Primo de Uribe é preso na Colômbia e oposição pede novas eleições

Novos desdobramentos das investigações sobre o envolvimento do presidente Álvaro Uribe, seus familiares e seu grupo político com narcotraficantes e paramilitares conturbaram ainda mais o cenário político na Colômbia. Na terça-feira (22), a polícia prendeu o ex-presidente do Senado e primo do presidente – Mário Uribe – sob a acusação de manter ligações com grupo paramilitares.


Mário tentou, sem sucesso, conseguir asilo na Embaixada da Costa Rica, que lhe negou ajuda. Há seis meses, o primo de Álvaro Uribe renunciou a seu cargo no Senado para evitar um julgamento pela Corte Suprema.


O primo de Uribe é acusado de firmar acordos com grupos armados de ultradireita com o objetivo de expulsar milhares de camponeses de suas terras nos departamentos de Sucre e Antioquia. O ex-presidente do Senado é acusado também de se reunir por duas vezes com o líder máximo dos paramilitares, Salvatore Mancuso, com quem fez acordos eleitorais no começo de 2002.


A operação da prisão de Mário Uribe provocou uma verdadeira tempestade política no país, que assiste a prisão contínua de congressistas. Já são 62 parlamentares acusados nas investigações no escândalo denominado "narcoparapolítica" - a metade está atrás das grades.


Depois dos resultados das eleições de 2002, que deu o primeiro mandato a Álvaro Uribe, os próprios chefes paramilitares – julgados hoje a uma lei aprovada pelo presidente que lhes concede benefícios em relação ao antigo marco jurídico – proclamaram que pelo menos 35% do Congresso estava em suas mãos. Especialistas em política do país colombiano afirmam que esse percentual se ampliou nas eleições de 2006, quando Uribe foi reeleito.


A crise cresce em temperatura. Partidos da oposição pleiteiam a destituição do Congresso e a convocação de novas eleições. O presidente colombiano manifestou-se publicamente, na quarta-feira (23), sobre a prisão de seu primo e revelou que há uma investigação em curso para incriminá-lo com ligações com paramilitares e com uma matança de 17 camponeses, que ocorreu em 1997. Segundo Uribe, um ex-chefe paramilitar de Sucre – agora preso – está acusando-o de participar do planejamento de uma operação armada contra a população de Ituango (Antioquia), onde ocorreu a matança. Meios de comunicação locais afirmam que o autor da acusação é Francisco Villalba, condenado por 36 anos de prisão por dois massacres comandados pelas
Autodefensas Unidas de Colombia (AUC).


Trajetória comum

Além da ligação familiar, Mário é um dos principais sócios políticos do presidente colombiano há 20 anos. No Parlamento, desempenhava papel central na base de apoio ao governo. Ambos chegaram ao Congresso em 1986 e compartilharam durante anos o departamento de Bogotá. O caminho que conduziu Mário ao cárcere foi rodeado de episódios escandalosos e confrontos entre o Judiciário e o Executivo. Em setembro de 2007, o presidente Uribe convocou o presidente da Corte Suprema, César Julio Valencia, para perguntar-lhe sobre as investigações contra seu primo.


O magistrado denunciou publicamente o constrangimento, que qualificou de intervenção indevida no Poder Jurídico. Já o presidente Uribe negou a convocação e iniciou uma campanha pública contra Valencia.


Tampouco é a primeira vez que surgem denúncias do envolvimento de familiares de Uribe com paramilitares e narcotraficantes. Nos anos 80, o pai do atual do presidente manteve relações com reconhecidos chefes dos cartéis de Medellín, em especial com o clã Ochoa e Pablo Escobar. A ex-amante de Escobar, Virginia Vallejo, afirma em seu livro "Amando Pablo, odiando Escobar" que o pai de Uribe – ex-diretor da Aeronáutica Civil – concedeu dezenas de licenças para abertura de pistas e aviões de narcotraficantes.


Fonte: La Jornada (México)

24/04/2008

Comitê de Solidariedade ao Povo Colombiano

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