Três reflexões sobre a qualidade e a censura na educação pública no Brasil

Adilson Roberto Gonçalves

A Universidade de São Paulo (USP) se consolida como a melhor universidade da América Latina e vive dilemas do embate entre experiência e modernidade para manter seus quadros de servidores. Reportagem recente mostra que a “USP perde 800 professores em uma década e cursos têm aulas canceladas”. De um lado, há ofertas mais vantajosas em outros setores para docentes trabalharem, uma vez que o salário da carreira acadêmica é limitado pelos proventos do Governador do Estado.

Muita gente antecipou a aposentadoria por esse motivo, diminuindo também a profícua convivência entre seniores e novatos na troca de experiência. Por outro lado, profissionais experientes se candidatam a vagas abertas, ainda que haja algum preconceito não declarado de só contratar jovens doutores para os quadros universitários e que não tenham vindo de instituições “concorrentes”. Há que se mudar tais paradigmas, ainda que a inércia administrativa seja grande para dar vazão aos concursos públicos, reconhecida e apontada pelo próprio Reitor na reportagem.

Pois bem, indo em direção ao ensino técnico profissionalizante, foi feito um raio X da educação mundial e mostrando que nosso país está entre os piores nesse ensino técnico e nos chamados jovens “nem-nem” – os que não trabalham, nem estudam. As matérias publicadas não revelam que boa parte da educação em tempo integral no Brasil é oferecida pelos Institutos Federais, com cursos técnicos integrados ao Ensino Médio.

É fórmula de sucesso desde o primeiro governo Lula, em que ocorreu a enorme expansão desse tipo de educação, com planos para chegar a mil escolas no país nos próximos anos.

Encerro com uma questão importante que são os relatos de censura e punição no ambiente universitário, discussão que tem sido trazida por alguns interlocutores que acreditam que democracia é um valor absoluto, não relativo. No entanto, há que se distinguir entre debate e lacração, como é a moda atual, em que pessoas de ideias contrárias à própria existência da universidade pública e gratuita querem usar do espaço para aparecer e não debater, sabendo da repercussão que isso causa. É típico que seus assessores com câmaras e celulares a postos cheguem antes dos próprios “debatedores” para provar que tiveram a “liberdade de expressão” violada.

 

Adilson Roberto Gonçalves, pesquisador da Unesp, membro da Academia Campineira de Letras e Artes, da Academia de Letras de Lorena, do Instituto de Estudos Valeparaibanos e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas.

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