundo, ocorre todos os dias solenidade em memória de Hugo Chávez, exatamente às 16h25, horário da partida física do comandante eterno, realizada por oficiais da Milícia Bolivariana.

A filmagem deste acontecimento, como em qualquer local do Quartel da Montanha, é proibido, mas a Milícia Bolivariana, gentilmente, permitiu que este autor registrasse a solenidade - vídeo:

Neste vídeo abaixo, jovens militares do interior da Venezuela deixam o Quartel da Montanha após visita ao local - vídeo:

Em frente ao Quartel encontra-se a Capela Santo Hugo Chávez, a qual uma de suas fundadoras e atual zeladora, Elizabeth Torres, 56, garante que o local serve como ponto para oração e recordação através das imagens do comandante Chávez, não para exaltá-lo como ser superior aos seres humanos. Seja como for, eis aqui mais uma evidência de que Chávez está e sempre esteve muito distante do estigma imposto pelos grandes meios de comunicação, de um ser odiado que amedrontava e feria gravemente os direitos humanos - vídeos da fachada da Capela: https://www.youtube.com/watch?v=loA8rrgjSFM / https://www.youtube.com/watch?v=n4sp-b0AQio#t=23

Comerciante formal, segundo ela graças ao ex-presidente Hugo Chávez, Elizabeth fica todo o dia dividida entre a Capela e seu pequeno comércio de alimentos. Nesta emotiva conversa no interior da Capela (em duas partes), ela conta como sua vida e a de milhares de comerciantes ambulantes e informais, mudou com a ascensão da Revolução Bolivariana, marcada pela eleição presidencial de Chávez em 1998. Ela também explica que significa Chávez para ela e para a maioria da sociedade venezuelana. Ela também conta se estão certos os grandes meios de comunicação internacionais, quando dizem que na Venezuela se vive a tal ditadura terrível. Tudo isso, além da lição que Elizabeth Torres dá de vida, de paz e de amor à justiça social, o que apenas a universidade da vida pode proporcionar - vídeos da conversa: Tributo ao Comandante Eterno

A ex-presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner, disse que as melhores recordações de Chávez, certamente, têm aqueles que "pela primeira vez tiveram um prato de comida, uma casa, um carro, um salário justo, educação, dignidade".

"Lo recordamos quienes sabemos que dejó la vida por un pueblo libre y un legado de unidad americana y tal vez estarán alegres los que solamente vieron en él imperfecciones, errores y horrores", acrescentou Cristina.

Já o presidente boliviano Evo Morales afirmou, no foro Chávez:

"Como ser humano [Chávez] um grande solidário. Como irmão latino-americano, grande irmão integracionista. Como político (...), anti-imperialista que nos ensinou a perder o medo do Império, a levantar a voz diante do Império sem nenhum medo."

O dignatário boliviano conclamou a direita nacional e internacional a respeitar "nossas revoluções democráticas e pacíficas", garantindo que se não as respeitam, haverá outras maneiras de luta.

"As oligarquias latino-americanas devem respeitar nossas revoluções democráticas e pacificas com justiça social; se não respeitam, há outras formas de luta e, aí, vamos ver quem perde", advertiu o presidente Morales.

As oligarquias a que se refere o presidente boliviano pode ser muito bem representada pela "indignada" farmacêutica pelos milhares de manifestantes brasileiros, clamando raivosamente por inconstitucional cassação à presidente Dilma Rousseff, com retorno à ditadura militar. Na "análise" da preocupada socialyte paulista, o cenário internacional é perigoso e pode contaminar o Brasil:

"A empresária e farmacêutica Silvia Frey veio de Catanduva, interior de São Paulo, somente para o protesto. 'Têm três ônibus chegando de lá, ajudamos a contratar', comemorava. À corrupção, ela acrescentou outro fator que lhe preocupa no Brasil. a 'intervenção bolivariana'. ''Queremos um Brasil para nós, que caminhe com nossa força trabalhadora', discursa.

"Porém, quando questionada sobre o que seria o 'bolivarianismo', Silvia afirma que tentará resumir: 'Isso é fruto da política internacional do PT, que quer adotar aqui as mesmas políticas usadas pelo governo da Bolívia. Espero estar equivocada, mas é isso', afirma a cautelosa empresária, provavelmente desconhecendo que a palavra tem origem no general venezuelano Simón Bolívar, que liderou os processos de independência de diversos países da América do Sul. O termo 'bolivariano' é aplicado aos países que questionam o neoliberalismo e o Consenso de Washington, como a Venezuela." (Citado na reportagem Da Despolitização ao Ódio, do jornalista Igor Carvalho da revista Caros Amigos de abril de 2015).

A Revolução Bolivariana que o Brasil Ignora

Passados mais de 17 anos desde que Hugo Chávez assumiu a presidência da Venezuela, as massas, subproduto da ditadura da informação, ainda não têm a menor ideia do que seja a Revolução Bolivariana (que sofre terrível guerra econômica por parte de Washington e das elites locais, exatamente como ocorreu com o ex-presidente chileno Salvador Allende), e muito menos de suas conquistas sociais e políticas.

Conquistas Sociais. Aplicando 60% dos recursos estatais em investimentos sociais desde Hugo Chávez, a Venezuela tem atingido níveis sociais reconhecidos e premiados internacionalmente, que a levou a começar a alcançar em 2005 as Metas do Milênio da ONU estipuladas para 2015 - até agora, nenhum outro país no mundo alcançou nenhuma das metas.

Algumas dessas conquistas - que em junho de 2013 na Europa rendeu premiação da ONU ao presidente Maduro (nada noticiado no Brasil, muito pouco na imprensa internacional), são:

● Estado livre do analfabetismo segundo declaração da Unesco em 2005. Até agora, são mais de 2,7 milhões de pessoas alfabetizadas pós-governo bolivariano, inclusive nas línguas indígenas;

● Assistência médica e educação gratuitas e acessíveis a todos. Antes de Hugo Chávez assumir a presidência, o país contava com 20 médicos para cada 100 mil habitantes; atualmente, este número está acima do dobro de doutores disponíveis: 65. O governo bolivariano construiu mais de 13.721 clínicas em bairros que, anteriormente, o Estado não alcançava, e o sistema público de saúde conta com 95 mil médicos;

● Para a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), a Venezuela era um dos países mais desiguais da América Latina pré-governo bolivariano, e hoje o país é o menos desigual da região;

● A Venezuela possui o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os países latino-americanos;

● Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO), sob a presidência de Chávez a Venezuela reduziu em 75% a proporção de pessoas em pobreza extrema, e com Maduro tornou-se exemplo mundial no combate à fome e à desnutrição: erradicou a primeira com mais de 3 anos de antecedência em relação às Metas do Milênio estipuladas pela ONU (2015), e a segunda já foi reduzida de 13,6 para 2,4 nos anos de governo bolivariano. Em julho do ano passado, o presidente venezuelano foi premiado pelas Nações Unidas na Europa, por tais conquistas;

● Segundo o Instituto Sofi (Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2012, na sigla em inglês), em 2012 a porcentagem de pessoas subnutridas foi inferior a 5% da população total - de 1990 e 1992, a porcentagem foi de 13,5%;

● Entre 1999 e 2012, a pobreza extrema apresentou queda livre como em nenhum outro país da região: de 21%, despencou para 6% da sociedade. E os níveis de pobreza foram reduzidos de 49% a 25,4%, estando hoje a um taxa de 20% da sociedade;

● O desemprego, que era de 11,3% quando Chávez assumiu o governo, caiu para 8%. O governo elevou o salário mínimo em 10-20% a cada ano, levando a Venezuela a possuir um dos salários mínimos mais altos da América Latina. As pensões estão garantidas após, apenas, 25 anos de trabalho. Os que trabalham na economia informal têm pensão do Estado garantida. Há ainda programas de capacitação profissional, e ajuda a pequenas e médias empresas;

● Quando Chávez assumiu a presidência, o Produto Interno Bruto (PIB) era de US$ 200 bilhões, tendo fechado o ano de 2012 com cifra dobrada, em US$ 400 bilhões. O líder bolivariano assumiu uma economia com inflação na casa dos 35% ao ano, tendo-a baixado para 23,2%, apesar da crise de 2008.

● Segundo a professora da Universidade Central da Venezuela, Mariclein Stelling para a revista Caros Amigos (novembro de 2012, pág. 12), "[A sociedade local hoje] Têm direitos a ter direitos. Não somos mas uma sociedade submissa, esperando um favor de uma escola. Aqui já existe um processo de pró-atividade política. Antes não era assim, o pobre era sempre pobre e não tinha vontade de crescer. As pessoas sabem o que é controle social, o que é poder popular, já estão organizadas em coletivo".

● A educação é gratuita e acessível a todos, do ensino básico ao universitário. A Venezuela é o segundo na América Latina e o quinto no mundo com as maiores proporções de estudantes universitários que cresceu em mais de 800% no governo bolivariano, com cerca de 75% da educação superior pública que faze do país latino-americano com o maior número de universidades públicas. Os estudantes têm computadores portáteis e tabletes de uso gratuito para os estudos. Hoje, 60% dos professores venezuelanos pertencem à rede pública, com salário elevado na última década;

● Os meios de comunicação, especialmente comunitários, expandiram-se em todo o país, dando mais espaço para a expressão de vozes diversificadas, respeitando inclusive as diferenças culturais da Venezuela;

● O aceso à Internet tem aumentado consideravelmente, e o governo bolivariano também tem construído centenas de "infocentros" públicos com acesso a computadores e conexão à Internet gratuita em todo o país;

● O governo construiu também mais de 500 mil casas populares. Neste sentido, há subsídios públicos para aquisição de casas a preços acessíveis a todos que não possuem condição de pagar.

Por isso tudo, não é de se surpreender com o otimismo da maioria dos 10 mil entrevistados, entre 15 e 29 anos de idade (que formam 60% do total da população) de todo o país, pela II Encuesta Nacional de la Juventud no início de 2014:

● 90% acredita que seu diploma universitário lhe proporcionará "muitas ou variadas possibilidades profissionais";

● 93% afirma que pode aspirar a um emprego melhor que o que tem na atualidade;

● 98% continuará estudando, considerando que os estudos lhe servirão para conseguir um trabalho satisfatório (compare-se esses índices com os da Espanha, que tem 56% de desemprego juvenil e centenas de milhares de universitários que se perguntam para que lhes serviu tantos anos de estudo);

● 77% dos jovens aponta que se ficará no país, contra apenas 13% que afirma que deseja sair;

● 60% considera que o melhor sistema é o socialismo, contra 21% que prefere o capitalismo.

Para o jornalista espanhol Alejandro Fierro, "esses percentuais contrariam a propaganda midiática de que a juventude deseja fugir da Venezuela."

Por essas e tantas outras, o Socialismo do Século XXI, idealizado por Chávez e tão caluniado, difamado e demonizado pelas alas mais conservadoras, dentro e fora do Império moribundo, representa incontestavelmente um marco na história, nação que pode mudar os rumos da humanidade.

Jean-Jaques Rousseau, quem creditou à propriedade privada os assassinatos, os crimes, a enorme miséria e horrores dos mais diversos, certamente aplaudiria hoje a Revolução Bolivariana.

Integração Regional. Hugo Chávez é idealizador e criador da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América) e da Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos), bem como do Banco do Sul.

O bolivarianismo também propõe a criação da Moeda Única Bolivariana, conforme aponta Paul Samuelson, Prêmio Nobrl de Economia em 1970, no obra de Ricardo Valbuena, El Dolar, Una Moneda Falsa - Desafío de la Moneda Única Bolivariana al Fraude Planetario de la Reserva Federal y de Wall Street:

O fato de que o dólar sirva como a moeda chave deu aos Estados Unidos o privilégio de criais dinheiro a partir do mais fino ar, assim como os bancos comerciais desfrutavam dentro dos EUA...Em certa medida, esta posição chave deu aos EUA o direito de obter uma certa quantidade de bens sem custo real nenhum.

O autor do mencionado livro afirma:

Temos proposto que a Revolução Bolivariana planteie, com seus parceiros da Alba, um novo regime monetário e, afortunadamente, quanto este trabalho vier à luz, estará em ação o Sucre (Sistema Único de Compensação Regional), um novo regime para libertar-se da colonização monetária que, como matéria-prima financeira, servia para gerar improdutiva e esquálida renda em juros passivos (mais ou menos 5 por cento), que nos pagavam os bancos estrangeiros com nosso próprio dinheiro, que logo reciclavam e nos emprestavam, contudo agregando-lhes uma margem financeira mais o Risco País, a juros ativos. (mais ou menos 14 por cento). O Sucre substituirá as moedas de papel que circulam como um fardo pesado a nossos países.


Tudo isso criado libertar a América Latina do monoteísmo do mercado imposto por Washington e pela Reserva Federal, uma instituição sabidamente privada - e de posse de sociedade secreta.

Medidas Econômicas. Uma das primeiras medidas do governo bolivariano foi reverter os ganhos financeiros com as reservas petrolíferas em investimentos sociais, nacionalizando a maior riqueza nacional, histórica e docilmente entregue pelas classes dominantes locais a Tio Sam em troca das migalhas deste - fato muito bem conhecido no Brasil e em todo o mundo. Migalhas que, é claro, valiam mansões fora do país, e todo o luxo dentro dele em detrimento da pobreza da grande maioria.

Chávez rompeu também com os ditames do Fundo Monetário Internacional (FMI), abrindo mão do Consenso de Washington que impõe abertura das economias nacionais em favor de empresas estrangeiras, medidas econômicas contrárias aos investimentos sociais, desregulamentação do mercado de trabalho e a privatização de longo alcance (inclusive das empresas petrolíferas).

Guerra Econômica. Uma das principais lojas da Venezuela, a Daka, aumentou o preço de seus produtos em até 1.000% recentemente; a Pablo Electrónicos, em até 2.000%. Tudo isso - alguns poucos exemplos da guerra econômica sofrida pelo atual governo venezuelano - tornando os produtos inacessíveis para a grande maioria da sociedade, apenas para citar dois exemplos da guerra econômica que enfrenta o presidente Nicolás Maduro, quem tomou medidas: fez o comércio praticar preços justos, com margem de lucro que não pode ultrapassar os 30% sob risco punição, de acordo com dispositivos constitucionais. A regulação dos preços gera intensas críticas entre os oposicionistas, mas fazem com que o presidente, evidentemente, ganhe popularidade entre a sociedade.

Guerra econômica envolta em persuasão idêntica à imposta contra o Chile pelo presidente norte-americano Richard Nixon: "arrasar a economia" foi o imperativo contra o presidente Salvador Allende, democraticamente eleito, apoiado maciçamente pelos chilenos e derrubado do poder por um golpe sujo em 1973 para dar lugar a Augusto Pinochet, um dos maiores genocidas que a história já conheceu, escolhido a dedo por Washington. Equador, Bolívia e Argentina têm sido vítimas hoje do mesmo boicote ao longo dos anos.

A abordagem midiática da postura do presidente Maduro em relação à guerra econômica, segue o tendencionismo do antijornalismo global: é ditador, contrário à liberdade de mercado e ao avanço da economia. Para sustentar essa precária tese, a mídia, velha prática apontada no início deste artigo, simplesmente não divulga os fatos e as palavras do presidente venezuelano em sua totalidade, bem longe disso. Trata-se de algo artificial, como no Chile de Allende com apoio dos EUA.

A cada semana, funcionários do governo encontram cerca de mil toneladas de produtos estocados a fim de gerar escassez nacional - inclusive papeis higiênicos, inclusive comercializados com outros países a preços irrisórios. 40% dos alimentos e bens importados ou produzidos no país, são contrabandeados à Colômbia, sob controle de máfias binacionais e com o apoio político da oposição oligárquica. Portanto - e nunca ninguém acusou o governo de Maduro disto -, o relativo desabastecimento não é fruto de escassez de divisas nem por casos de corrupção. Nem sequer de nenhum ato de incompetência por parte do governo.

O conservador semanário britânico The Economist publicou em 2014 que, mesmo com todo o boicote econômico, a escassez, então no auge, afetou apenas 28% dos produtos. Com toda a sabotagem econômica, que gera escassez de produtos superdimensionada pela mídia, a Venezuela foi um dos quatro países com menos fome da América Latina em 2012 (de acordo com FAO e OMS), inferior a 5%, e um dos países com maior índice de crianças e jovens obesos (antes de Chávez, a Venezuela padecia de terrível desnutrição).

Mídia Venezuelana. Outro mito diz respeito ao "controle midiático" do governo venezuelano. Acrescentemos a realidade trazida no artigo Dialogue or Coup, do jornalista chileno Pedro Santander:

80% da mídia [venezuelana] é privada. Os três jornais de circulação nacional (El Universal, El Nacional e Últimos Noticias) são oposicionistas ao governo, especialmente os dois primeiros, os quais detêm, sozinhos, 90% da leitura no país. Dos quatro canais de TV com cobertura nacional, três deles (Venevisión, Globovisión e Televen) são oposicionistas, detendo 90% da audiência, de acordo com informações fornecidas pela empresa AGB. Neste sentido, e de acordo com os critérios das Nações Unidas, a liberdade de informação na Venezuela é, sem nenhuma dúvida, mais ampla e melhor que no Chile enquanto no país caribenho a diversidade de propriedade, a diversidade de tipos de mídia (pública, comercial, comunitária) e de discurso - que são os três principais critérios de medição da UNESCO [para avaliar liberdade de Imprensa] - são superiores ao sistema do Chile. Ninguém que compare objetivamente, isto é, com dados (indicadores, medidores, escalas, etc), a mídia chilena com a venezuelana, verá que nosso país [o Chile] está em situação muito mais precária, e não muito democrática.


No Peru, cujo governo é pró-EUA, 78% da mídia impressa está em apenas uma mão. No Brasil, a mídia de massas, totalmente pró-Washington, encontra-se mais oligopolizada que à época da ditadura: pertence a cinco famílias oligárquicas. Além do mais, os EUA e seus parceiros ocidentais baniram redes de TV e estações de rádio iranianas da América do Norte e de vários países europeus em 2012/2013.

Acrescentemos também que o governo bolivariano da Venezuela promoveu expansão sem precedentes no país, e na América Latina equiparável apenas a Bolívia e Equador, em relação à mídia comunitária, dando voz a todos os setores da sociedade inclusive indígenas, historicamente abafadas.

Mark Weisbrot apontou que:

Uma análise minuciosa dos canais [venezuelanos] mostra que os canais privados dedicaram proporção muito maior da cobertura ao candidato Henrique Capriles Radonski, aos acontecimentos de sua campanha [presidencial de 2013] e aos seus his seguidores (73%), com muito menor porcentagem (19%) dedicada ao partido governista do então candidato, Nicolás Maduro, aos acontecimentos de sua campanha e a seus seguidores. (...) Na mídia privada, o candidato Henrique Capriles recebeu 60% de cobertura positiva (com 23% negativa, e 17% neutra), enquanto o candidato Maduro teve 28% positiva (com 54% negativa, e 18% neutra).


Faz-se oportuno qinda recordar aqui o que afirma John Perkins, economista com anos de serviços prestados ao governo dos EUA e à CIA, no livro Confessions of an Economic Hit Man (Confissões de um Assassino Econômico):

A maioria dos meios de comunicação - jornais, revistas, editoras, emissoras de TV e estações de rádio - é de propriedade de grandes corporações internacionais, as quais não têm o menor escrúpulo em manipular as notícias que divulgam.


Afinal, como diz o vezo popular, "pior que ser um país pobre, é ser pobre e rico em petróleo". A Revolução Bolivariana, contudo, veio para mudar esse quadro tragicamente histórico - postura de Caracas que é, por motivos óbvios, inaceitável aos barões da mídia de manipulação das massas.

Sistema Eleitoral e Político. Nunca, em toda a sua história, a Venezuela participou de tantas eleições quanto nestes 16 anos, desde que a nova Constituição entrou em vigor.

Hoje, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), com 18 vitórias em 20 eleições (5 presidenciais) desde que Hugo Chávez venceu o pleito presidencial em 1998 (na era Chávez, 17 vitórias em 15 anos), transformou o sistema eleitoral do país, historicamente corrupto, no mais seguro do mundo. Em cada eleição, o governo de Caracas permite o acompanhamento de observadores internacionais, que inclui juristas norte-americanos e líderes internacionais oposicionistas ao governo bolivariano da Venezuela. A mídia gorda (muito peso, pouco conteúdo) ignora tudo isso, é óbvio.

As únicas derrotas eleitorais do governo bolivariano foi na segunda tentativa de reformar a Constituição, pacífica e democraticamente aceita por Hugo Chávez, quem, durante o referendo presidencial de 2004, garantiu que acataria a decisão do povo. Ganhou por enorme maioria e gritou no Balcão do Povo, no Palácio de Miraflores: "A Venezuela mudou para sempre!", diante de uma colorida Venezuela em intensa festa. A outra, nas eleições parlamentares de dezembro de 2015.

Em 2004, a oposição criou (mais um) clima de instabilidade exigindo referendo a fim de possibilitar a saída de Chávez da Presidência. Este mesmo havia incluído na nova Constituição a possibilidade de referendo. Resultado: esmagadora vitória de Hugo Chávez. Abafou-se o caso internacionalmente, é claro.

Na eleição presidencial vencida por Nicolás Maduro em 14 de abril de 2013, com margem de 1,59% dos votos contra Henrique Capriles quem se recusou a reconhecer a derrota e, logo em seguida, incitou seus partidários em todo o país a "incendiar o país extravasando toda a raiva nas ruas {a fim de deslegitimar a vitória do PSUV]", observadores internacionais voltaram a destacar o sistema eleitoral venezuelano, como o mais seguro do mundo. Vale destacar que a raivosa posição de Capriles, candidato declarado do regime de Washington, levou à morte 11 eleitores do presidente Maduro nos dias subsequentes.

Enquanto Capriles, ao deslegitimar a vitória de Maduro, contrariava importantes organismos internacionais, da União Europeia à Organização dos Estados Americanos incluindo observadores internacionais presentes na eleição, porém em perfeita sintonia com Washington, mais uma aula anti-democrática oposicionista, a mídia predominante global creditou a Nicolás Maduro a extrema violência nas ruas, deixando de noticias os fatos, o verdadeiro caos armado por Capriles além de ter manipulado discursos e imagens. Maduro se manteve intacto no poder, conseguiu apaziguar os ânimos e nunca mais a mídia tocou no assunto pós-eleitoral.

A jurista norte-americana Tobin Alexander, do Grêmio Nacional de Advogados dos Estados Unidos, quem participou como observadora das eleições de abril, disse na rede venezuelana de TV Telesur que "o processo foi organizado e transparente (...). A CNE (Conselho Nacional Eleitoral) ganhou credibilidade ao longo dos anos", afirmou ainda que o sistema eleitoral do país é "respeitado a nível internacional por seu processo aberto e transparente, (...) sistema totalmente eletrônico com auditorias, (...) melhor sistema do mundo", o qual "deveria ser aplicado nos Estados Unidos. (...)". Concluiu dizendo que "na Venezuela, 80% votou em abril, enquanto nos Estados Unidos, 57,5% na última eleição, em 2012. (...) Temos [os norte-americanos] muito que aprender com este sistema (...)". Nada disso virou notícia fora das fronteiras venezuelanas, evidentemente.

Tal sistema garante liberdade total para que os mais de 50 partidos venezuelanos participem das eleições, e para que realizem seus comícios de maneira absolutamente livre. O voto é facultativo contando, ano a ano, com uma maior participação popular não apenas no ato de votar, mas também nos intensos debates promovidos no país. A sociedade se entusiasma cada vez mais com a política, a politização só cresce na Venezuela, cenário completamente diferente de, por exemplo, Estados Unidos onde o movimento Free & Equal Elections luta, há anos, contra o bipartidarismo eleitoral, o que inclui a nada democrática participação nos debates nacionais apenas por parte das duas velhas faces de uma mesma moeda: republicanos e democratas, fazendo com que a sociedade norte-americana esteja cada vez mais desacreditada com a política.

O presidente Maduro sofreu bombardeio midiático antes mesmo de colocar os pés no Palácio Miraflores em abril de 2013: O jornal O Estado de S. Paulo, em artigo de 22 de maio daquele ano, pouco mais de um mês após o dignatário Maduro ter assumido a Presidência da Venezuela, fez estas observações baseadas no nada: "(...) Incapacidade administrativa do presidente Nicolás Maduro e à corrupção galopante".

Poucos governos latino-americanos têm sido tão duros e eficazes contra a corrupção, quanto a administração de Maduro. Poucos dias depois dessa publicação completamente tendenciosa do Estado, políticos corruptos de governos estaduais na Venezuela, cinco membros do partido presidencial foram investigados e presos. Tem havido transparente e eficiente limpeza na política venezuelana, desde Chávez. O Estado não noticiou a prisão dos políticos governistas presos, a exemplo de nenhum outro meio de comunicação.

O dignatário Maduro logo instaurou, exatamente um mês após sua vitória nas urnas, um projeto combate pacífico à violência denominado Plano Pátria Segura através da qual enviou três mil militares e policiais para reforçar a segurança nacional. "Decidimos lutar com toda nossa alma para construir uma pátria segura", afirmou o presidente Maduro.

O Plano Pátria Segura apresentou resultados imediatos: em menos de dez dias, a melhora da segurança pública foi sensível: duas noites com taxa zero de homicídios na capital Caracas. "Nossa prioridade é a segurança do povo", afirmou o mandatário Maduro no dia 23 de maio. Nas semanas subsequentes, a taxa de homicídios no país seria reduzida: apenas em Caracas, a mais de 30%. Na primeira semana de julho de 2013, o Parlamento aprovaria ainda a Lei de Desarme, que passou a regular o controle sobre a posse, a compra e a venda de armas.

Após as eleições municipais de 8 de dezembro de 2013 vencidas pelo PSUV (com 11,5% do total de votos, 55% dos votos municipais que garantiram 76% das prefeituras do país ao partido governista, o que representa 256 das 317 municipalidades contra apenas 76 da oposição, ou 23% do total nacional), as quais a oposição havia considerado vitais para "evidenciar a ilegitimidade do governo bolivariano", o presidente Maduro passou a convocar governadores, prefeitos e os mais diversos líderes oposicionistas para diálogos no Palácio de Miraflores, onde passaram a discutir vias sociais, políticas e econômicas para a Venezuela. O primeiro encontro, com políticos do Executivo de oposição, foi televisionado ao vivo, em cadeia nacional.

Outro fator positivo, e que explica muito bem os porquês da manipulação midiática e da guerra oculta de Washington contra a Venezuela, é que hoje a Colômbia, sob a presidência de Juan Manuel Santos, menos submisso aos ditames norte-americanos que seu antecessor (pero no mucho), agradece a colaboração dos vizinhos bolivarianos pela eficiente colaboração no tráfico de drogas e terrorismo em suas fronteiras (por parte do antecessor, Álvaro Uribe, que escancarou o país às bases militares norte-americanas, tido por George Bush como seu grande aliado na região, Chávez era constante e fortemente acusado de apoio ao narcotráfico e de apoio a atos de terror, sem nenhuma base).

O presidente Maduro segue executando também o Gobierno de Calle (Governo de Rua) seguindo os exemplos de seu antecessor Chávez que andava pelas ruas, favelas e mais diversas instituições para conhecer de perto possíveis necessidades, e discutir soluções.

Toda essa postura do presidente Maduro, somado ao amplo apoio popular, está desconsertando os setores oposicionistas violentos. As marés golpistas estão mudando na Venezuela. A aposta oposicionista e imperialista sempre foi que Maduro não teria carisma dentro do país, e nem pulso para governar. Tem apresentado resultados que nenhum outro governo da oposição foi capaz de fazer, e ainda passa pelas tentativas de golpe, uma a uma assim como seu antecessor.

Outro fato louvável na história da política global é que não se tem visto Maduro envolvido, sequer, em boatos (no que a mídia é mestra em produzir) de corrupção, a exemplo de seu antecessor, Hugo Chávez.

Nova Constituição. A atual Constituição venezuelana é uma das mais avançadas do mundo, com ênfase na pluralidade política, na diversidade cultural, nas diferenças étnicas, na dignidade humana, na manutenção da paz, no Estado de direito, na justiça social, no poder cidadão, na soberania nacional, na preservação ambiental, nos direitos trabalhistas, na saúde, na educação, na reforma agrária e na própria integridade constitucional - tão intensamente observada pelos presidentes Chávez e Maduro.

De acordo com os juristas Santiago Hernández e Frank Mila (ibidem), este é o panorama da Constituição da República Bolivariana da Venezuela:

"(...) Com valores cimentados na igualdade, na justiça e na paz internacional. Onde os cidadãos sejam iguais, amparados em seus direitos sobre princípios legais. A República Bolivariana da Venezuela é um território de paz sem intenções belicistas com outros países;

"Com direitos irrenunciáveis, tais como:

● Liberdade (...)

● Soberania - O povo é dono de seu destino;

● Imunidade - Em relação à inviolabilidade da organização democrática do Estado;

(...)

● Autodeterminação nacional - Soberana, exerce essa soberania mediante o sufrágio.

A Pluralidade Política é logo assegurada, no artigo 3;

O Poder Cidadão assegurado pela Constituição bolivariana está garantido no artigo 187, como obrigação correspondente à Assembleia Nacional. Segundo os drs. Santiago Hernández e Frank Mila, "A Constituição da República Bolivariana da Venezuela inclui a toda a população como protagonista no exercício da Justiça, a todos compete alcançar o bem comum (ibidem, pg. 169).

Os Povos Indígenas, antes da Revolução Bolivariana esquecidos e relegados à opressão indiscriminada, hoje elegem três deputados, sob devido respeito a suas tradições e costumes (artigo 150). As autoridades desses povos também poderão aplicar em seu habitat (protegidos hoje pelo Estado) instâncias de justiça que apenas afetem a seus integrantes, e com base em suas tradições ancestrais. Os indígenas têm direito hoje a desenvolver sua identidade étnica, a visão de mundo, seus valores espirituais, aos lugares sagrados e de culto, e a uma saúde integral (artigo 119 a 126).

Os Direitos Humanos são celebrados na Constituição venezuelana hoje como em poucos países do mundo. Os delitos de Lesa Humanidade são imprescritíveis e estão excluídos dos benefícios que conduzem ao perdão, tais como o indulto e a anistia (artigo 29). O artigos 19 e 21 prevem que:

O Estado garantirá a toda pessoa, conforme o princípio de progressividade e sem nenhuma discriminação, o gozo e exercício irrenunciável, indivisível e interdependente dos direitos humanos. Seu respeito e garantia são obrigatórios para os órgãos do Poder Público em conformidade com esta Constituição, com os tratados sobre direitos humanos subscritos e ratificados pela República e com as leis que as desenvolvem.

Todas as pessoas são iguais diante da lei; como consequência: Não se permitirão discriminações com base na raça, no sexo, na crença, na condição social ou naquelas que, em geral, tenham por objeto ou por resultado anular ou desprezar o reconhecimento, gozo ou exercício em condições de igualdade, dos direitos e liberdades de toda pessoa. (...)

No que diz respeito à Educação, o Estado, que passa a considerá-la processo fundamental para alcançar seus fins - justiça social-, coloca-se na obrigação de fomentá-la de maneira gratuita e de qualidade, a qual deve assegurar o respeito a todas as correntes de pensamento e à identidade cultural de cada cidadão. Os pais têm o direito de dar a seus filhos a formação moral e religiosa de acordo com suas convicções. A educação passou também a ser obrigatória em todos os seus níveis, do maternal ao nível médio. E o Estado, progressivamente, compromete-se a oferecer gratuidade em nível universitário também. Tais garantias podem ser lidas nos artigos 3, 102 e 104.

Os Direitos dos Trabalhadores adquiriram protagonismo com a aprovação da Constituição bolivariana. Em nosso recente transcurso pelo país, foi sentida a satisfação da classe trabalhadora, inversamente proporcional ao descontentamento raivoso das classes dominantes (artigos 89 a 97). É proibido por lei na Venezuela hoje, demitir um funcionário sem justa causa, entre tantas outras conquistas que mudaram a vida da nação bolivariana.

Passa a haver também a inédita garantia à equidade de gênero no exercício do direito do trabalho (artigo 87), e o Estado passou a reconhecer também o trabalho doméstico como atividade econômica, o que significa que empregadas e donas de casa têm direito à seguridade social (artigo 88).

Quanto à preservação do Meio Ambiente, ela passa a ser obrigação das instituições públicas e privadas, devendo ser incluída em todos os níveis de educação. Há dever em se cuidar e manter o ambiente para que as pessoas vivam e desfrutem de uma vida saudável e ecologicamente equilibrada. É obrigação do Estado garantir que a sociedade se desenvolva livre de contaminação, onde o ar, o solo, a costa, o clima, a camada de ozônio e as espécies sejam protegidas (artigo 107).

O Poder Eleitoral, considerado internacionalmente o mais seguro do mundo conforme já abordado (intertítulo Sistema Eleitoral e Político, acima), é constitucionalmente independente, com o dever de garantir aos eleitores e aos cidadãos em geral a igualdade, a confiabilidade, a imparcialidade, a transparência e a eficiência dos processos eleitorais (artigo 293 a 295). Neste caso, mais uma vez na Venezuela, o direito não é uma letra morta, fato autenticado pelo mundo jurídico internacional como vimos.

A Soberania Nacional, tão importante para o país mais rico em petróleo do mundo como na caso da Venezuela, também adquiriu atenção histórica, o que tem estremecido a elite entreguista local e seus privilégios advindos das migalhas do Império norte-americano (artigo 10 a 15). As riquezas do país pertencem hoje ao povo, com bastante ênfase no petróleo, irreversivelmente nacionalizado (artigos 302 e 303). A água também está garantida como recurso de domínio público (artigo 304).

A Reforma Agrária e a Segurança Alimentar também está prevista na Nova Constituição, através do artigo 305 ao 309. A partir disso, declara-se o latifúndio como fator contrário ao interesse social - outro ponto que envolve amor e ódio entre a sociedade local, em relação ao governo bolivariano.

A Proteção à Constituição está garantida como inviolável no artigos 7, e 333 a 336. E se dá também através de um recurso consagrado pela primeira vez na história da Venezuela: O Controle Extraordinário - Recurso de Revisão Constitucional. Através dele, foi criada uma Sala especializada em jurisdição constitucional (artigo 336).

Golpe à Democracia 'Made in USA'

 

Semeamos paz, colhemos Pátria. "Yankees, go home". Paz
(Cartazes com manifestantes pró-governistas do Movimento Camponeses e Pescadores, e Indígena da Venezuela. Fevereiro de 2014)



A permanente tentativa de desestabilização contra a Venezuela é comprovadamente financiada e treinada por Washington, sempre em parceria com a grande mídia internacional, desde que Chávez assumiu a Presidência, em 1999. A oposição local, impotente e sem nenhuma proposta ao país, também tem sua parte na "fatia".

Nas "garimbas" do início de 2014, microfocos de violência ocorreram em 18 dos 335 municípios do país, fato transformado pelos meios de comunicação internacionais - que se utilizaram de montagens de imagens para acusar o governo bolivariano (veja aqui) - em grave crise generalizada pela Venezuela - a mídia é velha e envelhecida mestra em transformar minorias em maiorias, e vice-versa.

A ex-deputada María Corina Machado, quem recentemente recebeu cordialmente Aécio Neves no aeroporto de Caracas para protestar contra a "ditadura" de Maduro, posando para fotos de braços dados com o tucano brasileiro, logo após a eleição presidencial do dia 14 de abril de 2013, reuniu-se de maneira conspiratória com o historiador venezuelano, Germán Carrera Damas.

O teor da conversa, publicada através de gravações em 26 de junho, apresentou sérias revelações das antigas tentativas de golpe contra os governos progressistas locais, além de trazer uma vez mais à luz o quanto setores reacionários latino-americanos contam com o governo de Washington para manipular a opinião pública, gerar desestabilização e derrubar governos.

Vale recordar, especialmente em meio ao deserto da informação tupiniquim, que na gravação liberada pelo prefeito de Caracas, Jorge Rodríguez do mesmo partido de Maduro, a ex-deputada oposicionista disse ao historiador, entre outras coisas:

A única maneira de sair disso [derrota presidencial] é provocar e acentuar uma crise. Um golpe de Estado 
ou um autogolpe, porque... uma confusão e domesticação onde se gera um sistema de controle social total.


Germán Damas perguntou-lhe, "Isto, com apoio do Império, certo?", ao que María Corina respondeu, "Sim, senhor", contando sobre sua viagem secreta a Washington bem como de Ramón Guillermo Aveledo, ambos a fim de conspirar contra o governo local. Pois a "comadre" de Aécio Neves também participou, ativamente, do Golpe contra Chávez em 2002, patrocinado por Washington conforme já abordado. Além disso, foi uma das autoras da tentativa de magnicídio contra o presidente Maduro, segundo provas retiradas de seu correio eletrônico (veja seus correios eletrônicos criminosos com imagens do presidente Maduro como alvo, apontando onde deveria levar tiros, através desta ligação:

Os fundos do regime norte-americano a partidos de oposição na Venezuela ultrapassam 100 milhões de dólares, desde 2000. O partido Súmate de Corina Machado, recebeu ilegalmente verba do regime norte-americano. Prática ilegal tanto perante as leis dos EUA que proíbe financiamento a partidos políticos estrangeiros, quanto de acordo com as leis venezuelanas que não permitem que nenhum partido político receba verbas estrangeiras.

Reportagem do diário norte-americano Herald Tribune relatando o financiamento a Súmate pela Doação Nacional pela Democracia (NED, National Endowment for Democracy) órgão federal dos EUA criado por Ronald Reagan para promover "democracia" internacional.

As contribuições da NED para diversas organizações venezuelanas, apenas em 2012, superaram os 2 milhões de dólares. A NED tem desempenhado ao longo dos anos, desde sua fundação nos anos de um presidente de péssima memória (o do Irã-Contras), papel de órgão de fachada da CIA a fim de potencializar a ingerência do regime norte-americano, e desestabilizar nações.

Alguns dos membros que já passaram pela comissão da NED são nada menos que Henry Kissinger, maior arquiteto dos golpes militares da América Latina e do Plano Condor na região, entre outros personagens com histórico no mesmo sentido e sem nenhum perfil voluntarista, tais como Madeleine Albright, Zbigniew Brzezinski e Paul Wolfowitz, este que foi secretário adjunto de Defesa de George W. Bush (filho), e subsecretário de Defesa de Bush pai. Atualmente, faz parte da comissão Elliot Abrams, homem de confiança do ex-presidente Reagan.

O diretor do projeto inicial da NED, o professor Allen Weinstein da Universidade de Georgetown, admitiu no diário The Washington Post de 22 de setembro de 1991 que "muito do que fazemos hoje, era feito secretamente pela CIA 25 anos atrás". O Centro Norte-Americano para a Solidariedade Laboral Internacional (American Center for International Labor Solidarity), que trabalha em parceria com a NED, participou do golpe contra o presidente Chávez em 2002 através de reuniões com líderes oposicionistas venezuelanos que aplicariam o golpe, exatamente como se dá hoje (gravações publicadas na Venezuela revelaram reuniões secretas de "diplomatas" dos EUA com opositores ao governo, tais como a deputada María Corina, quem pediu desculpas públicas pelo fato).

Para o fiscal de 2014, Obama aprovou o envio de 5 milhões à oposição venezuelana conforme aponta este documento do Departamento de Estado dos EUA, detalhando o orçamento do país para este ano.

Note neste documento que o governo norte-americano se justifica perante a sociedade para o ilegal financiamento de desestabilização internacional, na velha retórica da segurança nacional dos EUA, seguida fielmente pela mídia predominante.

Neste memorando de 13/1/2014 do Brookings Institute, em sua maior parte financiado pelo governo dos EUA, é sugerido a Obama que "incite uma violenta reação popular ma Venezuela a fim de "derrubar os radicais e o presidente [Maduro]", o que inclui a possibilidade de um "golpe tradicional".

Telegrama secreto emitido da Embaixada dos EUA em Caracas a Washington, revelado por WikiLeaks, o embaixador americano no Chile, Craig Kelly, escreveu uma lista secreta de estratégias para minar o poder político do presidente venezuelano Hugo Chavez no continente:

"Conheça o inimigo: nós temos que entender melhor como Chávez pensa e o que ele pretende; - Engajamento direto: temos que reforçar nossa presença na região e nos aproximar fortemente, em especial com as "não-elites"; - Mudar o cenário político: Devemos oferecer uma mensagem de esperança e apoiá-la com projetos financiados adequadamente; - Aumentar as relações militares: Nós devemos continuar a fortalecer os laços com esses líderes militares na região que compartilham as nossas preocupações sobre Chávez", resumiu.

Kelly propôs ainda reforçar as operações de inteligência na America Latina para entender melhor os objetivos de Chavez a longo prazo, e pressionar os vizinhos a se voltarem contra ele, por exemplo, excluindo a Venezuela de acordos de livre comércio.

Kelly, que acabou de se aposentar como o número dois para temas do hemisfério ocidental no Departamento do Estado, reconheceu no seu telegrama que "Chavez conseguiu muitos avanços, em especial para as populações locais, ao fornecer programas para os desprivilegiados".

Para que haja mais noção da perfeita conexão dos fatos no que diz respeito aos podres poderes a nível global, vale recordar: o PSDB de Aécio Neves é apoiado pelos grandes meios de comunicação brasileiros, os mesmos promotores do golpe militar de 1964 patrocinado pela CIA; os mesmos que demonizam a Revolução Bolivariana.

O PSDB é, outrossim, citado como apoiante secreto de Washington, especialmente no que diz respeito ao petróleo brasileiro (para que, como nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, volte a ser entregue de mão beijada a Tio Sam) em telegramas secretos enviados de Brasília por agentes da CIA travestidos de embaixadores no Brasil, a exemplo do que ocorre em relação à oposição venezuelana, autora de golpes no país caribenho (com apoio sistemático da grande mídia local, financiada por Washington) em defesa do petróleo venezuelano... para Tio Sam, como era feito antes de Chávez, o que beneficiava a elite local.

A entrevista de John Perkins, autor de Confessions of an Economic Hit Man (Confissões de Um Assassino Econômico), ex-membro de alto escalão da comunidade internacional de bancos, além de economista- agente da CIA, à Democracy Now! dos Estados Unidos em 5 de junho de 2007, retrata bem o imperialismo estadunidense por todo o mundo, que acomete também a Venezuela.

Trechos da entrevista (tradução livre):

"Basicamente, o que nos ensinaram a fazer foi reforçar o Império estadunidense. Criar situações onde o máximo número de recursos naturais fluam a este país, a nossas corporações e a nosso governo, e na prática temos conseguido muito sucesso. Construímos o Império mais rico da história. Isso foi conseguido nos últimos cinquenta anos pós-Segunda Guerra Mundial. (...)

"O primeiro assassino econômico nos anos 50 foi Kermit Roosevelt, neto de Teddy, quem derrubou ao governo do Irã, democraticamente eleito - o governo de Mossadegh -, considerado o homem do ano pela revista [norte-americana] Time. (...) Kermit era agente da CIA (...)

"Meu verdadeiro trabalho [economista principal de uma empresa com cerca de dois mil funcionários] foi realizar empréstimos a outros países, enormes empréstimos, muito maiores do que eles poderiam pagar. Uma das condições de um empréstimo, digamos de um bilhão de dólares a um país como Indonésia ou Equador, era que esse país deveria dar 90 por cento do dinheiro emprestado a uma empresa norte-americana a fim de construir infra-estrutura (...).

"Tais projetos serviam, basicamente, apenas em benefício de algumas famílias mais abastadas desses países. As pessoas pobres daqueles países ficavam cravadas com essa assombrosa dívida, que não podiam pagar.

"Um país como o Equador hoje deve destinar mais de 50 por cento de seu gasto nacional apenas para pagar a dívida. E não pode fazê-lo. Os temos com a água no pescoço. Então, quando queremos mais petróleo, vamos ao Equador e lhe dizemos: 'Olhe, não pode pagar suas dívidas, então entregue seus bosques amazônicos que estão cheios de petróleo, a nossas companhias petroleiras'. E hoje estamos destruindo a Amazônia, obrigando o Equador a entregá-la porque acumulou muita dívida." (...)

Disse Alexis de Tocqueville: Amo-a [imprensa livre] mais por considerar os males que impede, que pelo bem que faz". É mais que lamentável que, quase 200 anos depois, a tal de "Imprensa livre", gritantemente, não faça hoje nem uma coisa nem outra, devendo nós, ainda, contentar-nos com a Teoria do Jornalismo predominante, ditada por Richard Salan, ex-presidente da rede de TV norte-americana CBS News entre os anos 1961 - 64 e 1966 - 79: "Nosso trabalho é dar às pessoas não o que elas queiram, mas aquilo que nós decidimos que elas devam ter".

Sobre isso tudo, vale deixar registrada uma dentre as tantas e tantas traquinagens da mídia comercial envolvendo a Venezuela.

O jornalista Laurindo Leal Filho e seus alunos de faculdade de Jornalismo visitaram a reunião de pauta do Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão (Brasil), em novembro de 2005. Pois o Laurindo Leal saiu dali indignado com algo, que o motivou fazer este relato público:

Depois de um simpático 'bom-dia', Bonner informa sobre uma pesquisa realizada pela Globo que identificou o perfil do telespectador médio do Jornal Nacional. Constatou-se que ele tem muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BNDES, por exemplo. Na redação, foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático mas obtuso personagem dos Simpsons, uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. É preguiçoso e tem o raciocínio lento.

A primeira reportagem oferecida pela 'praça' de Nova York trata da venda de óleo para calefação a baixo custo feita por uma empresa de petróleo da Venezuela para famílias pobres do estado de Massachusetts. O resumo da 'oferta' jornalística informa que a empresa venezuelana, 'que tem 14 mil postos de gasolina nos Estados Unidos, separou 45 milhões de litros de combustível' para serem 'vendidos em parcerias com ONGs locais a preços 40% mais baixos do que os praticados no mercado americano'. Uma notícia de impacto social e político.

O editor-chefe do Jornal Nacional apenas pergunta se os jornalistas têm a posição do governo dos Estados Unidos antes de, rapidamente, dizer que considera a notícia imprópria para o jornal. E segue em frente.


Milhões de brasileiros, depois de tudo (inclusive de golpe militar arquitetado e financiado pelos Estados Unidos, e promovido pela mídia predominante local), ainda se prestam a forma opinião tendo como base esse mesmo setor midiático, fazem a mais absoluta questão de desempenhar o inglório o papel de Homer na poltrona diante do show midiático diário, em detrimento da mídia realmente alternativa na era da Internet.

O consolo para a "grande família Simpson" tupiniquim é que tal privilégio não se resume às suas fronteiras - embora a preguiça intelectual local seja, incontestavelmente, bem mais crônica que em outros lados do mundo. Mas isso é outra discussão...

Hugo Chávez, até a vitória... sempre, camarada! Provavelmente o mataram, mas não seus sonhos e as sementes que deixaste!

 

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey