Paul Craig Roberts: Novo inimigo dos EUA

Republicano, economista e autor da famosa Reaganomia, Paul Craig Roberts não tem medo de criticar Washington. Em uma entrevista exclusiva para o "Pravda.Ru" abordou diferentes problemas políticos e económicos. Julga que a luta contra o terrorismo internacional já não é uma tendência dos EUA. Passaram a buscar inimigos entre os seus cidadãos, até teriam criado os campos especiais de concentração.

— Sr. Roberts, começemos a nossa conversa com uma pergunta sobre a política externa dos EUA que é extremamente agressiva. Sobre isso o Sr. tem afirmado repetidamente. Uma vez escreveu que Washington estava determinado a obter guerra em três frentes: no Oriente Médio ou seja na Síria, Líbano, Irã, no Extremo Oriente — China e na Europa ou seja na Rússia. Os EUA têm finanças para todas estas operações militares?

— Estados Unidos é um falido. No entanto, o dólar americano continua a moeda de reserva do mundo. Significa que os EUA podem imprimir dinheiro para pagar suas contas e lutar em guerras em todo o mundo. Isto é, até que o mundo aceite o dólar como moeda de reserva mundial, o governo dos EUA não se deve preocupar.

-Um papel importante desempenha a posição isolada dos EUA, digamos, a posição de uma ilha. Isso lhes permite experimentar impunemente sobre nações soberanas e não ter medo de guerra no seu território. Os EUA gastam em defesa na Europa e no Oriente Médio muito mais do que na proteção de suas fronteiras. Talvez a Rússia deva ser mais ativa e levar uma ameaça mais perto às fronteiras dos Estados Unidos, por exemplo, com a implantação de um sistema de defesa de mísseis nas águas territoriais de algum país amigo latino-americano?

— Eu, como qualquer verdadeiro reaganista, sou um defensor da paz. Acredito que os americanos, russos, chineses, iranianos e todos os outros devem gastar seus recursos a fim de dar-se bem, e não dominar os outros. É Washington que obriga Moscou e Pequim a gastar seus recursos para se defender, apesar de todo esse dinheiro poder ir para desenvolverem a economia e protegerem o ambiente. Sem eu ter mencionado que a hegemonia dos Estados Unidos está levando o mundo para uma guerra nuclear.

— Nesse caso o surgimento de uma contra-força sempre ajuda. Agora não a temos. Na sua opinião, o que impede a Rússia e China se unirem para enfrentar os EUA?

— Eu não sei a resposta exata a essa pergunta. Mas suponho que as relações entre a China e a Rússia possam ter uma suspeita mútua, como a, que, por exemplo, existe entre sunitas e xiitas e permite os EUA dominarem no Oriente Médio.

-Em relação ao Oriente Médio. Presidente dos EUA, Barack Obama, no ano passado fez uma declaração sensacional que um dos princípios da retomada das negociações de paz entre Israel e os palestinos é a necessidade de restaurar as fronteiras de 1967. Como é que o lobby judeu poderia ter permitido tal declaração?

— Tudo começou com o fato do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o lobby israelense chamaram o presidente Obama de " baço amigo de Israel" por Obama ter hesitado o ataque militar ao Irã. É possível que Barack Obama, acreditando-se o presidente da única superpotência do mundo, e não um fantoche do primeiro-ministro israelense, tenha sido ofendido pelo escárnio do governo de direita israelense. Acho que a declaração de Obama sobre as fronteiras de 1967 tenha sido uma alusão ao governo israelense de que foi longe demais.

— Sr. Roberts, agora passemos a discutir os problemas internos dos Estados Unidos. O Sr. chamou uma vez os Estados Unidos de um "estado policial". Expanda, por favor, a sua declaração.

— Falei principalmente do Patriot Act (Lei contra o terrorismo nos EUA — Red.), cuja adoção promoveu a administração de George W. Bush e Dick Cheney. Este Patriot Act contraria à Constituição dos EUA e afeta a liberdade dos cidadãos americanos. Com o presidente George W. Bush também foi legalizado, que o chefe do Estado americano não é obrigado a obedecer às leis dos Estados Unidos. Um bom exemplo — ignorância da Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira, que, aliás, exige uma ordem judicial para espionar cidadãos americanos.

Da mesma série é a prisão sem julgamento, o que tornou-se legal duante a governação de Bush Junior. Não há muito, o atual presidente dos EUA, Barack Obama, disse que as autoridades têm direito de matar cidadãos americanos em meras suspeitas, sem julgamento. Não são estes os sinais de um estado policial?

Neste sentido também manifestou-se o Departamento de Segurança Interna dos EUA. Declarou que dos terroristas muçulmanos faz passar sua atenção para "extremistas internos". O que significa o termo "extremistas internos", o Departamento não especificou. Com o mesmo Departamento revela-se outra coisa estranha. Há pouco, adquiriu mais de um bilhão de unidades de munição, para ser exato — balas expansivas. É suficiente para fuzilar toda a população dos EUA, e não uma vez.

Além disso, existem evidências que nos EUA foram construídos campos especiais. As autoridades relutantemente confirmam essa informação, mas dizem que seriam usadas em caso de evacuação, como por um furacão. Congresso e os meios de comunicação estão cientes desses fatos, mas mantêm -se suspeitosamente silenciosos …

— E como o Sr. está avaliando o estado atual da economia dos EUA? Fala-se muito que os EUA estão em um "buraco de crise". Se Sr. Roberts agora fosse nomeado o conselheiro da Casa Branca, como seria o seu plano da saída da crise?

— Pois, não me deixarão mais voltar para ser um conselheiro do presidente dos EUA. Desde os dias do presidente Clinton os conselheiros são apenas aqueles que têm capacidade de mentir "em benefício" do governo. Eu não quero fazê-lo e não vou.

Agora sobre a economia. Pessoalmente, não tenho certeza de que alguém vá ser capaz de retirar os EUA da crise econômica. O fato é que muita coisa que beneficiou a economia americana foi obtida na área offshore (a fim de aumentar os lucros das empresas e os bônus para executivos). Como resultado, os EUA perderam infra-estrutura industrial, mão-de-obra qualificada, e etc. Em teoria, os EUA poderiam obter as suas empresas de volta à América, há ainda mecanismos específicos …

A questão é, quem do estabelecimento se decidir efetuar essas reformas econômicas. As reformas, das quais estou falando, estão em conflito com interesses financeiros de um por cento da população norte-americana. E este por cento é a elite oligárquica e fica no poder nos EUA. Além disso, a independência o governo dos Estados Unidos perdeu durante a presidência de Bill Clinton. Em seguida, foi terminado com a democracia americana.

Entrevistou Lyuba Lulko

Leia original em russo

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Author`s name Lulko Luba
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