De Minsk a Gales, a chave é a Alemanha

A estrada para a reunião de Minsk na 3ª-feira, 26/8, começou a ser pavimentada quando a chanceler alemão Angela Merkel falou em programa distribuído pela televisão pública alemã ARD, imediatamente depois de uma rápida visita a Kiev no sábado.

28/8/2014, Pepe Escobar, RT, Moscou - http://rt.com/op-edge/183328-minsk-wales-germany-key/

Merkel afirmou que "é preciso encontrar uma solução para a crise na Ucrânia que não agrida a Rússia."

Acrescentou que "É indispensável que haja diálogo. A solução tem de ser política. Não haverá jamais solução militar para esse conflito."

Merkel falou sobre "descentralização" da Ucrânia, sobre acordo definitivo para os preços do gás, sobre o comércio Ucrânia-Rússia, e até deixou no ar que a Ucrânia é livre para unir-se à União Eurasiana promovida pela Rússia (a União Europeia jamais criará "grande conflito" por causa disso). Saem de cena as sanções; entram propostas firmes.

Merkel não poderia ter sido mais explícita: "Nós [Alemanha] queremos ter boas relações comerciais também com a Rússia. Queremos relações razoáveis com a Rússia. Nossos países dependem um do outro; e há tantos conflitos no mundo nos quais podemos trabalhar juntos, que espero que consigamos alcançar progressos".

Tradução simultânea de tudo isso é que não haverá nenhum Nulandistão (comandado pela neoconservadora Victoria 'Foda-se a União Europeia' Nuland), controlado por controle remoto de Washington e totalmente pago pela União Europeia. No mundo real, o que a Alemanha diz, a União Europeia obedece.

Geopoliticamente, implica revide gigante à 'contenção & cerco' obsessivos de Washington contra a Rússia, que avançavam paralelamente ao 'pivô para a Ásia' (contenção & cerco contra a China).

É a economia, estúpido

A economia da Ucrânia, agora sob intervenção do capitalismo de desastre - é hoje... bem, um desastre. Já passou há muito tempo da recessão; agora está em profunda depressão. Quaisquer futuros fundos que venham do FMI servem para pagar contas atrasadas e dar comida à máquina (em processo de derrota) militar; Kiev está lutando contra nada medos que o coração industrial profundo da Ucrânia. Nem é preciso repetir que as condições associadas ao 'ajuste estrutural' do FMI sangram diariamente os ucranianos.

Impostos - e cortes no orçamento - só crescem. A moeda, hryvnya, caiu 40% desde o início de 2014. O sistema bancário é piada. A noção de que a UE pagará as contas gigantescas da Ucrânia não passa de mito. A Alemanha (que manda na UE) quer acordo. É p'rá já.

A razão é simples. A Alemanha está crescendo só 1,5% em 2014. Por quê? Porque as sanções geradas pela histeria sancional de Washington estão machucando o business alemão. Merkel afinal captou a mensagem. Ou, no mínimo, parece que captou.

O primeiro estágio no rumo de acordo duradouro é energia. Nessa 6ª-feira, há reunião chave entre funcionários da energia russos e da União Europeia, em Moscou. E na sequência, semana que vem, a reunião será entre funcionários russos, da União Europeia e ucranianos. O comissário para energia da UE, Gunther Oettinger, que estava em Minsk, quer acordo provisório imediato, para garantir que o gás russo passe pela Ucrânia e possa chegar à Europa no inverno. O General Inverno, mais uma vez, vence qualquer guerra.

Aqui, essencialmente, o que se tem é a União Europeia - não a Rússia -, dizendo ao presidente Petro Poroshenko da Ucrânia que esqueça [orig. to stuff ] sua 'estratégia' (perdedora) de limpeza étnica em câmera lenta do leste da Ucrânia.

Moscou sempre insistiu que a crise na Ucrânia é problema político que exige solução política. Moscou aceitaria solução de descentralização considerando os interesses e - direitos ao próprio idioma - das populações em Donetsk, Lugansk, Odessa, Kharkov. Moscou não encoraja a secessão.

Poroshenko, por sua vez, é o típico oligarca ucraniano numa dança de oligarcas. Agora que está por cima, não quer virar carniça de beira de estrada. E pode virar, se confiar no 'apoio' dos neonazistas do Setor Direita e Svoboda, porque nesse caso jamais haverá solução política.

O Império do Caos, desnecessário dizer, não quer uma solução política - com uma Ucrânia neutra economicamente ligada à UE e à Rússia; integração econômica/comercial na Eurásia é anátema.

A questão geral é a OTAN

Em paralelo, todos e quaisquer diplomatas da União Europeia com consciência - ora bolas! Existem alguns! - sabem que a histeria non-stop em torno da 'ameaça' russa à Europa Oriental efeito de um mito promovido por Washington cujo único objetivo é promover a OTAN. O secretário-geral da OTAN, Anders 'Fog(h) da Guerra' Rasmussen soa como CD arranhado.

Não é segredo em Bruxelas que as grandes potências da União Europeia simplesmente não querem bases permanentes da OTAN na Europa Oriental. França, Itália e Espanha são acintosamente contra. A Alemanha continua sentada no muro, pesando cuidadosamente um modo de não antagonizar nem Rússia nem EUA. Desnecessário dizer que a "relação especial" anglo-norte-americana quer muito as tais bases, apoiada na histeria desencadeada por Polônia e estados bálticos - Estônia, Latvia e Lituânia.

Assim sendo, Fog(h) da Guerra está em previsível frenesi, promovendo "reforços rápidos", "facilidades de recepção", "pre-posicionamento de suprimentos, de equipamentos, preparação de infraestrutura, bases e quartéis-generais, e "uma presença mais visível da OTAN". Assim se prova cabalmente, mais uma vez, que o Império do Caos não dá importância à Ucrânia; a questão é, integralmente, a expansão da OTAN - e esse é o assunto chave do qual se falará semana que vem na reunião em Gales.

Agora já ninguém consegue fazer parar o assalto neoliberal sem barreiras contra patrimônios, a privatização selvagem e o saque alucinado na Ucrânia, disfarçados como empréstimos e 'ajuda'. Mas devorar a agricultura e o potencial de energia da Ucrânia não basta para o Império do Caso. Ele quer a Crimeia de volta (aquela futura base da OTAN em Sevastopol...). Ele quer mísseis de defesa plantados na Polônia e nos Bálticos. Ele adoraria, mesmo, mudança de regime na Rússia.

E então aparece o MH17. Se se confirmarem as suspeitas de que o Império do Caos engambelou a Europa, levando-a a aplicar sanções contraproducentes baseada na mais tosca das 'provas', a opinião pública alemã obrigará Merkel a agir conforme a situação real.

A Alemanha era o segredo por trás da reunião de cúpula de Minsk. Vejamos se a Alemanha será também o segredo por trás da reunião de cúpula de Gales. No final, cabe à Alemanha impedir que a Guerra Fria 2.0 esquente ,cada dia mais, por toda a Europa. *****

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey