A perseguição aos Bahá´ís no Iêmen

A história da Fé Bahá'í no Iêmen data do alvorecer da Fé, quando O Báb, Arauto da Fé, parou no porto de Al-Mocha, localizado atualmente no Iêmen, durante Sua viagem à Mecca, no início do século XIX, e revelou, nesta terra, Epístolas a Seus seguidores.
Nos últimos anos, estima-se que a comunidade bahá'í nesse país tenha alguns milhares de seguidores que comprometem-se a contribuir para o bem-estar da sociedade iemenita em diversas esferas, inclusive colaborando para a erradicação da crescente crise humanitária que assola o país. No entanto, esses esforços têm sido reduzidos cada vez mais, pois autoridades em Sana'a passaram a disseminar notícias falsas sobre a comunidade bahá'í e a encarcerar indivíduos que estivessem colaborando nessas atividades.
Em 2008, sob a presidência do Sr. Abdullah Ali Saleh, as autoridades detiveram seis bahá'ís em razão de sua fé e, eventualmente, deportaram dois deles.
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Em dezembro de 2013, Hamed Kamal bin Haydara foi preso pelas autoridades em Sana'a, e recebendo acusações infundadas, inclusive de atuar como espião de Israel. Ao longo de sua prisão, ele sofreu várias formas de tortura, inclusive tendo sido espancado e eletrocutado. Sr. Haydara teve repetidamente negado o tratamento médico necessário para sua vesícula biliar e seu coração. Além disso, dezenas de audiências foram canceladas ou adiadas injustificadamente ao longo de vários anos.
Em agosto de 2016, autoridades em Sana'a prenderam mais de 60 homens, mulheres e crianças em uma conferência educacional organizada pela Fundação Nida e pela comunidade bahá'í do Iêmen. As autoridades também invadiram as casas dos bahá'ís e apreenderam seus telefones e documentos, incluindo passaportes, além de terem pressionado parentes e amigos a pagarem pela libertação dos prisioneiros.
Em abril de 2017, as autoridades pediram a prisão de mais de 25 bahá'ís sob acusações semelhantes, como demonstrar bondade e retidão de conduta para atrair mais pessoas à sua fé. Muitas pessoas na lista de detenções eram membros proeminentes da comunidade bahá'í, incluindo Walid Ayyash, um notável líder tribal do Iêmen que serve à comunidade bahá'í como Conselheiro, bem como indivíduos que ajudam na organização de assuntos da comunidade. Ayyash foi sequestrado neste mesmo mês e permaneceu preso desde então.
Em junho de 2017, fontes no Iêmen indicaram que o caso contra alguns bahá'ís agora havia sido ampliado para a comunidade bahá'í em geral. De fato, um advogado não-bahá'í, amigo dos bahá'ís, foi contatado por um alto funcionário da Segurança Nacional, o qual disse que um grupo de advogados estava sendo formado para transformar a opinião pública contra a Fé bahá'í. Outra fonte confiável no Iêmen indicou que a Segurança Nacional e o Sr. Rajeh Zayed, o principal promotor no julgamento de Haydara, estavam formulando um plano contra os bahá'ís a fim de deturpar a relação dos bahá'ís com Israel e de promover a afirmação errônea de que os bahá'ís formaram seitas secretas e perigosas que visam à interrupção da paz e da segurança do Iêmen.
Em setembro de 2017, pelo menos sete bahá'ís em Sana'a foram presos, incluindo o Sr. Walid Ayyash. Além do Sr. Haydara (52 anos) e do Sr. Kayvan Ghaderi, o paradeiro desses Bahá'ís ficou desconhecido por várias semanas. Muitos outros bahá'ís continuam a se mudar de um lugar para outro para evitar sua prisão. Nesse mesmo mês, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos relatou violações e abusos dos direitos humanos no Iêmen e confirmou as prisões de Bahá'ís em agosto de 2016 e em meados de 2017.
Em outubro de 2017, o irmão de Walid Ayyash, Sr. Akram Ayyash, foi preso depois que forças de segurança iemenitas invadiram uma reunião bahá'í em Sana'a para comemorar o Bicentenário do nascimento de Bahá'u'lláh. Os agressores supostamente tinham quatro carros e um veículo blindado, que usaram para derrubar a porta da frente da casa da família de Walid Ayyash.
Em 2 de janeiro de 2018, o juiz Abdu Ismail Hassan Rajeh condenou Sr. Haydara a ser executado publicamente devido à sua associação com o Centro Mundial Bahá'í em Haifa, Israel. O veredicto do tribunal também exigiu o confisco de todos os seus bens e a dissolução de todas as Assembleias Bahá'ís no Iêmen.
Em meados de março de 2018, soube-se que o Procurador Geral, Diyauddin Baghdadi, que apoiava os bahá'ís, foi substituído por outro indivíduo que se posiciona abertamente contra os bahá'ís e colabora com os dois chefes do Departamento de Segurança Nacional. Então, em uma reviravolta ameaçadora dos acontecimentos, o líder dos Houthis no Iêmen, o Sr. 'Abdu'l-Malik al-Ḥúthí [Sr. 'Abdu'l-Malek al-Houthi], fez um discurso em 23 de março de 2018, por ocasião do primeiro dia de Rajab, que comemora a abertura do Iêmen ao islamismo, denunciando fortemente a Fé Bahá'í e alertando os iemenitas sobre o "movimento satânico bahá'í" que está "travando uma guerra doutrinária" contra o Islã; ele descreveu os bahá'ís como infiéis e negadores do Islã e do profeta Maomé, disseminou outras falsidades sobre a Fé Bahá'í e sua relação com os países ocidentais e Israel; e, finalmente, instou os iemenitas a defenderem seu país contra os bahá'ís e membros de outras minorias religiosas sob o pretexto de que "aqueles que destroem a fé das pessoas não são menos maus e perigosos do que aqueles que matam pessoas com suas bombas". Em poucos dias, mais de vinte sites de notícias iemenitas e outros árabes relataram seu discurso, alertando um grande número de seguidores armados especificamente sobre os bahá'ís. Além disso, um proeminente escritor e estrategista Houthi dirigiu uma postagem em uma mídia social para um conhecido bahá'í iemenita, ecoando a ideia de que os bahá'ís pertenciam a uma religião satânica, além de dizer que os Houthis vão "exterminar todos os bahá'ís". À luz de tudo isso, a última ação de al-Houthi pode ser descrita como um incitamento ao genocídio.
Outro ponto importante a ser destacado são as semelhanças entre a perseguição aos bahá'ís no Iêmen e no Irã. Diversas fontes independentes têm, desde 2016 e através de suas conversas com várias autoridades no Iêmen, repetidamente confirmado que as autoridades iranianas estão direcionando esforços para perseguir os bahá'ís no Iêmen, o que incluiu a pressão para deportar os descendentes de iranianos para o Irã.
Embora um número limitado de autoridades houthis tenham se posicionado em favor dos bahá'ís, alguns indivíduos específicos, a saber, Abdulrab Jurfan (comumente referido como Abu Taha), o chefe do Departamento de Segurança Nacional, e Mutlaq Al-Murani (conhecido como Abu Emad), o vice-chefe do mesmo Departamento, assim como o Sr. Rajeh Zayed da Promotoria Pública, demonstraram comportamento antiético contra os bahá'ís e são relatados por vários indivíduos no Iêmen como tendo recebido instruções do Irã a fim de perseguir a comunidade bahá'í.
As várias formas de perseguição vividas pelos bahá'ís iemenitas têm um impacto semelhante com o que os bahá'ís do Irã experimentaram em seu país, como a acusações infundadas para aprisionamentos, afirmando que eles são uma ameaça à segurança nacional e espiões de Israel. Além disso, as autoridades no Irã e em Sana'a, no Iêmen, estão visando explicitamente as lideranças da comunidade bahá'í, note-se, por exemplo, a ordem de dissolução das Assembleias Bahá'ís. O relator especial da ONU sobre a liberdade de religião ou crença, Dr. Ahmed Shaheed, comentou ele mesmo a semelhança notável da perseguição contra os bahá'ís no Iêmen à perseguição contra os bahá'ís no Irã.
A comunidade bahá'í no Iêmen também é conhecida por ter tido, ao longo da última década, fortes relações com membros de vários grupos, incluindo os Houthis. Por exemplo, em 2 de maio de 2016, o General Jalal-Ali al-Rawyashan, Ministro Interior, escreveu uma carta ao presidente do Conselho Supremo Revolucionário, Muhammad-'Ali al-Houthi, bem como em 9 de maio de 2017, ao Sr. Saleh al-Samad, presidente do Conselho Político Supremo Houthi, pedindo que fosse concedido perdão presidencial ao Sr. Haydara, bem como sua libertação. Além disso, o procurador-geral, Diyauddin Baghdadi, escreveu ao Chefe da Segurança Nacional em 17 de janeiro de 2017 solicitando a libertação do Sr. Keyvan Ghaderi, preso em agosto de 2016. Em 15 de maio de 2017, centenas de iemenitas, liderados por representantes de grupos e ativistas de direitos humanos abordaram Promotoria Criminal Especializada exigindo libertação de Walid Ayyash. Poucos dias depois, alguns representantes assinaram uma forte declaração denunciando as atividades de perseguição e pedindo a investigação pelo judiciário sobre as ações do Sr. Rajeh Zayyed, o promotor público que consistentemente tem perseguido os bahá'ís. Em julho e agosto de 2017, foi relatado que Saleh al-Samad ordenou que Abu Emad, da Segurança Nacional, libertasse os bahá'ís, o que não foi feito. Além disso, os advogados locais fizeram repetidas abordagens às autoridades em nome dos bahá'ís.
Até o presente dia, seis bahá'ís estão na prisão de Sana'a. A seguir estão seus nomes e a data de seu encarceramento:
Sr. Hamed Kamal bin Haydara, 3 de dezembro de 2013 (Condenado em 2 de janeiro de 2018 à execução pública, sem data definida até hoje)
Sr. Kayvan Ghaderi, 10 de agosto de 2016
Sr. Walid Ayyash, 20 de abril de 2017
Mr. Wael Al-Arieghie, 23 de maio de 2017
Sr. Badiullah Sana'i, pela segunda vez em 25 de maio de 2017
Sr. Akram Ayyash, 22 de outubro de 2017
Diante desse quadro, é muito importante que a difícil situação de perseguição religiosa que está ocorrendo no Iêmen venha a público, de modo que intervenções eficazes sejam feitas junto às autoridades Houthis para que cesse a incitação ao ódio contra a Fé Bahá'í e outras religiões.
Comunidade Bahá´í do Brasil