Brasil quer deixar de ser freguês do México

Após se dar bem na estreia da Copa das Confederações (3 a 0 sobre o Japão), o Brasil busca espantar seus medos hoje, a partir das 16h, contra o México, no Estádio Castelão, em Fortaleza. O jogo vale muito mais do que a possível classificação antecipada - se vencer e a Itália não perder para o Japão, a Seleção do técnico Luiz Felipe Scolari já garante a vaga na semifinal. O México tem sido a pedra no sapato da equipe verde-amarela.

Thiago Silva

No ano passado, o sonho de conquistar a inédita medalha de ouro olímpica se tornou pesadelo após derrota (2 a 1) para o rival, em Londres, na decisão. Neymar, Oscar, Hulk e Thiago Silva, entre outros, estavam naquele time.

O confronto na capital inglesa não foi o único que o Brasil assistiu aos mexicanos comemorarem. Em dois dos três encontros dos times em edições da Copa das Confederações, o México levou a melhor, com vitórias em 2003 (1 a 0) e 1999 (4 a 3) - a última, inclusive, foi a final. O único jogo que o Brasil venceu foi na de 1997, por 3 a 2.
Os resultados negativos nos últimos 15 anos aumentam com as vitórias mexicanas nas edições da Copa América de 2001 (4 a 3) e 2007 (2 a 0).

Para o atacante Hulk, será uma partida muito complicada para os brasileiros saírem com os três pontos. "Tive a felicidade de estar nos Jogos Olímpicos em Londres. É uma grande equipe, mostrou belo futebol, infelizmente não conseguimos vencer. Foi frustrante, queríamos a medalha inédita. Então, sabemos da seleção que vamos enfrentar amanhã (hoje) e temos consciência de que é forte time", frisou.

Oscar assegurou que o confronto na Inglaterra foi o pior de sua carreira pela Seleção. "Mas também venci o México em uma semifinal de Mundial Sub-20. Perdi na Olimpíada, mas a gente sabe que o time é muito bom, está crescendo e bem", ressaltou.

Segundo o zagueiro David Luiz, os mexicanos aprenderam como se comportar diante do Brasil. "É uma equipe que tem jogadores de grande qualidade, sabem enfrentar o jogo brasileiro. Tiveram sorte e competência em partidas no passado contra a gente. Tenho certeza de que vão nos respeitar, como os respeitamos, mas vão querer ganhar, a exemplo de nós", destacou.

Para evitar outra surpresa hoje, o comandante brasileiro revelou que recebeu dossiê do México e prevê que o rival será muito melhor que o Japão. "É uma proposta de jogo bem diferente, o esquema tático também. Se não trabalharmos a bola rapidamente, teremos muitas dificuldades", destacou o treinador, que vai manter a equipe da estreia.

Felipão diz que viagens pelo País são um inferno
O técnico Luiz Felipe Scolari chamou de 'inferno' a peregrinação da Seleção Brasileira pelo Brasil na Copa das Confederações. Ele criticou o assédio do torcedor a todo instante, os pedidos que chegam à comissão técnica e os mandos e desmandos do COL (Comitê Organizador Local) e da Fifa. Também reclamou que seu time não tem lugar fixo para treinar, uma casa, e que isso provoca desgastes e dificuldades.

"Em 2002, era fácil porque era fora do Brasil. Aqui é um inferno. O grande problema do Brasil na Copa é ter a competição no País. Era muito mais fácil jogar lá fora", disse o treinador no programa Bem, Amigos!, do SporTV.

Por outro lado, Carlos Alberto Parreira também condenou as condições oferecidas ao grupo, como os ônibus com vidros escuros, impedindo contato melhor com o torcedor. "Não fomos nós que pedimos ônibus com vidros escuros, que o torcedor não consegue sequer dar um tchau para os jogadores. Essa condição nos foi imposta", disse o coordenador técnico.

Felipão foi o primeiro a pedir que o povo brasileiro abraçasse a Seleção. Ele pretende mudar algumas regras do COL e da Fifa para estreitar o relacionamento de agora em diante.

Muito provavelmente os treinos do time deverão ser abertos - não todos -, mas pelos menos um deles, e com a participação maior do público nos locais.

A comissão técnica espera com ansiedade pela reforma da Granja Comary, no Rio, onde pretende se fechar com o elenco para a Copa do Mundo. "Precisamos ter uma casa para treinar e, assim, trabalhar melhor. Aí não tem melindre", destacou o treinador.

Felipão tratou de deixar bastante claro que ele não é o grande vilão desta história em relação à presença do torcedor nos treinos da Seleção. "O público pensa que são os integrantes que fecham o treino. Não é verdade. Somos muitas vezes obrigados a fechar. A Fifa exige, o COL exige. Gosto de liberar nas vésperas de jogos para todos, porque acho absurdo assistir só à roda de bobinhos dos 15 minutos inicias. Às vezes, tem campeões do mundo assistindo ao treino e eles vão embora aos 15 minutos?", destacou. (da AE)

Apesar da estreia vitoriosa, técnico cobra evolução da equipe hoje
A vitória por 3 a 0 sobre o Japão, sábado, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, no jogo de abertura da Copa das Confederações, não deixou Luiz Felipe Scolari iludido para a sequência do torneio. Embora confirme a escalação, ele destacou que será preciso melhorar o nível de atuação diante do México.

Para Felipão, o Brasil tem de se manter em constante evolução, embora admita que o time vem dando sinais de melhora desde quando reassumiu o comando técnico.

"Nós ganhamos esses últimos dois jogos (ambos por 3 a 0, nos amistosos contra a França, e na estreia diante do Japão), mas ainda falta alguma coisa, situações a serem trabalhadas para que possamos dizer 'estamos prontos'", opinou Felipão. "Os jogadores sabem disso e estão trabalhando. Se queremos atingir o nível das grandes seleções em uma disputa de Copa do Mundo, temos de melhorar", completou.

O comandante assegurou que o Brasil não vai mudar a forma de jogar devido às dificuldades que os mexicanos impõem. "Devemos saber todas as qualidades dos nossos adversários, mas vamos na medida do possível tentar impor o nosso estilo", explicou.

Adversário tenta diminuir pressão com três pontos

Se o retrospecto não é favorável ao Brasil, serve ao menos de consolo à má fase do México nos últimos jogos. Sob o comando do técnico José Manuel De la Torre, neste ano a equipe venceu apenas um de dez jogos, com incríveis oito empates e uma derrota, com pífio aproveitamento de 33,3%.

Das partidas, o time não marcou em cinco confrontos e o treinador é bastante questionado pela imprensa local.
A seleção, inclusive, está com dificuldade em conquistar a vaga para a Copa do Mundo de 2014. No hexagonal final das eliminatórias da Concacaf, o México venceu somente um jogo e empatou os outros cinco, somando oito pontos, em terceiro lugar - apenas os três melhores asseguram vaga.

Porém, Honduras, com sete, e Panamá, com seis, têm um jogo a menos. Caso não se classifique, poderia gerar grande crise na federação mexicana. Assim, vitória hoje se torna crucial para as pretensões da equipe - evitaria a eliminação precoce -, depois da derrota (2 a 1) para a Itália, na estreia, no Rio.

"Nós sabemos que o Brasil será tão complicado como foi a Itália. Por isso, temos de pensar sobre o que fizemos bem e o que tivemos de errado para sermos capazes de levantar a cabeça", disse o meia Jesus Zavala.
Para tentar surpreender novamente o Brasil, De la Torre escondeu os treinos antes do jogo e não revelou a equipe que entra em campo. O treinador aposta na juventude da equipe porque os jogadores ainda atuam no futebol mexicano e são desconhecidos dos rivais.

Jogadores da Seleção defendem protestos nas cidades brasileiras

Dois jogadores da Seleção Brasileira mostraram-se favoráveis à onda de protestos que tomou conta do Brasil na segunda-feira, causando até alguma surpresa em seus interlocutores, uma vez que tradicionalmente poucos no futebol se expõem em causas políticas e movimentos sociais.

David Luiz e Hulk não hesitaram em se manifestar sobre o assunto ontem, véspera do jogo do Brasil contra o México, no Castelão. Ambos falaram em seus nomes, mas muito provavelmente refletiram a opinião do grupo nesta Copa das Confederações.

"Sou favorável (a essas manifestações), desde que sejam pacíficas, sem violência de qualquer natureza. Somos brasileiros também, temos coração e sentimentos, e queremos, como todos, um Brasil melhor. O País tem condições de melhorar e isso só está acontecendo em todas as partes porque o brasileiro quer um lugar melhor", disse o zagueiro David Luiz.

Hulk foi na mesma linha do companheiro. O atacante disse que não ouviu nem viu manifestação de cerca de 100 pessoas nas imediações do hotel onde a delegação brasileira está hospedada em Fortaleza, mas também posicionou-se favorável aos atos políticos nas principais capitais do País.

No Rio, 100 mil pessoas saíram às ruas. Esse número em São Paulo chegou a 70 mil. "Existe uma causa, uma necessidade de melhorar, por isso acho que os manifestantes precisam ser ouvidos, temos de dar razão a eles."
Segundo a assessoria da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a Seleção não mudará em nada sua logística em razão dos protestos pelo Brasil.

David Luiz também não acredita que as manifestações e reivindicações, uma delas contra os gastos públicos nas obras da Copa do Mundo, causem rompimento do torcedor com a Seleção, e a maior prova disso, segundo ele, foi o carinho recebido no primeiro treino da equipe em Fortaleza, no Estádio Presidente Vargas, com a presença de quase 5.000 pessoas. "Este carinho foi importante e ele só tende a aumentar."

Já o técnico Luiz Felipe Scolari não acredita que os protestos sejam direcionados à equipe verde-amarela.
"A Seleção é do povo. Somos do povo. Acho que estamos dando a eles aquilo que eles mais esperam de nós: que o time vá crescendo e possa representar o Brasil . Esse é nosso trabalho e é isso que estamos fazendo. Não temos interferência nas outras áreas", frisou o treinador, que deixou à vontade os jogadores para abordarem a imagem. "Os jogadores têm total liberdade para opinarem sobre qualquer assunto, desde que cada um assuma sua responsabilidade. As manifestações dos atletas são interessantes porque me parece que essa alienação que é imposta aos nossos profissionais está deixando de existir", completou.

Torcida promete manifestação dentro do Castelão
Torcedores que vão assistir ao jogo entre Brasil e México, hoje, às 16h, na Arena Castelão, em Fortaleza, pela segunda rodada do Grupo A da Copa das Confederações, organizam protesto a ser realizado dentro do próprio estádio.

Este grupo de torcedores promete cantar o Hino Nacional de costas e vai exibir cartazes contra a corrupção no Brasil. Antes disso, a partir das 10h, eles farão protesto nas proximidades do estádio em um ato do movimento intitulado 'Mais Pão, Menos Circo'.

A concentração de torcedores será feita no início da principal via de acesso à Arena Castelão, a Avenida Alberto Craveiro. A previsão dos organizadores é reunir mais de 3.000 pessoas na manifestação que critica os gastos públicos para a realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo de 2014 também no Brasil.

Na noite de segunda-feira, centenas de pessoas foram até a porta do Hotel Marina Park, onde a Seleção Brasileira está concentrada para o jogo, para também manifestar indignação com os gastos públicos, entoando vários cânticos e palavras de ordem contra a Fifa, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e a realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014.

Não houve incidentes com a polícia e o protesto terminou por volta das 21h. O protesto de segunda-feira foi convocado pelas redes sociais e começou com um grupo de cerca de 500 pessoas, a maioria de estudantes. Eles fizeram a concentração na Praça Gentilândia, que fica a menos de um quilômetro do Estádio Presidente Vargas, onde a Seleção Brasileira fez seu treino na tarde do mesmo dia.
FIFA

No encontro diário da Fifa com a imprensa, no Maracanã, sobre responsabilidade social, a entidade foi obrigada a falar sobre a onda de protestos, principalmente porque o evento contou com representantes do governo federal.
Para o chefe de responsabilidade social da Fifa, Federico Addiechi, a entidade aprova os protestos populares e assegurou que não prejudicam a Copa das Confederações.

"Sou cidadão argentino, suíço e italiano. Cresci na Argentina em uma época de ditadura, quando ninguém podia mostrar insatisfação. Tive sorte o bastante para ver o retorno da democracia no país. Então, vejo essas manifestações como sendo muito boas. Mesmo elas acontecendo agora, merecem aplausos, pois é algo positivo. Desaprovo qualquer tipo de violência, mas as manifestações democráticas são definitivamente bem-vindas", assegurou o dirigente.

A Fifa voltou a assegurar que não efetuou nenhuma um mudança de procedimento por conta dos atos, lamentou a depredação de bens públicos e que o torcedor tem direito de assistir aos jogos

http://www.dgabc.com.br/Noticia/

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey