Raúl Ebers Mera - Ex basquetebolista uruguaio recorde Sul-Americano após 80 anos.

Raúl Ebers Mera - Ex basquetebolista uruguaio recorde Sul-Americano após 80 anos.. 15232.jpegÀ medida que o tempo passar, aquilo que no início foram simples fatos estadísticos, a história os valoriza logo, tornando-os marcações façanhosas que 58 anos depois continuam no primeiro degrau do pódio. Raúl Ebes Mera é  o Campeão Sul-Americano Adulto mais novo da história com apenas 16 anos, além disso, invicto e com 18, foi Bi-Campeão.

Segundo o paladar dele, os três melhores jogadores da história foram "OSCAR", o uruguaio, Moglia, o argentino Furlong e o brasileiro Schmidt. 

Rival e amigo de Alfredo, Amaury Passos, Wlamir, Edson, Thales Monteiro, Rosa Branca e Mosquito, lembra daqueles grandes confrontos de decênio de 1950 e 1960 e manda mensagem para eles num vídeo.

PRAVDA: Amanhã 14 de Junho de 2011 está comemorando 75 anos. O que você lembra daquela estréia com a camisa "Celeste" adulta o dia 4 de Abril de 1953 na Arquibancada Olímpica do Estádio Centenario de Montevidéu?

EBERS MERA: Lembranças adoráveis do início de uma era no basquete junto  de grandes colegas e treinadores, tendo conquistado no  decorrer do tempo  inúmeras vitórias que provocaram a nossa felicidade sendo jogadores e a dos torcedores que as valorizava do jeito que acontece hoje de novo por conta dos triunfos uruguaios que estão voltando florescer. O uruguaio é muito meigo, e ele reflete até no esporte e todos nós curtimos isso,..e tomara que Uruguai esteja sempre não sendo carro-chefe gerando novas façanhas todo dia.

PRAVDA: O que lembra daquela Arquibancada Olímpica, por enquanto, lotada no mínimo no jogo perante o Brasil?

EBERS MERA:Olha aí...a arquibancada Olímpica...vamos ver...jogar no Estádio Centenario que era o palco no qual eu assistia aos jogos de futebol, e aos poucos, estar jogando na quadra que houve no primeiro anel dessa arquibancada e olhando para acima, nesse gigante de cimento que ficava lotado...pois não tínhamos ainda um grande estádio para jogar basquete que conseguisse hospedar aquela torcida toda....foi incrível pois à noite a gritaria perdia-se na escuridão e até as próprias referências que tínhamos nas pequenas quadras dos bairros.

Então, numa beira tínhamos aquela torcida assistindo o jogo e na outra uma grandíssima escuridão que era o gramado do Centenario.

PRAVDA: Naquela oportunidade tiveste o privilégio de ter a estréia internacional com a camisa uruguaia adulta faltando apenas 71 dias para comemorar 17 anos com mais uma glória do basquete uruguaio como foi no caso, o Oscar Moglia...você segurando o mastro da flâmula e Oscar com o cartaz que dizia: Federação Uruguaia.

EBERS MERA: Você está certo...tivemos o grande prazer de compartilhar muito tempo junto com o Oscar. Fico triste pois infelizmente ele faleceu faz muitos anos e deixou sua vaga física neste mundo mas nunca nas lembranças da gente pois os estádios lotavam-se por causa da participação dele num jogo. Infelizmente não temos filmagens daquele gigante com o qual alcancei compartilhar quadras.

PRAVDA: Ebers, além de parabenizá-lo pelos 75 anos de vida, estou querendo confirmar que você já virou glória do basquete uruguaio e Sul-Americano pois faltando apenas 71 dias para comemorar 17 anos, foi sua estréia internacional com a camisa "celeste" de seleções ADULTAS...e nesse torneio acabou sendo INVICTO...negócio que não é privilégio de muitos e mais logo, dois anos depois ainda com 18 anos, carimbado com júnior, foi Bi-Campeão Sul-Americano perdendo o invicto perante Argentina por um ponto mas no final, Campeão.

Quais são as lembranças dessas marcações que cinqüenta e tantos anos depois já viraram façanhas.

EBERS MERA: Veja só...já tenho dito o seguinte, sempre fazendo piada...que o azar e as façanhas acompanharam ao esporte uruguaio sempre mas as vitórias chegaram e continuam chegando hoje ou seja que tem mais algum segredo aí. Tudo isso a gente o percebe como torcida, como público em geral...

Naquele instante virar Campeões Sul-Americanos, deixando o orgulho de lado, era simples pois tínhamos uma herança de vitórias que impedia que ficássemos sem aquele título de Campeões. A gente não costumou nunca abraçar o carimbo de candidatos para o título pois nunca fomos...era difícil mesmo ficar Vice-Campeões, tornava-se problemas mas isso também acontecia no futebol...na hora que Uruguai não ficava lá no pódio...mas o tempo vai passando e vamos valorizando bem mais aquela época áurea do basquete uruguaio que nas décadas de 1950 e 1960 tive triunfos internacionais extremamente importantes.

PRAVDA: O mais importante a tua carreira esportiva foi a Medalha de Bronze nos Jogos Olímpicos de Melbourne - Austrália 1956, não é?

EBERS MERA: Conquistar uma Medalha de Bronze não é simples para ninguém. Para nós também não foi fácil mas fomos herdeiros da Medalha de Bronze em Helsinki - Finlândia 1952, Aliás, era o que tinha te comentado no início. A gente não acreditava nessa possibilidade de xerocar aquela façanha de 1952...e foi uma façanha mesmo...em Helsinki com a base daquele maravilhoso cestinha olímpico que foi Adesio Lombardo, e logo em Melbourne com mais um grande destaque que foi o Oscar Moglia. Por enquanto, os dois foram cestinhas olímpicos e medalha de Bronze e todos nós acompanhando eles pois o basquete é um esporte que precisa concretizar muitos arremessos e eles furaram as malhas inúmeras oportunidades.

PRAVDA: Para aí....mas você acabou sendo o terceiro na lista de cestinhas uruguaios em Melbourne!!!

EBERS MERA: É verdade...nessa seleção uruguaia 1956, acabei sendo o terceiro cestinha da turma...primeiro o Oscar Moglia, o segundo que foi maravilhoso além disso, nos rebotes nos dois cristais, o Héctor "Guanaco" Costa e o terceiro, claro, fui eu. Junto com nós três, completavam o quinteto titular do treinador Héctor López Reboledo, Sergio "Canario" Matto e Nelson "Fogata" Demarco. Esse era o time no início mas o resto também eram grandes jogadores,

PRAVDA: Lembrou do "Flaco", Adesio Lombardo que no início da tua carreira terá sido importante pois além da seleção, ele jogou no time Stockolmo sendo alguns anos mais velho que você.

EBERS MERA: O "Flaco" era mais velho do que eu...nem sei quanto era a diferença de idade, Quanto ao alvo da tua pergunta, ele deixou uma imagem de um jogador que nunca soube como ele fazia para furar as malhas e conquistar os objetivos desse jeito sem pedir a bola. Ele localizava-se num espaço da quadra e a gente dava a bola para ele pois ele estava aí como se fosse um imã, além disso pois acreditávamos no agir dele. É bom salientar que ele não te incomodava pedindo a bola pois esse é um raro privilégio dos cestinhas que para virar cestinhas, pedem muito a bola...o dele não era o caso. Os cestinhas estão pedindo a bola sempre pois é tão simples para eles furar as redes....dá para entender? Ao meu ver, trata-se de um esporte coletivo e precisa-se administrar os tempos até para os próprios cestinhas.

PRAVDA: Nem só tem esse recorde atual senão um outro que mesmo tendo alguns casos a mais é diferente no histórico dos esportes coletivos. Foi Campeão Sul-Americano em Cúcuta - Colômbia em 1955 tendo nessa seleção um dos teus irmãos.

EBERS MERA: Junto com o meu irmão Ramón, está certo e viramos Campeões. No início joguei junto com o meu irmão Hugo, meu outro irmão Ramón, sempre no Stockolmo e acabamos sendo Campeões do Torneio Federal (o principal no Uruguai até a chegada da Liga Uruguaia de Basquete faz poucos anos), do Torneio Inverno (que houve naquela época) e compartilhávamos esse quinteto com o Lombardo, o Tapie e mais uma grandíssimo jogador que também foi Olímpico, Wilfredo Peláez que por outros motivos além do esporte deixou de participar dessa turma. Esse era o time básico sempre no Stockolmo. Por causa, dessa campanha vitoriosa, foi escolhido junto comigo, o meu irmão Ramón para o Sul-Americano de Cúcuta 1955. Não é normal no basquete uruguaio, seja qual for o esporte coletivo...lembre que não somos muitos cá no Uruguai. Os Mera fomos três irmãos que jogamos basquete mas para mim, companheiros e rivais acabaram sendo e são hoje, irmãos na vida.

PRAVDA: Ebers, ficando de novo de olho no Club Atlético Stockolmo, tua estréia na seleção uruguaia aconteceu muito novo, prestes a completar 17 anos mas também teve uma estréia sendo mais novo ainda no time azul de Stockolmo, na Primeira Divisão.

EBERS MERA: É verdade meu...minha estréia no Stockolmo foi com apenas 13 anos e sabe todos os jogadores temos etapas que compartilhamos junto com os treinadores e no meu início tive alguns treinadores internos que foram o Oryanzábal, Orguitti até que surgiu um que marcou a minha carreira, o Olguiz Rodríguez pois ele decidiu que eu pulasse das categorias de base (Menores) para o time principal na Primeira Divisão pois achou que eu poderia me prejudicar bem mais do que progredir caso continuasse jogando com os meus colegas das categorias de base. Foi então que comecei mexer na turma adulta do time. O responsável foi o Olguiz Rodríguez...logo veio Prudencio "Pencho" de Pena que com 16 anos decidiu que fosse parte da seleção adulta e mais logo, um treinador que decidiu que compartilhássemos inúmeras glórias, ao meu ver, as maiores, o Héctor López Reboledo, Deste jeito estou encerrando a lista de treinador do peito.

PRAVDA: Me diga...em 1960, no Sul-Americano de Córdoba, Uruguai ficou garantindo a quarta vaga na classificação do torneio. Por incrível que pareça, tendo perdido por um ponto perante Argentina, Brasil, após tempo suplementar (o dia dos 43 pontos do Oscar Moglia) e já sem possibilidades de virar Campeões, perante a seleção paraguaia. O que aconteceu que você não viajou junto com essa seleção uruguaia?

EBERS MERA: Nossa...coisas que acontecem no esporte e na própria vida...foi o ano que casei...o preciso instante no qual casei. Aliás, tínhamos marcado já, a data e compromissos e lembre que nessa época o basquete era esporte amador, amador mesmo...então aquela responsabilidade de ir no batente, estudar, casar-se, gerar uma família...nem sei....ter três ou quatro empregos e acabar o dia cedo pois não tinha tempo nem para respirar. Então, a vida do esportista nessa data encurtava-se bastante...a minha  foi comprida pois me iniciei muito novo mas  também acabou encerrando muito cedo...apenas 27 anos.

PRAVDA: Então, foi por causa dessa responsabilidade de ganhar uma emprego muito cedo que acabou pendurando as basqueteiras muito cedo né?

EBERS MERA: Está certo, está certo...pois as exigências físicas que nós tínhamos era muitas...abrangendo treinos, dois ou três empregos..três de jeito específico e fora que estava me sentindo muito jovem ainda e físico ia cobrando sabe. .e num instante preciso, o físico acabou não respondendo do jeito que teria e não consegui viajar para os JJ. OO. Tóquio 1964 no Japão. Foi quando decidi pendurar as basqueteiras pois não tinha tempo para investir no basquete.

PRAVDA: Numa oportunidade me disse que os três melhores jogadores que tinha visto na vida foram OSCAR, não é?

EBERS MERA: Com certeza, Oscar Moglia, Oscar Furlong e Oscar Schmidt...acho que não por acaso existe o "Prêmio OSCAR" e nós tivéramos três aqui na América.

PRAVDA: Falando em Oscar Moglia....qual é a lembrança dele...aquela estréia juntos na seleção uruguaia no Centenario em 1953?

EBERS MERA: Foram muitas, muitas as lembranças que guardo do Oscar. Mas fico triste pois faleceu muito cedo e além disso pois não existem filmagens para que todo mundo hoje soubesse o que Oscar fez na quadra. Infelizmente não temos  chance de assistir uma filmagem nossa daquela época pois não tínhamos filmagem nenhuma mas claro, conseguíramos olhar o agir dos colegas...eu tive o prazer de compartilhar uma quadra junto com o Moglia até juntos na mesma turma...mas aquele que lotou estádios foi ele, o Moglia...era um jogador que naquele basquete da época, até no atual...era um inventor de coisas boas, não de palhaçadas!!!

Foi um jogador maravilhoso que do jeito que já tinha dito, tínhamos que administrar o jogo dele pois tratava-se de um esporte coletivo e pela própria vontade que ele tinha até poderia ter jogado isolado. Poderia ter jogado um basquete de um jogador só...ele fazia tudo ótimo...transportar, passar, quicar a bola, arremessar de longa distância, do lado do garrafão, simular o arremesso procurando logo uma chance melhor, escapar da marca do rival. Foi um pena que não tivesse abraçado um esporte individual pois era incrível e tivesse sido o melhor do mundo.

PRAVDA: Acabaram de fazer uma homenagem em honra do Oscar Moglia e você não foi convidado sendo daqueles jogadores que ainda vivem que mais o conheceu...quem sabe o que mais...

EBERS MERA: Acho que sim....tive com o Oscar "pequena e grande" rivalidade quem sabe pelo início quase simultâneo e que a vida fez que concorrêssemos de um jeito legal, sem brigas, tentando sempre que o futuro da seleção uruguaia fosse melhor. Até fizéramos um roteiro juntos pelo Brasil  vestindo a camisa do Club Atlético Welcome (time do peito do Oscar) e consegui conhecer a esposa, namorada nessa época, a Irma, que mando aquele beijão nela. Oscar fez muito pelo evoluir do basquete, até escrevendo matérias muito interessantes, logo esteve dando uma de monitor na vida basquetebolistica do filho dele, Osky,que acabou sendo bom, e o Osky agora está tentando ajudar ao filho Santiago e o irmão caçulo. O nome OSCAR abrange muitas gerações, a época dele a todos os que estamos agora até os netos. O que ele acabou fazendo foi demais....essa é a minha opinião do Oscar.

As lembrança agora para mais um Oscar, o Furlong  mas esse foi argentino, joguei contra ele tinha uma técnica maravilhosa...nenhum deles quanto foi o Moglia...logo houve mais um OSCAR, o Schmidt, fulgente ele, que teve o privilégio de vencer o time dos EUA sendo grandíssimo destaque, deixando para América toda um legado de sucessos incríveis numa época que parecia impossível vencer à seleção dos EUA. Esses são os "OSCAR"  que sugiro não esquecer nunca.

PRAVDA: Na hora de lembrar sua estréia naquele Sul-Americano 1953 no Estádio Centenario de Montevidéu, nesse evento foi a primeira oportunidade que foram usados "cristais" acrílicos. Até essa data você jogou com tabela de cimento ou até madeira. As matérias da época salientavam que o rebote era bem diferente e que muitos jogadores "reclamaram". Como acabou refletindo no teu estilo de jogo?

EBERS MERA: Veja só...a minha grande vantagem foi a seguinte: eu comecei arremessar com uma mão só...acho que fui o primeiro no Uruguai desenvolvendo esse estilo de arremesso e no meu caso arremessei sempre tendo com referência a argola, com uma mão só....assim como se faz hoje. Aliás, eu não costumei nunca arremessar me apoiando com a tabela e a argola é a mesma em todo o mundo, ou seja, arremessando lá dentro da cesta, não tinha diferença nenhuma. Esse era um problema para todos aqueles que procuravam a ajuda da tabela pois com certeza que o rebote da bola era muito diferente. Eu percebi que algumas bandejas que acreditava não poderiam rebotar tanto assim, ultrapassavam para o outro lado da argola, na outra beira daquilo que acontecia antes com as tabelas de madeira que amorteciam as bolas de uma forma diferente. E foi assim mesmo...pessoal que usaram a tábua como ajuda, teve que mudar o estilo de arremesso. Acontece ainda hoje pois aquele que arremessa contra o cristal deve ter uma exatidão muito grande para fazer isso. Quem sabe a bola fica amortecida ou até escorrega....

PRAVDA: Nesse Sul-Americano foi a única vez nos 80 anos do histórico dos Sul-Americanos que Argentina não participou por causa de um problema político, retribuindo "gentilezas" pois Uruguai não tinha participado do Mundial de Buenos Aires 1950.  Você acha que essa falta da Argentina fez com que a seleção uruguaia tivesse o título de Campeão dum jeito mais fácil? É bom lembrar que as seleções da Argentina e do Brasil eram os rivais mais difíceis dos uruguaios.

EBERS MERA: Olha só...acho que não....pois acho que se Uruguai tivesse participado do Mundial 1950, o Campeão do Mundo era Uruguai. Houve razões que não poderia avaliar agora mas favoreceram à seleção argentina, nem sei...houve um desencontro no qual Uruguai não participou do Mundial e o Campeão acabou sendo Argentina mas tenho certeza que tanto em Montevidéu 1953 quanto em Buenos Aires 1950, o Campeão tivesse sido a seleção uruguaia, tenho certeza absoluta disso.

Não querendo rebaixar a valia da vitória dos jogadores argentinos pois os jogadores não tiveram nada a ver mas houve aí alguma coisa que fez com que Uruguai não participasse do evento e sendo nós uruguaios os que tivéssemos arvorado do caneco de Campeão, certeza absoluta mesmo !!!

Essa seleção uruguaia foi a melhor entroçada de todas na prévia e antes da mudança dessa geração que acabou acontecendo com a chegada do Oscar Moglia, da gente, do "Inglês" Blixen, logo o Milton Scarón..A tal mudança acabou acontecendo com sucesso importante além da alteração de quase a geração toda, negócio que nem sempre acontece....é difícil continuar tendo vitórias nesse esquema de mudanças. Tem gerações vitoriosas que se aposentam e logo as vitórias somem.

Isso aí foi o que acabou acontecendo com o futebol uruguaio hoje, No decorrer de muito tempo o futebol uruguaio foi vitorioso mesmo até que houve uma faixa de tempo que as vitórias não continuaram chegando nas vitrines só que agora, está nascendo mais uma geração que posiciona o futebol, esporte número um no Uruguai mesmo tendo treinado outro e  a gente continua se emocionando...pois assim que acabar uma alegria está começando a uma outra logo e aí vai....vamos ver até quando vai continuar essa de vitórias dos meninos do treinador Oscar Washington Tabarez.

PRAVDA: Um comentário íntimo agora....em 1955 voltou de Cúcuta com o título de Campeão Sul-Americano sendo muito novo ainda e aquele avião não fiz pouso no Aeroporto de Carrasco...

EBERS MERA: É verdade !!! Esse comentário teu é muito interessante pois nessa época houve uma empresa conhecida como CAUSA (acho que Companhia Aérea Uruguaia Sociedade Anônima) que decolava desde o Porto de Montevidéu chegando no Porto de Buenos Aires. Trava-se de um hidroavião que os passageiros pegavam no enseada do porto, sendo transportados até lá de barco. Logo decolava e é óbvio, não fazia pouso numa pista de cimento senão acima das ondas do Río da Prata, Dependendo da poltrona que pegava dentro do hidroavião, a onda que ele gerava na hora da decolagem parecia mesmo que se tratava de um submarino que começava afundar-se.  Só dava água banhando a janelinha. Era muito bacana, pois tinha o vôo raso quase do lado das ondas. Não foram muitas as pessoas que tem voando em um hidroavião....eu fui um desses poucos privilegiados.

PRAVDA: O que você lembra daquele Brasil da época?

EBERS MERA: São muitas e lindas as lembranças daquele Brasil que você me faz reviver agora. Após aquele Sul-Americano que sediou o Estádio Centenario de Montevidéu, um agente no Brasil, em São Paulo, acho que foi em São Paulo, chamado Baby Vaglione nos convidou participar de um roteiro esportivo lá pois era um imã ter dos jogadores tão novos, com apenas 16 anos como fomos o Oscar Moglia e eu na seleção uruguaia adulta. Os dois fomos destaques e Campeões, porém ele organizou um roteiro pelo Brasil...de ônibus, imagina só...e tínhamos grandes rivais como Amaury e Wlamir, que poderíamos dizer foram os nossos gêmeos da seleção brasileira da época, Eram nossos rivais e os confrontos aconteciam sempre. No Brasil, alcancei jogar parente o Alfredo, o Thales Monteiro, acho que era do interior, Edson, muitos, muitos jogadores, Rosa Branca, Mosquito...juro, lembro deles com felicidade pois foram tantos os confrontos e acho que acabáramos sendo "quase amigos" e caso acontecesse um encontro hoje, íamos comemorar esse fato pois não fomos rivais, desculpe, não fomos inimigos senão apenas rivais. Eram horas adoráveis na hora de comemorar vitórias e sofrer as derrotas. Tudo era feito de coração, de coração mesmo, do jeito que se faz agora mas nessa data acho que os tempo esticava-se. Agora não dá para gozar das vitórias nem sofrer os fracassos. O tempo está passando muito rápido agora...não dá nem para saborear nada..,e aquela vida fez com que conseguíssemos saborear vitórias inesquecíveis, numa época mais devagar...tínhamos tempo de "vinganças" que a gente curtia bastante. E os roteiros esportivos foram maravilhosos, primeiro com vestindo a camisa do Welcome e logo a do Stockolmo e quanto aos brasileiros, lembro com alegria pelo atendimento que nos deram...eles são grandíssimos anfitriões...olha...eles estão sempre sorridentes...o que é que eles têm? O uruguaio não é triste mas poderia ser o clima, o frio...tem alguma coisa que não faz da cor  "cinza". Por enquanto, os brasileiros são fulgentes, essa é a imagem que guardo deles e digo de coração, de coração mesmo.

PRAVDA: Ebers...após aquela estréia em 1953, foi a vez do Mundial 1954 no Rio de Janeiro, muito jovem ainda...acho que tendo garantido a sexta posição.

EBERS MERA: Quanto às lembranças daquele Mundial, como não ficamos no pódio, não foram muito boas. Mas lembro com alegria aquele evento pois fomos parte da inauguração do Maracanazinho, um ginásio maravilhoso que era imenso, Fomos rivais do Brasil em um desses jogos com aquela marcação do Maracanaço do Futebol 1950 ainda muito perto, lembra que foi em 1954 e o Brasil venceu. Maracanazinho lotado de brasileiros, imagina só...e eles começar com a "vingança" que nós todos sofrêramos dentro da quadra e a torcida começo cantar a famosa música: Ay, ay, ay, canta e não chore...ou está chegando agora...não lembro de cor...nós sofrendo lá dentro e foi uma espécie de vingança esportiva dos brasileiros que venceram com justiça naquele jogo no Rio de Janeiro, na mesma sede que quatro anos antes sofreram tanto.

Essa é a minha lembrança e venceram muito bem...lembro com alegria esses momentos vivido no Maracanazinho naquele dia. Continua sendo hoje, uma das minhas grandes lembranças.

PRAVDA: Quanto ao Brasil e de jeito específico o Rio de Janeiro, agora que daqui a pouco tempo estão sediando os JJ. OO. 2016, vai ter uma das sedes da Copa do Mundo Brasil 2014, O que lembra daquele Rio de Janeiro? Voltou lá logo?

EBERS MERA: Voltei sim....eu visitei o Rio ainda sem a ponte que o une com Niterói, de navio...logo a gente voltou com Niterói unido....fiquei me hospedando num hotel que era propriedade de uns parentes de uns vizinhos da gente em Montevidéu, e trava-se de um Rio muito tranqüilo entrei numa favela sem problemas e era maravilhoso aquilo tudo...que agora estão tentando arrumar pois o tempo mudou bastante e o desafio que abraçou o Brasil tentando que todos nós conseguíssemos ficar de perto de um grande evento como são os JJ. OO: e maravilhoso...mas também acredito que é o único pais que pode segurar essa responsabilidade e mais importante ainda, com sucesso deixando tudo mundo maravilhado. É incrível e além disso tem times para atingir todos os alvos seja qual for o esporte  Tem nem só valia física senão estão muito bem de cabeça para fazer progredir a organização de um evento desse tamanho.

PRAVDA: São muitos aqueles que acreditam que com a  chegada da raça negra nas seleções brasileiras, viraram potência e vão continuar evoluindo ainda mais....concorda com esse olhar?

EBERS MERA: Tenho certeza nisso, tenho certeza pois já passei nos JJ. OO. Roma 1960, na hora que os EUA que sendo aquela grande referência esportiva mas sem essa quantidade de medalhas que costumou ganhar logo, surgiu o um comentário seguinte: "Os EUA não está tão longe das medalhas que está querendo conquistar pois a essa raça negra que eles desprezam esta surgindo com força". Então na hora que a raça negra começa concretizar as maiores façanhas esportivas, oferecendo grandes espetáculo no futebol que é o mais reconhecido no mundo, até no basquete, que quase não consegue encontrar um caucásico nos times dos EUA, reflete que para esportes vitais a raça negra é poderosa, mas resistente, fora, que, ainda desconheço a razão, na natação. Acho que a genética deve ter alguma coisa a ver com isso. Acho que não vamos ter campeões de natação negros, no mínimo eu desconheço. Até no golfe temos....Não sei se é o azar apenas ou quê mas acontece, alguém vai ter que me explicar esse fato...não vou ser eu quem faça.

PRAVDA: Quanto aos teus recordes, tem um outro...estava esquecendo...foi Primeiro Campeão Sul-Americano de Clubes vestindo a camisa do time Sporting Club Uruguay, não é?

EBERS MERA: Está certo...fomos junto com um outro grande amigo, o Pedragosa, reforçando o Sporting Club Uruguai no 1º. Campeonato de times Campeões que aconteceu aqui em Montevidéu. Esse também foi um momento lindo curtido junto com o Sporting que ao meu ver, foi o melhor time uruguaio que vi na história, integrado por jogador como Rosselló, Fava, Baliño, Costa e Barone...era difícil mesmo  vencê-lo e foi um privilégio assistir um jogo dessa turma. Os reservas também eram maravilhosos....o time A, Campeão e o B, com certeza Vice...só um pode atingir o alvo de Campeão num torneio mas os reservas caso não ter os titulares na frente poderiam ter alcançado esse título no basquete uruguaio. Foi mega lindo ter compartilhado essa experiência com essa turma.

PRAVDA: Passaram muitos anos mas gostaria encontrar-se com aqueles rivais na quadra que quase foram amigos fora?

EBERS MERA: Por Amor de Deus...pode ter certeza absoluta....ia ser um grande prazer...as lembranças que guardo de todos eles não são de inimigos senão de rivais por alguns minutos....mas compartilhávamos muitas vivências....naquela data a gente compartilhava hospedagens, nos JJ. OO. as refeições poderíamos dizer que eram compartilhadas...nos hotéis...todos fora ao anfitrião...são inúmeras lembranças de muitas pessoas que acredito que se por acaso houvesse um encontro íamos abraçarmos pois imagino que é o sentimento é mútuo, essa vontade de encontramos...mas a gente agora depende da vontade e da vida...a vida é uma barreira para encontrar pessoas nesta fase...é óbvio né? (sorridente e emocionado).

PRAVDA: Encerramos a reportagem curtindo o último dia dos 74 anos....anseio de coração que os 75 começarem esplendorosos do jeito que está hoje.

EBERS MERA: Obrigado de coração pela sua gentileza e saiba que alcançar os 75 anos tem como parte ruim que passaram muito rápido mas também envolve coisa boa...que sabem temos mais vinte na frente. Por enquanto, só isso, aquele abraço para tudo mundo e tomara que a reportagem for apreciada por muitas pessoas.

PRAVDA: Obrigado mais uma vez...Seu Raúl Ebers Mera.

O PRAVDA agradece à Sra. Mariela Sanjurjo e ao Club Atlético Stockolmo.

Agora pode conferir a reportagem em castelhano feita vídeo no SOTAQUE ESPORTIVO acessando o site a seguir:

http://sotaqueesportivo.blogspot.com/

Montevidéu - Uruguai

Gustavo Espiñeira

Correspondente PRAVDA.ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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