O Direto da Redação, graças ao espírito crítico e observador do jornalista Mário Augusto Jakobskind, ligou o sinal de alerta no dia seguinte ao noticiário sobre a libertação dos reféns na Colômbia.
Antes da informação da rádio suiça sobre um possível acordo para o pagamento do resgate de 20 milhões de dólares a agentes das FARC, Jakobskind, mesmo não sendo o seu dia de enviar a coluna semanal, mandou uma extra com o título "O outro lado da história" , onde levanta alguns pontos que não mereceram a atenção da mídia conservadora. E deixou na ar a pergunta: resgate ou acordo com a guerrilha?
Logo depois de publicada a coluna, Jakobskind mandou um em tempo , com a informação da Rádio Suiça Romanda, de que teria havido um acordo com a guerrilha envolvendo o pagamento do resgate. O resto, segundo a rádio (pública) suiça, citando "fonte ligada aos acontecimentos, confiável e testada em reiteradas ocasiões nos últimos anos", foi encenação.
Depois do DR, profissionais independentes da imprensa brasileira, aprofundaram questões obscuras que estão sem resposta. A principal delas: como um grupo guerrilheiro que atua no interior da Colômbia há mais de 40 anos - e não é derrotado pelo exército regular do país - foi tão ingênuo a ponto de entregar Ingrid Betancourt, seu principal trunfo, a desconhecidos colegas de luta armada? Das duas uma: ou a guerrilha está tão enfraquecida que se vendeu por alguns milhões de dólares ou está completamente idiotizada e despreparada. As imagens divulgadas pelas autoridades colombianas, de péssima qualidade, mostram um clima bastante simpático no momento da entrega dos reféns, com guerrilheiros sorrindo para a camera, em contraste com as feições preocupadas de Ingrid, que aparentemente não sabia da possível encenação.
Fico com a primeira hipótese. As FARC perderam em março deste ano seus dois principais dirigentes: Raul Reyes, que foi morto na invasão do território equatoriano pelo exército colombiano, e Manuel Marolanda, seu fundador, que morreu de ataque cardiaco. Além disso, há guerrilheiros depondo as armas. Um deles, segundo a rádio suíça, teria sido o intermediário das negociações para pagamento do resgate. É possível, assim, que ela esteja de fato perdendo forças, o que não pode ser interpretado como uma derrota definitiva.
Nos Estados Unidos, principal aliado de Alvaro Uribe, o assunto mereceu especial destaque da mídia. Nos jornais , em várias manchetes apareceu a palavra "trick", que significa truque, para explicar como os militares colombianos tinham enganado os guerrilheiros. O governo americano dá substancial ajuda ao governo colombiano em conselheiros militares e dinheiro(fala-se em 5 bilhões de dólares), para o combate ao narcotráfico. E tinha o maior interesse na libertação de seus três cidadãos que são citados como contractors, mas na verdade são funcionários do Pentágono.
Para o governo Bush, o enfraquecimento das FARC significa o enfraquecimento dos governos de esquerda da América do Sul, especialmente Venezuela, Equador e Bolívia, o eixo do mal ao sul da nação norte-americana.
De resto, fica a imagem extremamente saudável e alegre da ex-senadora Ingrid Betancourt em contraste com aquela do cativeiro, distribuída no mundo inteiro, onde ela aparece muito magra e de cabeça baixa. Na época, disseram que ela estava muito doente e teria pouco tempo de vida se não fosse libertada imediatamente. Felizmente, as previsões estavam erradas. Ela está tão forte que assim que foi libertada viajou para Paris, onde foi agradecer o empenho de Sarkozy.
A França, aliás, junto com Espanha e Suíça, foram os principais negociadores pela libertação dos reféns. O que torna perfeitamente factível a hipótese do pagamento do resgate e a consequente encenação.
Mas isso, talvez, a história nunca venha a contar.
Eliakim Araújo
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