Afeganistão: O quê é que se passa, afinal?

Fontes da PRAVDA.Ru em Paquistão constatam que as forças militares dos E.U.A. estão retirando dos postos fronteiriços entre Afeganistão e Paquistão, enquanto o exército paquistanês ao mesmo tempo lança uma grande ofensiva contra os Taliban. É para permitir que os Taliban escapem, movendo-se livremente, o objetivo escondido sendo o enfraquecimento do Estado paquistanês? Se não for, parece.

Para responder a esta pergunta, muitas verdades precisam de ser ditas primeiro. Muhammad Omar, líder de Taliban, declarou em uma entrevista com o jornal paquistanês Dawn em 1998 – portanto três anos antes do 9/11 – que os EUA tinham oferecido ao seu governo 5 bilhões de dólares para permitir a construção de um gasoduto através de Afeganistão. Recordemos, quem criou os Taliban originalmente? (Os Mujaheddin foram ajudados, armados, equipados e incentivados pela CIA para lutar contra as forças soviéticas e depois se transformaram no movimento dos Taliban).

Muhammad Omar disse que não, e de repente os americanos tornaram-se interessadíssimos, em Afeganistão, aparentemente porque estava transformando-se num estado islâmico fundamentalista (mas quem lançou esse movimento “islamista”?) e os jornais ocidentais começaram uma campanha de demonologia contra o governo dos Taliban, reivindicando que eles negaram direitos humanos básicos às mulheres. Ou foi o motivo real o referido gasoduto? A lembrar, o governo soviético enviou as suas forças para ajudar o regime socialmente progressivo no Afeganistão, onde as mulheres tinham plenos direitos, onde havia educação universal e na altura, a resposta do Ocidente foi destruir a paz social com os Mujaheddin. Parece então que os direitos humanos não figuram entre as suas prioridades.

De facto, diz Mohammed Qasir, um sociólogo paquistanês “o que os jornais ocidentais disseram não era a mesma verdade que se via no terreno em Afeganistão. As mulheres estavam participando em todas as partes da vida em que sua participação era necessária, incluindo como médicas, todas as áreas exceto na defesa. Certo, não havia nenhuma co-educação, como também não havia nem há em outros países… mas havia educação e um sistema de instrução. E a história que os Taliban não permitiram às mulheres saírem das suas casas é um absurdo. Essa foi um apelo feito somente por algumas semanas em que tomaram Kabul e pediram que as mulheres e as crianças permanecessem em casa até que a cidade ficar segura.”

A mesma fonte declarou a PRAVDA.Ru que “os americanos estavam desesperados para encontrar uma maneira de atacar Afeganistão. Então aconteceu o 9/11. Os americanos pensaram que poderiam facilmente instalar um governo e controlá-lo com as suas tropas. Era uma parte importante do puzzle energético de Ásia Central. E em vez de controlarem o país o que aconteceu foi que os Taliban nunca se renderam. Agora os americanos reconhecem que não conseguem tomar o controlo de Afeganistão”.

Isso explica porque as forças da OTAN têm mudado as táticas repetidas vezes, agora no oitavo ano da guerra, ainda os Taliban permanecem invictos, e nem sequer um único membro do comando sénior da Al Qaeda foi capturado. E as baixas da OTAN chegam a níveis recordes.

Mas, porquê o movimento dos tropas dos E.U.A. afastando-se das áreas fronteiriças, quando os Taliban estão pressionados ao sul pelo exército paquistanês, que avança com uma superioridade numérica de 3 contra 1?

Mohammed Qasir afirma que “o objetivo principal é agora a queda ou enfraquecimento do exército e Estado paquistanês porque Paquistão é a única superpotência muçulmana, armada com mísseis nucleares. Paquistão foi chamado para entrar nesta guerra contra o terror para começar um jogo novo, esta vez de contra o Estado paquistanês. E é claro que esta pressão visa rasgar o Paquistão em duas partes, ou então enfraquecê-lo mortalmente.

“As pessoas não sabem, mas há umas diferenças enormes entre as províncias do Paquistão. Nas províncias de Sindh e de Punjab, a população está menos empenhado em atividades religiosas e estão pela maior parte contra os Taliban. Entretanto, Baluchistan e NWFP (Província Noroeste da Fronteira) são principalmente apoiantes dos Taliban.

“Recorde que Paquistão era o único país que reconheceu o governo dos Taliban, que era amigável para seu vizinho do sul. O problema começou quando este governo amigável foi removido pela força e os meios de comunicação social ocidentais começaram uma campanha do ódio contra eles. Tiveram êxito em alcançar os corações do governo e dos povos paquistaneses e viraram-nos contra seus antigos aliados, enquanto foi aplicada extrema pressão no governo em Islamabad para tomar ação militar contra os combatentes pashtune e Taliban em Afeganistão e Paquistão.

“Agora, neste momento em que falo com você, esta divisão foi mais longe, foi mais profunda, e o governo paquistanês decidiu atacar seu próprio povo que vive nas áreas tribais. Este é o ato mais horroroso porque estes eram as pessoas que lutaram pela independência de Paquistão. Então agora nós temos uma guerra entre dois povos muçulmanos, incitados a lutar pelo Ocidente. E nós temos o começo de uma guerra civil em Paquistão. Você vê o que conseguiram fazer? Não poderiam resolver o problema eles mesmos, e por isso arrastaram o Paquistão para fazer o seu trabalho e ao mesmo tempo clivaram divisões profundas na sociedade paquistanesa”.

Isso satisfaz muitas partes poderosas. Com a grande divisão das sociedades afegãs e paquistanesas, há tendência para o enfraquecimento quer dos Taliban, quer do Estado paquistanês num longo prazo. A seguir, há o gasoduto e a canalização dos enormes recursos de energia da Ásia Central. Índia fica feliz em ver seu inimigo embrulhado com islamistas. E entretanto há o bilionário comércio do ópio para explorar.

Talvez esses cenários respondem à pergunta, por estranha e ilógica que possa parecer, postulada no início desta peça.

Fonte: Mohamed Qasir, Pakistan

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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