Nasceu o dia 08 de Março de 1926 tendo chegue e ficando para sempre em Montevidéu em 1933. Os primeiros apitos foram em 1955 e com quase 30 anos de carreira se aposentou. Hoje é um dos privilegiados em participar do Salão da Fama em Alcobendas - Espanha junto com outros grandíssimos destaques do basquete mundial como a Hortênsia e Amaury Passos do Brasil, Oscar Furlong da Argentina, Ivo Daneu da antiga Iugoslávia e Gennadi Volnov da também antiga União Soviética. Em outubro retrasado um Campus de árbitros internacionais na Colômbia foi batizado com o nome do nosso destaque de hoje.
PRAVDA: Mario começou apitar em 1955 sendo único árbitro responsável na quadra. Logo foi parte de uma dupla de árbitros, não tendo chegue nas trindades atuais? O que acha do progredir da arbitragem?
HOPENHAYM: Minha estréia como árbitro aconteceu em 1955 mas acho fundamental salientar que tive responsabilidade sendo único árbitro nem só nos torneios da elite do basquete uruguaio senão que nessa época tínhamos 1ª Divisão, 2ª, 3ª e 4ª e acabei fazendo tudo. 1ª Divisão teve um jogo na prévia sempre que é chamado de «Reservas» e na maioria dos casos com os mesmos times que iam participar do «grande jogo de encerramento». Ás vezes aconteciam problemas nesses jogos das «Reservas» que logo refletia no ambiente do jogo mais importante que era do encerramento como aconteceu com o Club Policial. Na famosa reserva o capitão do Policial reclamou para mim. Aos poucos apitei falta técnica, o cara continuou e acabei expulsando ele. Nessa época, aqueles jogadores que tivessem sido expulsos ou não tivessem participado no mínimo 20 minutos da Reserva não poderiam participar do jogo mais importante. Aliás, pode imaginar o que virou aquele ambiente. Lembro que nos vestiários acabei recebendo a visita do Secretário do Colégio de Árbitros falando deste jeito: «Mario, o que aconteceu? O pessoal do Policial confirmou que caso você continue o jogo da «Reserva» e logo o da 1ª Divisão, eles não vão pular na quadra. Respondi: «Sem problemas, vou voltar em quadra e caso eles não pularem em campo, vão perder o jogo». Voltei para apitar e a 1ª Divisão do Clube Policial também mergulhou em quadra. Logo não lembro se eles venceram ou perderam mas o ambiente esteve ruim e tanto.
P: Foi difícil pra você ser o único árbitro em quadra?
HOPENHAYM: Nem por acaso. Lembre que tratava-se de um basquete muito devagar. Houve árbitros com aquele corpanzil que hoje poderíamos dizer quase não existem. O árbitro internacional uruguaio Juan Francisco Carro era baixinho e gordo, o Juan Miguel Rossini, um outro internacional era baixinho mas forte, o Baldomero Torres que foi Vice Presidente do Colégio de Árbitros no decorrer de muitos anos arrastava uma perna pois foi policial e dirigindo uma moto, caiu na rua e acabou ganhando essa deficiência física. Raimundo Castiñeira, como no caso dos anteriores, dos mais conhecidos da época, com corpão e tanto mas também com pneus contornando-o. O basquete era bem mais devagar que o atual. Só para você entender. Os preparadores físicos quase não foram parte das infra-estruturas dos clubes. Veja só. Sendo jogador do Club Atlético Tabaré de Montevidéu, único time no qual joguei, na hora de começar os treinos, o treinador do time falava deste jeito: «Pessoal, vamos correr umas dez vezes contornando a quadra, logo arremessamos algumas bandejas e mais logo a gente joga». Esse era o esquema tradicional dos treinos e dos jogos em si próprios. As coisas mudaram logo. Até que a Federação Uruguaia de Basquete sob regulamentos da Federação Internacional de Basquete Associado, decidiu impor a dupla arbitragem em 1956, um ano depois da minha estréia. Então no Uruguai nesse ano, as «Reservas» mantinham arbitragem individual sob responsabilidade de um árbitro novinho mas na 1ª Divisão esse árbitro ia ganhar como parceiro um árbitro bem mais experiente como aqueles que já confirmei ou no caso do Nicola ou Luis Broccos. Os mais veteranos logo foram carimbados como «Primeiro juiz». Nessa data foram nomeados como «juiz e árbitro». O mais importante era o «juiz» e o assistente o «árbitro».
Bem mais na frente a «Reserva» tem ganho arbitragem dupla com a vantagem que nenhum desses árbitros iam participar do jogo do encerramento, porém iam apitar num jogo só. Mais logo na hora que eu já tinha pendurado o apito no ambiente internacional mas sendo Presidente da Comissão Técnica da Antiga COPABA (Confederação Pan-Americana de Basquete), hoje FIBA AMÉRICA, na hora que ganhei posicionamento em 1992 no México junto com o grande amigo e ex Pte. da Federação Uruguaia de Basquete, o Contador Federico Slinger, já falecido, no caso dele, o cargo de Presidente da COPABA, numa reunião, ouviam-se comentários para começar com arbitragem triple.
Por enquanto, nas reuniões, nos congressos da FIBA AMÉRICA (já tinha mudado o nome) se convidava sempre ao Secretário Geral da FIBA, Borislav Stankovic. Numa dessas reuniões e como Pte. da Comissão Técnica da FIBA AMÉRICA lembro ter dito que tínhamos planejando que no caso dos jogos internacional da FIBA e nas séries classificatórias nos Continentes ganhassem arbitragem triple. O comentário do Stankovic nessa hora foi o seguinte: «Mario, nunca vai ter três árbitros em quadra». A cabeça dele mudou bastante pois três anos depois ele aceitou aquela proposta. Saiba que tivemos várias «brigas» como ele pois no meu caso além de Pte. da Comissão Técnica da FIBA AMÉRICA, era membro da Comissão Técnica Mundial. Então uma dessas «brigas» que nós tivéramos foi por causa da «falta técnica». Os regulamentos tinham estabelecido que a «falta anti-esportiva» ia ter como benefício dois lances livres e posse de bola. Fora aquele instante no qual o jogador ia arremessar mas não ficando com possibilidades de arremessar, a falta, que nessa época foi carimbado de «intencional» e só logo sofreu mudanças para «anti-esportiva» pois pode ser «intencional» não tendo nada a ver com «anti-esportiva» na hora que um jogador tenta que o rival arremesse lances livres nos instantes finais e a falta não é tão forte assim como para apitar «anti-esportiva». Mudamos o termo. Antes era «intentional», «intencional» em castelhano e português, e logo virou para «unsportsmanlike», «anti-esportiva». Tive o privilégio de me dar bem com o inglês, caso contrário acredito que nunca tivesse tido essa chance de ser membro da Comissão Técnica Mundial tendo ficado no decorrer de 22 anos, desde o 1984 até 2006 que acabei saindo da Comissão Técnica da FIBA AMÉRICA e da Comissão Técnica Mundial ficando com o cargo que possuo desde 1984 de Presidente do Conselho Técnico da Federação Uruguaia de Basquete.
P: Compartilhe a história da falta técnica.
HOPENHAYM: Vamos ver...a história da falta técnica é bem boa. Acabei vencendo o Stankovic nessa queda-de-braço. Tínhamos decidido que a «falta anti-esportiva» fosse dois lances livres e posse de bola e que a «falta técnica» para o treinador fosse dois lances livres e posse de bola. Foi á hora na qual confirmei que seria ótimo unificar tudo e a «falta técnica» do jogador fosse dois lances livres e posse de bola. Na reunião o Stankovic disse que achava um exagero e que ia alcançar que a «falta técnica» do jogador fosse punida com um lance livre e posse de bola. Votamos e conquistei a vitória. Dentro da Comissão Técnica Mundial a maioria foi ampla sendo que uma turminha de européios que olhavam para ele antes de votar, votaram na proposta dele mas o resto...achamos que teríamos que unificar as três faltas, de jeito simples, dois lances livres e posse de bola.
Embora, na hora da reunião do Bureau Central que acaba decidindo mesmo o que acontece nestes casos pois a Comissão Técnica propõe e o Bureau Central da FIBA dispõe, o Stankovic fez que essa proposta da Comissão Técnica caísse avaliando a «falta técnica» com um lance livre e posse de bola. Olha aí...nas reuniões ocorreram no futuro, dois anos depois, ele propus que a «falta técnica» fosse dois lances livres e posse de bola. Que ainda continua como regulamento. Ou seja, hoje é tudo a mesma coisa. Falta técnica do treinador, falta anti-esportiva e falta técnica do jogador. Super simples, percebeu?
P: O que aconteceu para que Montevidéu garantisse a sede do V Mundial de Basquete?
HOPENHAYM: Em 1964, ainda em Tóquio, nos JJ. OO., o Contador José Pedro Damiani, que foi homem de basquete da gema até que virou anti-basquete assim que segurou a poltrona de Presidente do Peñarol de Montevidéu, virando homem de futebol. Mas nessa data ele já tinha sido jogador de basquete do Sporting Club Uruguay, era Presidente desse time e tinha um relacionamento ótimo com o Secretário Geral da FIBA, que era quase o «Papa» decidindo tudo, o Doutor Renato William Jones, um britânico, nascido na Itália.
Sabe porque chamou-se de Renato? Os pais deles eram diplomatas britânicos na Itália. O filho mais velho do matrimônio tinha falecido com apenas alguns dias ou meses, no mais do que isso. Logo, o segundo filho foi ele e o batizaram de Renato William Jones, sendo que mais logo ele ia assinar de R. William Jones e não Renato pois Renato em italiano quer dizer «nascido de novo». Então, o Doutor William Jones, pois todo mundo conhecia ele sem o Renato na frente, tinha o poder absoluto dentro da FIBA. Voltando naqueles JJ. OO. Tóquio 1964, o Dr. Omar Freire, Presidente da Federação Uruguaia de Basquete chefiou a delegação uruguaia do basquete e foi aí que encontraram isolados o William Jones e num piscar de olhos o Contador Damiani fez que o Omar Freire lhe pedisse ao Jones a sede do Mundial 1967. Antes de decidir a sede e perante esse pedido, a primeira pergunta do Jones para Freire e Damiani foi a seguinte: Será que Uruguai possui um estádio com lotação acima das 8 mil pessoas? O Contador Freire ficou perplexo olhando para o Damiani e o Damiani sério e sem duvidar confirmou: «Claro que nós temos, um estádio muito bonito com lotação para 8 mil pessoas».
Então o V Mundial de Basquete 1967 vá para Uruguai. Assim que eles saíram do lado do William Jones, o Pte. da FUBB, o Cr. Omar Freire falou para o Damiani direto. Me diga, qual é o estádio que nós temos para sediar o Mundial 1967? Apenas temos o Palácio Peñarol que consegue hospedar umas 5 mil pessoas, não temos mais nenhum. A resposta do Damiani foi: O primeiro foi segurar o Mundial, logo a gente se preocupa pelo resto.
(Hopenhaym continua: dizendo).Logo ouve eleições na FUBB e o Sr. Alberto Rossello virou Presidente. Quanto ao Rossello, tratava-se de um homem de muita raça e no meu caso tinha um relacionamento maravilhoso pois fora algumas pequenas "brigas" foi um homem extremamente legal. Foi então que ele recebeu essa «herança» e percebendo que Uruguai não tinha estádio nenhum para hospedar esse grande evento. Na hora da procura dum edifício apropriado, se toparam com um, grandíssimo, com as paredes do contorno o teto côncavo que era uma espécie de piscina na hora que acabava dando uma chuvarada e o soalho de cimento absolutamente estragado pois tinha sido sede duma Exposição para o Gado no decênio de 1950. Fui parte dessa turma que visitou esse grande edifício e lembro que o Rossello falou assim: «Neste lugarzinho vamos hospedar o Mundial" e montou uma Comissão com membros de grandíssima valia e apenas dois anos depois com o apoio do Governo e das empresas conseguiu o milagre de mudar aquele pavilhão destruído naquilo que hoje temos (tiiiinhamos - acabou de pegando fogo alguns meses atrás virando parte da história, puxa vida, quanta dor!!) que foi o famoso «Cilindro Municipal de Montevidéu» sede do V Campeonato Mundial 1967 que foi batizado como o «Campeonato Mundial da Geladeira» pois ele tinha vários vidros quebrados acima dos portões de ingresso, jogando-se em Junho, um frio do caralho e mesmo que pareça incrível os soviéticos que ficavam no plantão, num buraco do lado da quadra, vinham com cobertores do hotel e além disso nas costas, instalaram dois aquecedores para se manter mais confortáveis no decorrer dos jogos. Fora que tínhamos tido vários times européios que se davam bem com o frio, nesse instante na Europa ainda era verão. Eu tinha voltado da Rússia pois fui o primeiro árbitro não européio a apitar num Campeonato Européio nessa época do ano e juro que o clima estava quente e tanto. Por enquanto, alguns dos russos que ainda tinham o bronze do verão na pele chegaram para virar Campeões nessa «Geladeira». O fato é o seguinte: Essa peça arquitetônica maravilhosa que temos perdido que acabou virando o «Cilindro Municipal» foi criado por passe de magia para montar um estádio com lotação acima das 8 mil pessoas para hospedar esse Mundial 1967, negócio que o William Jones nunca soube e tudo foi montado após ele ter aprovado a sede. Hoje, até no futebol o negócio mudou. As sedes dos Mundiais são licitadas e no caso do basquete aquele país que oferece uma verba mais interessante acaba virando sede. Na atualidade tem pessoas encarregadas da vistorias das sedes prováveis. Lembro que para o Mundial Argentina 1990, o sucessor do William Jones na Secretaria Geral da FIBA, o iugoslavo Borislav Stankovic, me deu a responsabilidade como Membro da FIBA e da Comissão Técnica Mundial de vistoriar os estádios, hotéis e tudo quanto poderia envolver a organização do evento. Ou seja, com dois anos de antecedência teriam que começar as vistorias desses segmentos organizativos dos eventos para verificar que 6 meses antes do início tudo esteja dando certinho. Caso a FIBA tivesse tido este esquema de vistorias em 1967, o V Mundial 1967 não poderia ter tido Uruguai como sede. Pode ter certeza disso!! Esta acabou sendo uma pequena história daquele Mundial 1967 e como foi que um prédio de Exposições para o Gado virou Estádio para um grande evento de basquete. Agora, você pode compartilhar com os leitores do PRAVDA sem problemas (sorridente).
P: Mario... foram muitos Campeonatos Sul-Americanos, Européios, Mundiais e Jogos Olímpicos na sua carreira. O que acha interessante compartilhar com os leitores do PRAVDA?
HOPENHAYM: Participei como árbitro em meia dúzia de Campeonatos Mundiais, sejam femininos (2) ou masculinos (4), 6 Jogos Olímpicos, 2 com uniforme de árbitro, 4 na Comissão Técnica Mundial até que acabei me aposentando no ambiente internacional em 2006, ano que fui incluído no «Salão da Fama da FIBA», o 1º, que aconteceu em Alcobendas, uma cidade satélite do lado de Madri que quase faz parte, uma vizinhança requintada da capital espanhola e casarões maravilhosos. Nessa localidade a FIBA acabou construindo um prédio de 2 mil m² decidindo que seja a sede do 1º Salão da Fama. No mês de Março de 2006 tinham montado um Salão da Fama que poderíamos dizer virtual, baseado numa filmagem que foi compartilhado pela net e tendo como destaques pessoas que tinham falecido. Este no qual participei foi na real e o 1º com pessoas vivas e foi marcado para o dia 13 de Setembro de 2007. Viajei convidado junto com a minha esposa e foi muito bonito. Mas na hora de lembrar fatos dos eventos nos quais participei, lembrei um de jeito específico agora. Tenho mais uma lembrança do basquete uruguaio e vamos lá então. Trata-se de um jogo dos times Aguada e Goes de Montevidéu na 1ª Divisão na quadra aberta do time Sporting e sendo que foi final, lotada pelo próprio confronto de duas camisas com muitas fãs. O Goes tinha um jogador muito esperto, o conhecido «Macaco» Vignola e no Aguada o gigante de 2.07 m, logo internacional uruguaio e atual Presidente do time, o médico Mario Viola. Num abrir e fechar de olhos o Viola virou uma fúria e fica querendo matar o «Macaco» até que o resto dos jogadores tentaram segurar os braços dele que não paravam de se movimentar. Foi quando fiquei próximo dele e perguntei: «o Mario...o que está acontecendo contigo? Ele respondeu: «Percebeu nada, né? Vou matar o «Macaco», vou matar ele mesmo!!» Pedi que se acalmasse e ele continuava nessa. Foi então que tentando acalmá-lo acabei fazendo uma coisa que até eu fiquei surpreso pois os árbitros não temos que reagir desse jeito. Acabei lhe dando uma palmada em cada uma das bochechas do Mario. Mais nunca na vida agi desse jeito assim. Nesse instante acho que ele caiu na real e aquela fúria virou pranto. Não parava de chorar. Ele perguntou se eu tinha percebido o que tinha acontecido e assim que perguntei, o Mario Viola confirmou que o «Macaco» Vignola quicou a bola entre as pernas e em paralelo gritando «opa» roçou a mão na bunda dele.
Assim que o ambiente tinha descontraído, fiquei pertinho do «Macaco» e como sempre acontece o cara olhava pro céu dando uma de babaca, que reflete o grau de responsabilidade dum cara espertinho. Falei direto para ele: Olha aí Macaquinho, Mario confirmou o que aconteceu com vocês e acredito nele, não consegui olhar tua atitude mas vou ficar de olho em você o jogo inteiro e assim que faças uma outra, vai embora pro vestiário. Ele respondeu...com certeza, Mario, sem problemas...com certeza. Tudo ficou sossegado logo, o Aguada venceu e viroui Campeão.
A outra internacional que vou compartilhar é a seguinte: No decorrer do Mundial Extra no Chile 1966, o jogo foi União Soviética perante os EUA e os confrontos das duas seleções viraram «fogo». Não no caso dos Mundiais mas sim dos JJ. OO. á classificação final tinha na cimeira os EUA e logo a URSS até que estourou o Sabonis, o lituano, 2.21 m e grandíssimo jogador, dando uma virada na história e conseguindo a URSS o primeiro título Olímpico.
Voltamos naquele jogo URSS x EUA até que um jogador norte-americano concretiza uma falta extremamente forte acima dum soviético de 2.05 m com aquele corpão que assemelhava um lutador bem mais do que um jogador de basquete. O russo caiu no chão reagindo aos poucos tendo como objetivo dar um soco no rival e não sei o que aconteceu comigo que tentando que essa agressão não progredisse e antes do cara ficasse em pé, coloquei as minhas mãos nos ombros dele empurrando-o para que caísse mais uma vez no chão. Após dessa minha reação e na hora que tudo tinha-se acalmado, mandei o norte-americano mais longe o restos dos jogadores já tinham reagido tentando dividir. Logo após essa bagunça fiquei perto do russo, ajudei ele se colocar em pé pedindo em inglês me desculpasse. «I´m sorry». Apitei falta intencional do norte-americano (hoje ia ser apitado como falta anti-esportiva) e felizmente acho que não deixei progredir uma Guerra Mundial entre norte-americanos e soviéticos (sorridente).
P: Mario...você é argentino. Quando chegou em Montevidéu e porquê?
HOPENHAYM: Nasci em San Fernando, na Província de Buenos Aires e lembro que o nome da rua que morei lá até ter completado 7 anos antes da minha vinda para Montevidéu era «Cucha Cucha» que em castelhano no mínimo é estranho pois exprime uma ordem para um cachorro querendo que fosse rumo ao cantinho dele. De jeito específico, «Cucha Cucha» é o nome duma batalha. Essa rua está no bairro Belgrano. Logo aconteceu a viagem para Montevidéu pois o meu pai que foi um grande vendedor, trabalhou na ELECTROLUX e nessa época Uruguai não tinha fábricas deste tipo de materiais para o lar e sendo a melhor no segmento, acabou abrindo uma filial em Montevidéu e foi ele o «Chefe de Vendas». Minha primeira residência em Montevidéu foi numa ruazinha que poderíamos dizer é um beco sem saída e conhecida pelos vizinhos das redondezas, chamava-se «Cabo Polônio». Desde a minha residência conseguia olhar a antiga quadra de basquete do time Artigas, que hoje é o Instituto de Ensino Secundário conhecido como Liceu Zorrilla. Acho que esse clube foi a minha escolinha de basquete. Veja só....aí comecei mexer no xadrez e logo veio o basquete. Na verdade, acho que comecei jogar basquete na areia da Praia Ramírez (na frente do atual Edifício Mercosul) na hora que os professores de educação física tinham muito a ver com o ensino de esportes. Mais logo veio um roteiro por duas residências que o pai alugou até que comprou uma na rua Lombardini e foi no instante que o pai saiu da ELECTROLUX pois o salário dele vendendo em Montevidéu era bem mais do que o do Gerente em Buenos Aires gerando problemas. O pai tinha uma fórmula para fabricar um produto que dava lustre e brilho nos soalhos. E daí nome do famoso produto uruguaio "H". Ele quis batizar o produto como «SOL» mas o a famosa empresa BAO tinha batizado um dos sabonetes com esse nome e foi impossível. Foi á hora que o pai levando em consideração que o nosso sobrenome é HOPENHAYM, batizou o produto «H» sendo que o primeiro anúncio na imprensa foi: «CHAME-LHE H». Logo chegaram mais alguns anúncios famosos: «H com plastifilin, brilho de sol no seu soalho» que foi sugerida pela agência de publicidade dos irmãos Rey - Kelly e para todos aqueles que lembram o programa cômico da tevê TELECATAPLUM seja no Uruguai, Argentina e Chile, um dos destaques, Raimundo Soto, era o mais velho desses irmãos. A vida foi andando e um dia comecei jogar basquete (era muito ruim) no Club Atlético Tabaré até que num treino do time, o treinador ficou pertinho da gente pedindo que apitasse num jogo perante um outro time. Semana seguinte mais uma vez o treinador me deu a responsabilidade de apitar num treino pois ele acho que no primeiro treino tinha apitado muito bem. Por incrível que pareça, o árbitro internacional Washington «Touro» González assistiu o jogo. Acho que é recorde mundial pois tinha mais três irmãos e todos foram árbitros de basquete, Washington, Dante, Tulio e Artigas González.
A minha carreira com uniforme de árbitro tinha iniciado, gostei e além disso tinha certeza que como jogador de basquete não ia ter muito sucesso. Uns cinco anos depois assim que fiz a minha estréia internacional, encontrei aquele treinador que tinha pedido que arbitrasse naqueles treinos falou para mim direto: «Olha Mario. Saiba que está me devendo uma garrafa de um uisquinho ótimo pois foi a partir daquele meu pedido você virou árbitro. Como jogador o teu futuro não ia ser muito bom e como árbitro tem panorama maravilhoso».
E acabou sendo desse jeito que aquele treinador me disse.
P: Mario...qual é o sentimento de ter compartilhado o privilégio de ser parte dessa turma de destaques do basquete mundial no 1º Salão da Fama. No caso do Brasil, Hortênsia, além de grandíssima jogadora, uma mulher primorosa, o Amaury Antonio Passos, o russo Gennadi Volnov, o iugoslavo Ivo Daneu. Alguma lembrança que possa envolver algum deles?
HOPENHAYM: Quanto tem a ver com a Hortênsia, foi a melhor jogadora da época segundo a FIBA. Fora isso, ela foi respeitosa e tanto em quadra e muito disciplinada. Mas posso compartilhar um comentário. Participamos de um Pan-Americano Feminino na Província de Jujuy - Argentina e o meu querido irmão espiritual e árbitro internacional Julio Dutra junto com a Hortênsia começaram experimentar aqueles vinhos gostosos da Província. Acho que enterraram uma garrafa cada e os dois dançando juntos, tinha o palpite que iam cair ambos. Morrendo de rir tudo continuo super legal. Acho fundamental salientar que a Hortênsia foi sempre uma moça muito correta, sem participar de "maluquice" nenhuma mas nessa oportunidade ela gostou muito desse instante e foi maravilhoso vê-los quase «bêbados». Junto com essa turma houve mais dois árbitros internacionais uruguaio como o Félix «Coco» Fares e o Raúl Cames, que junto com o Julio Dutra foram os três árbitros uruguaios no torneio. Logo voltamos no hotel e o Julio Dutra que ia andando pela rua deu uma batida com uma coluna pois acho que nem sabia o que estava acontecendo com ele. Dia seguinte, íamos voltar para Montevidéu e aquele que arrumou as malas foi o «Coco» Fares pois o Julio continuava dormindo. Foi muito lindo ter vivido esses instantes.
Voltando no caso da Hortência preciso salientar mais uma vez que compartilhamos quadra, ela como jogadora e eu árbitro no decorrer de 20 anos e foi sempre referência como esportista e da para acrescentar que foi super simpática, moderada, uma moça que não lembro reclamação nenhuma, jogo limpo sempre, uma jogadora maravilhosa e segundo a FIBA, quando as brasileiras viraram Campeãs do Mundo, foi a melhor nessa época. Junto com ela, houve mais uma grande jogadora, armadora do time brasileiro que também foi a melhor do mundo, que foi a Maria Paula. O tempo faz que as lembranças ás vezes não fluam mas estas duas jogadoras ficaram na minha memória pela grande valia.
P: É mesmo assim que o Amaury parecia suspenso no ar na hora de se encaminhar rumo ao cristal rival?
HOPENHAYM: Com certeza. Além disso, nunca vi um outro jogador, nunca, quicar a bola tão alto sem chegar até o «doble-drribling». Aqueles que conhecem de basquete teriam que saber que a bola pode ser quicada mas caso pousá-la na mão, o jogador não pode quicar de novo pois isso acarreia «doble-dribbiling» que é uma falta. Ele quicava a bola alcançando quase a altura da cabeça, sendo um jogador no eixo de 1.92 m e acho que tendo a virtude de quicá-la tão alto que era de fato, quase impossível tirar das mãos dele. Sendo Campeões do Mundo, houve três grandes destaques dessa seleção brasileira, Ubiratán Pereira segurando bolas no garrafão, Wlamir Marques, cestinha que sem arremesso de três pontos nessa época foi incrível e hoje tivesse sido ainda melhor pois era maravilhoso arremessando de longa distância e o Amaury Passos que era o grande organizador dessa turma. É óbvio, houve mais alguns jogadores bons como o Carlos Massoni (Mosquito) pois era muito esperto e rápido mas os três primeiros sem dúvida, os melhores daquele grande Brasil.
P: O russo Gennadi Volnov? O que lembra?
HOPENHAYM: O Volnov foi capitão daquela seleção russa alcançando até á Presidência da Federação Soviética de Basquete. Embora, foi incluído no Salão da Fama
P: O Ivo Daneu? Aquele canhoto da seleção iugoslava?
HOPENHAYM: Não, aquele canhoto iugoslavo foi o Korac, aquele de cabelo vermelho que infelizmente faleceu num acidente rodoviário. Do mesmo jeito, faleceu aquele outro iugoslavo Petrovic que atingiu a própria NBA e curtindo férias na Espanha junto com a namorada e mais um casal no carro dele dirigindo extremamente rápido, acabou morrendo. O azar ás vezes fala mais alto pois dois grandes jogadores iugoslavos faleceram em acidentes de automóveis. Épocas diferentes mas o mesmo final. No V Mundial - Montevideo 1967, o Ivo Daneu segundo o júri desse torneio foi o melhor armador sendo parte desse quinteto ideal, como faz a imprensa sempre neste tipo de eventos.
P: Mario...na carreira profissional de árbitros, quais foram as referências? O Julio Dutra?
HOPENHAYM: O Julio Dutra foi meu irmãozinho caçulo e levando em consideração que não compartilhamos nosso sangue, foi mais irmão que muitos irmãos que muitas pessoas têm na vida. Lembranças...poupei de dois árbitros. Um deles foi fundamental para mim no ensino de um item que acho foi o meu carimbo na minha carreira. Dom Juan Francisco Carro acabou ensinando «Psicologia da arbitragem» que não faz parte dos regulamentos do basquete mas acaba sendo fundamental para que a nossa tarefa seja normal, bom ou muito boa pois temos que saber reagir a cada instante dependendo das situações que fossem acontecendo nas partidas. Então aquele que resolve as situações mais difíceis está veiculizando de um jeito bom aquilo que a gente chama de «psicologia da arbitragem». Por isso, minha lembrança para o árbitro Juan Fco. Carro.
Uma outra lembrança que a gente cuida com carinho não por ter sido parte dessa dupla de árbitros em quadra junto com ele, embora, pela grande valia e aquele vozeirão, cabelos vermelhos é para o norte-americano Sigmund Mihalik que no ambiente foi batizado de «Red» por causa da cor dos cabelos. Corpanzil e tanto. Muito bondoso. Eis aqui a minha lembrança que envolve o «Red». Nos JJ. OO. México 1968, que foi o segundo torneio que arbitrei junto com ele, a cada dia no eixo das 7 da manhã comecei o meu roteiro profissional correndo para manter o meu físico pois tinha vontade e acho importante salientar que ninguém pedia para mim que fizesse numa época que não tinha teste físico como acontece hoje. Num domingo, cedinho de manhã encontrei ele voltando para o seu apartamento. Parei ele na rua e perguntei: «Red o que você faz tão cedo assim?» Ele voltava de terno e respondeu que tinha ido na igreja a rezar pela arbitragem. Foi então que houve mais um comentário meu: «O Red...não lembra que você não está na tabela das arbitragens hoje?» O último comentário dele foi: «Fora que a gente não tenha a responsabilidade da arbitragem hoje, acabei pedindo pela arbitragem dos meus colegas assim como peço pela gente na hora que a responsabilidade é minha».As vezes nos cadernos dos jornais, nas reportagens, aqueles que mexem na filosofia ou ciência, encaminham um comentário para um destaque que é chamado de: «O meu destaque inesquecível» O Red MIhalik virou o meu destaque inesquecível pela qualidade de pessoa. Tratava-se de um ser humano maravilhoso e bom fora ter tido um vozeirão rouco. Os árbitros norte-americanos costumam gritar as faltas: «Falta quinze» «Falta dez» salientando os números das camisas dos jogadores punidos. Isso não é convencional na FIBA mas é normal na NBA ou NCAA nos EUA. Por enquanto, nos temos que mostrar o tipo de falta para o pessoal da Mesa de Controle mostrando o número do jogador punido com as mãos sem gritar nada .
P: Mario...quais foram aqueles grandes jogadores que você arbitrou?
HOPENHAYM: O jogador Nº 1 no decorrer do tempo tendo assistido jogos na tevê, ao vivo e na própria NBA é o Michel Jordan. Esse cara foi incrível, parecia mesmo ficar suspenso no ar e no último instante na hora de começar descer mudava a bola de mão dando aquele grandíssimo passe. Para mim ele foi único. Mas caso levar em consideração a América Latina, o mais perto para mim e no lugar que tenho arbitrado mais jogos, também fui árbitro na Europa e Canadá, nunca nos EUA, ao meu ver, os dois melhores foram batizados de «OSCAR». Um deles, o uruguaio Oscar Moglia e o outro Oscar Schmidt, o brasileiro. Quanto ao Moglia, vou compartilhar um comentário: O Moglia foi jogador maravilhoso, cestinha e tudo quanto possa imaginar de bom. Mas o agir dele era difícil mesmo e ás vezes acabava dizendo «palavrões» para os próprios colegas em campo pois ele só admitia a vitória...ele queria vencer em tudo. Então caso não perceber o apoio dos colegas nessa vontade de vencer...imagina só. Ele jogou sempre no time do peito, Welcome e perante o time EL FARO, ele concretiza uma falta...não gostou daquilo que a gente acabou apitando. Reclamou e apitei falta técnica, não gostou também não até que lembrou se da minha família toda. Foi na hora que apontei para o vestiário e confirmei que tinha sido expulso. Ficou muito bravo comigo e após essa marcação, ficou sem falar comigo no decorrer de alguns anos até que num jogo Welcome perante o time Don Orione jogando como visitante e com o Moglia treinador, o jogo tornou-se difícil pois a torcida do Don Orione era muito brava. Lembro que apitei tudo quanto o Don Orione tinha que ser punido. Eles jogando muita pressão estavam querendo vencer mas o meu agir não mudou. Welcome ficou vitorioso. Assim que o jogo acabou, alguém deu uma batida na porta do vestiário. Respondi: «Pode entrar». Foi ele, o Oscar Moglia. Então ele chutou assim: Mario, acabei sendo expulso sem motivo naquele jogo Welcome x El Faro no ginásio do clube Bohemios. Respondi o seguinte: O Oscar, não vamos brigar mais uma vez pelo assunto. Lembra que você jogou «palavrões» acima da gente...o Oscar disse: Você apitou falta técnica...tudo bem...mas não é o alvo desta conversa. Lembra que eu não falei mais contigo desde aquela data. Sabe o que desejava hoje? Perder o jogo perante o Don Orione pois o ambiente estava muito ruim e tudo mundo ia ganhar alguns socos caso vencermos. Você arbitrou dum jeito que não se importou das ameaças nem nada e a vitória foi do Welcome com muita justiça e hoje vou te pedir avaliar o nosso reencontro como amigos. (nesse instante da reportagem os olhos do Mario viraram úmidos e vermelhos lembrando o pedido do Moglia, embora, arrastando as palavras pela emoção). O Mario confirmou que ás vezes a emoção te abraça e faz que isso ocorra. Logo aconteceu aquele grande abração e continuamos a nossa amizade com o Oscar Moglia. O Grande Oscar Moglia do nosso país, acrescentou o Mario.
A reportagem acabou bem descontraída e após o pranto lógico e lotado de emoção do Mario Hopenhaym veio o sorriso final dele fora que aquele que ficou bravo acabei sendo eu. O Mario enfiou sua ferramenta de trabalho na boca e ao meu ver apitou errado...mesmo que não acredite fui expulso da residência do Mario, segundo ele foi «falta técnica» pois estive fazendo cera no decorrer de quase três horas.
Obrigado Dom Mario Hopenhaym pelo jeito de ser e ótimo 2011 junto á esposa Esther Pepe, as cinco filhas, 11 netos e um bisneto.
Gustavo Espiñeira
Jornal Pravda
Montevidéu - Uruguai
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