O Bahia e o efeito gravidade

É emocionante ver a torcida do Bahia. Certa feita fui com um amigo argentino (sim, os argentinos são amigos apesar de Galvão Bueno) assistir a um jogo entre Bahia e Vasco na antiga Fonte Nova, aquela de gloriosa passagem por onde trilharam Gajé, Pelé, Beijoca, Leguelé, Buticci e tantos outros, sem esquecer Nadinho e Osny e Zico e Toninho Cerezzo, tantos outros de toda a confederação que aqui jogaram ou por aqui passaram.

Jolivaldo Freitas

Meu amigo argentino ficou ensandecido. Pouco viu do jogo pois estava mesmo era vidrado, sedado, hipnotizado pela torcida tricolor. Ele disse à época que nem a torcida do Boca Juniors que é pirada é tão louca e apaixonada pelo time como é o torcedor do Bahia. Do pouco que viu em campo me disse:

- O time não é muito bom, mas a torcida parece que está lá dentro do campo empurrando, defendendo e lançando a "pelota".

Realmente a equipe era fraca e o Vasco só tinha estrelas, inclusive Roberto Dinamite. Mas a torcida fazia tanto sua parte que o Bahia jogava certo, bonito, com a raça característica. Raça que vem de onde? De onde? Da arquibancada meu caro.

Mas vejo hoje - apesar de todo empenho e dedicação do meu colega Marcelo Sant´Ana - que o Bahia vive a angústia do elevador. Fica num eterno sobe e desce. Difícil fazer um time completo, certo, com jogadores bons em todas as posições quando o dinheiro é apertado, o orçamento explorando cada buraco de cinto. Onde estão os grandes patrocinadores? No Sul e Sudeste. As empresas que poderiam estar ajudando ao Bahia ou estão em crise ou estão na penumbra do Lava jato.

Então o tricolor fica a cozinhar o porco com a mesma banha enquanto os times lá das regiões mais abaixo do mapa: Minas, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul, concentram os melhores cérebros em termos de técnicos. Arrebanham os melhores jogadores do país e fazem times imbatíveis. Daí o Bahia sobe - como tenho certeza que vai subir para a elite do futebol brasileiro de onde nunca deveria ter saído em tempo nenhum - mas vêm os times com mais estrutura e mais talentos e nos aplicam depressão na veia.

De que adianta ter uma torcida tão loucamente apaixonada se o time tenta corresponder - e vemos que os jogadores dão tudo de si e às vezes dar tudo não significa dar muito - mas as pernas não obedecem, o cérebro embota, o talento mina? E dói mais ainda quando a torcida vê talentos revelados nas divisões de base que não podem ser usados pela camisa de onde se originou, vez que sua venda é eminente e precisa, necessária, pois mesmo quem é perna de pau tem de receber o salário. E assim fica o ciclo vicioso. Contrata barato pois não tem dinheiro. Não tem dinheiro porque tem de contratar perna-de-pau e estes não levam o clube a lugar nenhum mas precisam receber.

O que fazer? Como vencer a força da gravidade a partir do ano que vem quando estiver na Primeira Divisão e não ter de cair para segundona de novo; travéiz? É hora de pedir adjutório a Senhor do Bonfim. Mas, mesmo ele vai precisar que o Bahia tenha bons jogadores para que possa ajudar. Mas para contratar precisa de dinheiro, assim como para comprar velas para o pai Oxalá. Valha-nos!

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey