HELDER CALDEIRA*
O senador Cristovam Buarque (PDT/DF) encerrou o ano legislativo com uma afirmação emblemática e dolorosa acerca dos descalabros e sem-vergonhices protagonizados pelo Congresso Nacional, especialmente nos últimos dias. Disse o parlamentar: "Estávamos ficando irrelevantes. Agora, nós estamos ficando ridículos". Cristovam só se equivocou no tempo verbal: não estão ficando; já são. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal do Brasil terminam 2012 assumindo o risco da inutilidade, integralmente desmoralizados.
Não bastassem as expressivas condenações do Supremo Tribunal Federal, provando com categoria que parlamentares brasileiros vendiam suas dignidades ao Poder Executivo comandado pelo PT em troca de mensalões, novamente o Judiciário vê-se obrigado a agir e determinar a cassação imediata de mandatos dos deputados federais condenados ao xilindró na Ação Penal 470. Fosse pela vontade da Câmara, teríamos mandatos exercidos dentro de uma penitenciária ou um camburão aguardando à porta do Congresso Nacional para conduzir diariamente à cadeia os deputados apenados em regime semiaberto. Uma excrescência, em suma.
Em outro ato de escárnio, nesta semana deputados e senadores colocaram um ponto final na CPMI do Cachoeira. Alguns apostavam na pizza, mas o forno, na verdade, terminou vazio. Estaca zero. O relatório final não foi aprovado, nada foi criteriosamente investigado e ninguém foi indiciado. Os parlamentares remeteram ao Ministério Público e à Polícia aquilo que deles receberam, sem qualquer progresso.
Criada para atender um capricho político-midiático do ex-presidente Lula da Silva, que pretendia alvejar o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, o ex-senador Demóstenes Torres e lançar uma cortina de fumaça no julgamento do mensalão, o alcance da CPMI "saiu pelo ladrão", literalmente. Desembocou nas relações da empreiteira Delta com governadores, especialmente aqueles do PMDB e da base aliada. Como sempre fez em dias de vergonha pública, Lula fugiu para o exterior com a desculpa de ministrar palestras milionárias e a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito findou seus trabalhos da forma mais indecorosa possível: sequer conseguiu aprovar o relatório final. Um vexame.
Por fim, a batalha pela distribuição ou não dos royalties do petróleo acabou se tornando pano de fundo na história de tétrico poder que os coronéis ineficientes ainda exercem no ambiente político nacional. Deputados e senadores foram massacrados pelo ministro Luiz Fux, do STF, ao determinar, em respeito à Constituição Brasileira, que os vetos da presidente Dilma Rousseff fossem analisados respeitando a fila que aguarda votação. A decisão da Suprema Corte acabou revelando aos brasileiros que há mais de três mil vetos aguardando análise e votação do Congresso Nacional. Pasmem: alguns deles estão engavetados há 12 anos, empoeirados e propositalmente esquecidos. Merecem ou não o título de vagabundos oficiais da nação?!
Interessados na grana fácil que os royalties podem gerar a seus Estados, o imortal senador José Sarney, atendendo ao pedido de líderes da tal base aliada (que mais parece uma quadrilha delinquente), convocou para o dia seguinte uma reunião extraordinária para análise de todos os vetos que engrossam a fila. De uma só vez e num único dia, pretendiam analisar e votar os mais de três mil processos de gaveta. Para que se tenha uma dimensão do absurdo, cada cédula de votação tinha 463 páginas. No dia convocado, humilhados e ridicularizados pela imprensa e pela opinião pública, deputados e senadores recuaram, desistindo da irresponsável ação. Uma piada!
No entanto, todas essas infâmias protagonizadas pelos parlamentares brasileiros têm um alto custo para o povo. Fora o preço político desses absurdos, os cidadãos pagam caro pelo deboche safado do colarinho branco legislativo. Observe uma matemática rápida: apenas na madrugada da última quarta-feira (19), a gráfica do Senado Federal, em atenção à pirraça de Sarney e sua turma, consumiu cerca de 400.000 folhas de papel para impressão das cédulas de votação dos vetos, além dos custos de tinta, encadernação, horas extras de funcionários e confecção de urnas especiais. Custo estimado: meio milhão de Reais.
Tudo foi parar no lixo na quinta-feira (20), já que a votação foi cancelada pós-escracho público. O mesmo aconteceu com o relatório de 4.883 páginas da CPMI do Cachoeira, impresso e encadernado para 60 parlamentares (entre titulares e suplentes). Mais 300.000 folhas jogadas no lixo, ao custo aproximado de R$ 400 mil. Conta rápida: em 24 horas e para esses dois casos específicos, o Congresso Nacional consumiu cerca de R$ 1 milhão apenas em papel e impressões que foram jogadas no lixo. Quando nada, em plena era digital, imaginar tamanha irresponsabilidade ambiental é uma afronta à lisura na administração pública e à inteligência dos cidadãos.
Quando o povo brasileiro vai se conscientizar que nós somos os pagadores de impostos e é com nosso suado dinheiro e a maior carga tributária do planeta que esses delinquentes oficiais cometem tais crimes contra a pátria? Pra dizer o mínimo, é alto o custo do ridículo.
Escritor, Jornalista a Apresentador de TV
www.ipolitica.com.br - [email protected]
*Autor do best-seller "A 1ª PRESIDENTA" (Editora Faces, 2011, 240 páginas) e Jornalista e Comentarista Político da REDE RECORD, onde apresenta o "iPOLÍTICA". Acaba de lançar seu primeiro romance de ficção: "ÁGUAS TURVAS" (Editora Faces, 2012, 278 páginas).
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