O grande desafio…

“O mundo tem o suficiente para as necessidades de todos, mas não para a ganância de todos.” (Mahatma Gandi)

Em recente fórum sobre Gestão Ambiental, pronunciámo-nos desabridamente sobre a contradição fundamental entre uma Economia que produz desperdícios em excesso, alguns não recicláveis e tóxicos, que vive do consumo exacerbado, e as ingentes preocupações ecológicas ali manifestadas. Acrescentámos que enquanto prosseguirmos na lógica do lucro pelo lucro, de um desenvolvimento económico assente no crescimento ilimitado, a protecção do meio ambiente não passará de mais uma linda bandeira sem consequências práticas para a saúde do Planeta. Não passará de mais uma legenda para servir os grandes interesses económicos, afinal os primeiros responsáveis morais e materiais pela degradação actual do meio ambiente.

A Ecologia é para muitos uma moda e ser “verde”, é ser-se politicamente correcto. Agrada e tem mercado. Daí os estrategas do marketing de a incluírem cada vez mais nos seus pacotes publicitários. As grandes marcas não se coíbem de, através da comunicação, mostrar ao público que estão preocupadas com a saúde do Planeta e logo com os seus clientes…

Porém no fabrico dos produtos que comercializam, tais preocupações são quase sempre ignoradas. Começa porque muitas delas recorrem a mercados de trabalho onde se faz da Ecologia tábua rasa, para não falar de uma mão-de-obra sem direitos sociais, o que não sendo uma questão ecológica, mostra a mesma falta de ética que se observa com a mãe Natureza.

Veja-se o que se passa na China, dita Comunista, o segundo maior poluidor do mundo a seguir aos USA. As multinacionais, como a General Electric, ao abrigo dos últimos acordos da OMC deslocalizaram a sua produção fabril para aquele país para beneficiar dos baixos custos nele praticados, pouco se importando com a ausência de normas de protecção do ambiente. Em contrapartida o mercado Ocidental é agora enxameado de bugigangas chinesas em cujo processo de fabrico não existem quaisquer preocupações de ordem social e menos ainda, ecológicas. E todos aplaudem os benefícios duma troca que, além da exaustão de recursos naturais, “está-se nas tintas” para os consequentes danos ao ambiente.

Tornámo-nos reféns do Petróleo que está presente em todo o processo produtivo da nossa Economia e em grande parte no consumo, precisamente um dos recursos naturais cuja exploração mais polui quer a nível da litosfera, quer da atmosfera. Contudo quase ninguém questiona esse facto. Nigel Woodcock, geólogo do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Cambridge, refere que o “Os efluentes provenientes da exploração do Petróleo afectam todas as partes do ambiente” e acrescenta que “A ética actual permite que as empresas petrolíferas revelem nos seus balanços os rendimentos provenientes da extracção e da venda de um recurso natural, mas também lhes permite que omitam os custos dos danos provocados nos sistemas naturais pela utilização desse recurso.” ( “Ciência para a Terra” pág. 187). Apesar disso fazem-se guerras para controlar este recurso e as tentativas por uma energia limpa continuam muito tímidas, porque a análise do custo-benefício, na opinião dos estrategas da Economia vigente, continua favorável ao “ouro negro” e aos seus derivados.

A falta de uma verdadeira cultura ecológica não existe apenas nos agentes económicos. A nível dos cidadãos também está ausente e de que maneira. Basta olharmos para o lixo que vemos à volta dos contentores ecológicos para verificarmos como isso é dramaticamente evidente.

Invariavelmente se observa material orgânico lançado onde só deveria haver vidros ou plásticos. E o consumo? Quase ninguém se preocupa com os gastos de água e de energia. Entre nós ainda se pensa que desde que se pague, pode-se consumir indiscriminadamente. Ademais consome-se compulsivamente, sem a mínima preocupação com a origem dos bens, o seu processo de fabrico, o seu impacto ambiental, etc. etc., alimentando um sistema que é na sua essência destrutivo e que, em última análise, pode pôr em risco a sobrevivência da própria Humanidade e a Vida no Planeta no seu conjunto.

Entretanto em vastas regiões do planeta, endemicamente atrasadas devido ao Colonialismo de séculos e à corrupção das elites surgidas após a independência, as populações anseiam a um legítimo desenvolvimento económico. Quando se tem sede não se questiona a qualidade da água… O modelo desejado é obviamente o do 1º. Mundo, que é apresentado como a única solução para a pobreza reinante, mas que na verdade, além de não ser o mais adequado, não passará de uma quimera em virtude da Divisão Internacional do Trabalho há muito estabelecida. Veja-se que até no mercado de quotas das emissões de gases de efeito de estufa, os países mais desenvolvidos industrialmente e logo os mais poluidores, levam vantagem em relação aos mais pobres. E na Conferência de Nairobi o “direito de poluir” foi aperfeiçoado a favor dos primeiros. De agora em diante será permitido a estes poluir em países menos poluidores, do ponto de vista industrial, sendo isso encarado como uma vantagem para os segundos… Um claro exemplo de oferta envenenada…

Tudo isto mostra como estamos longe de uma verdadeira consciência ecológica, tão necessária para sobrevivermos e manter a Vida no Planeta. O grande desafio está numa mudança de mentalidades que permita modificar a actual tendência suicidária da Vida no nosso Planeta, criando uma Economia que compatibilize a necessidade de crescimento com a sustentabilidade do Meio Ambiente de um modo holístico e não casuísticamente ao sabor dos grandes interesses. Será que ainda vamos a tempo?

Artur Rosa Teixeira

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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