Ucrânia: Onde as reacções pavlovianas obfuscam a verdade

As reacções pavlovianas são antagónicas a aqueles que adoptam uma abordagem equilibrada, ponderada e madura, como o Partido Comunista Português

A reacção internacional à situação na Ucrânia tem sido partidária, unilateral, tendenciosa, pueril, superficial e um excelente exemplo da obfuscação da opinião pública baseada em “provas” tipo photoshop e notícias falsas em alguns casos, usando estas falsas provas contra aqueles que apresentam uma abordagem equilibrada, nomeadamente o Partido Comunista Português. Desde o primeiro dia, a posição do Partido Comunista Português tem sido uma palavra: Paz.  

O Partido Comunista Português foi massacrado na imprensa esta semana, que acusou o Partido de ter tomado o lado errado na operação militar na Ucrânia, e como consequência arriscando a perda da maioria do seu eleitorado.

Reportagem pueril

Este é mais um exemplo de reportagem pueril, superficial, manipulação da opinião pública com opiniões distorcidas e a tentativa de criar vítimas entre aqueles que não se limitam a seguir o fluxo sem fazer perguntas e estudar o contexto. Desde o primeiro dia, a posição do Partido Comunista Português tem sido uma palavra: Paz.

O único a apresentar uma abordagem equilibrada

De facto, o Partido Comunista Português é o único que tomou uma posição equilibrada e ponderada desde o início, tendo em conta o contexto completo da situação actual, ouvindo ambos os lados e apresentando uma opinião baseada na realidade e não em fantasias. Há aqui uma série de questões que ensombram a verdade e é injusto acusar o Partido de ter errado quando é o único que tem razão.

De facto, tanto a Rússia como o Partido Comunista Português são totalmente incompreendidos e isto é culpa da comunicação social distorcendo a verdade, na apresentação de relatórios tendenciosos ao longo de décadas.

Comecemos pela Rússia. O Governo da Rússia está nas mãos da Rússia Unida, o Partido que o Presidente Vladimir Putin lidera. O Partido no poder não é o Partido Comunista, que é o principal partido da oposição (e  não estas figuras marginais de que fala um Ocidente russofóbico, como Kasparov, Navalny e companhia, que dificilmente conseguem obter votos). Repito, o Partido Comunista da Federação Russa não é liderado por Vladimir Putin nem está hoje no governo.

Portanto, qualquer ligação entre o Partido Comunista Português e Vladimir Putin ou a sua Rússia Unida é um completo disparate. Em segundo lugar, o Partido Comunista Português NÃO está a favor da actual operação militar na Ucrânia. Desde o primeiro dia, a posição do Partido Comunista Português tem sido uma palavra: Paz.

Passemos agora à posição do Partido Comunista Português. Desde o primeiro dia, a posição do Partido Comunista Português tem sido uma palavra: Paz. Dito isto, e sem tomar partido, repito, sem tomar partido, o Partido Comunista Português e alguns dos seus membros têm apontado a verdade, numa avaliação equilibrada da situação, mostrando profundidade política, maturidade e responsabilidade, nomeadamente que dentro das Forças Armadas Ucranianas, as forças armadas oficiais, existem batalhões de fascistas com insígnias neonazis. Isso acontece em outra parte do planeta?

E em coerência com esta abordagem, o Partido Comunista Português, sem tomar partido, salientou que Volodymyr Zelenskiy, o Presidente da Ucrânia, permitiu que estes batalhões se pavoneassem com neo-swastikas, como parte das forças armadas oficiais do seu país. Qualquer outro líder permiritia isso?

O Presidente Zelenskiy disse que iria terminar o conflito em Donbass mas de facto, permitiu que as suas forças armadas fizessem guerra contra esta população ucraniana russófona, que dura há oito anos.

Por isso tomar partido, erguer bandeiras ucranianas com o slogan "Solidariedade" é um insulto aos milhares de ucranianos russófonos em Donbass que foram massacrados, e sim, incluindo mulheres e crianças. E sim, incluindo avós e avôs. E sim, incluindo a destruição de laresde famílias. E sim, incluindo a destruição de escolas. E sim, incluindo o assassínio de bébés. E sim, incluindo o extermínio de animais de estimação. E sim, incluindo a perda dos meios de subsistência das famílias. E sim, incluindo a destruição de famílias. Por forças militares ucranianas. Durante oito anos. Por isso está correcto para aqueles que não são russos ou ucranianos lembrar o contexto e não tomar qualquer um dos lados. Isso tudo aconteceu.

E assim, sem tomar partido, uma terceira parte tem o dever de reflectir, de forma responsável, e apresentar uma posição equilibrada, que é exactamente o que o Partido Comunista Português tem feito. Desde o primeiro dia, a posição do Partido Comunista Português tem sido uma palavra: Paz. Ninguém gosta de ser invadido, ninguém gosta de ser bombardeado, ninguém gosta de ver vítimas civis. Mas apenas um lado disto está a ser apresentado nos meios de comunicação, e isto não é uma reportagem equilibrada. Por terrível que seja ver mães e crianças a gritarem, devemos recordar que as mães e crianças ucranianas russófonas, há oito anos que gritam. A diferença é que ninguém se importa, porque são russófonos. Lágrimas têm sabor a sal, seja quem for que as derrame.

Por popular que seja a moda do Presidente Zelenskiy a apresentar a sua versão da verdade enquanto se dirige aos Parlamentos (algumas vezes ladeado por fascistas) pedindo mais armas para prolongar o conflito e causar ainda mais sofrimento, por muito sensual que seja para a comunidade internacional aconchegar-se num filme domingueiro à tarde hollywoodesco escolhendo o cowboy de chapéu branco como herói, por apelativo que seja pintar faixas amarelas e azuis por todo o lado e içar bandeiras amarelas e azuis e colocar crachás amarelos e azuis em monikers da Internet, lembremo-nos de que a reacção emocional pavloviana é apenas uma reacção emotiva sem qualquer consequência ou substância, e não uma reacção analítica. Há dois lados, há contexto, ucranianos russófonos sofreram a mesma coisa. E onde estão estas histórias?

Consistência, coerência

E, como é habitual, a posição do Partido Comunista Português tem sido consistente e coerente. Desde o primeiro dia, a posição do Partido Comunista Português tem sido uma palavra: Paz. Enquanto outros têm apelado à entrada de terceiros no conflito, o que de qualquer forma é ilegal (nos termos da Convenção V relativa aos Direitos e Deveres dos Poderes e Pessoas Neutras em Caso de Guerra sobre a Terra e da Convenção XIII relativa aos Direitos e Deveres dos Poderes Neutros na Guerra Naval, que estipulam ambos que um Estado que não esteja envolvido num conflito armado não deve facilitar o apoio a uma das partes. A isto se chama a Lei da Neutralidade), o Partido Comunista Português tem apelado à paz, reconhecendo ao mesmo tempo o contexto que outros parecem ignorar por opção ou por defeito.

Talvez seja tempo de as pessoas ouvirem, por uma vez, o Partido Comunista Português. Operou durante décadas não por interesse próprio mas por desejo de que o povo português (e os povos de Angola, Cabo Verde, Damão, Diu, Goa, Guiné-Bissau, Moçambique, Ilhas de São Tomé e Príncipe e Timor Leste) fossem livres. Os seus membros foram encarcerados, torturados e assassinados. Mas mesmo assim funcionou clandestinamente.

Não é um partido que dança quando o vento manda ou vai com o fluxo sem qualquer razão. Tem os seus estatutos, tem a sua organização, tem as suas políticas e tem a sua forma de apresentar as suas posições após cuidadosa reflexão. Isto significa que pesa todos os lados de um evento após consulta com os seus membros e outros conselheiros, que passam muito tempo a debater e em discussão, num processo de diálogo profundo. Não é um partido que se rende a acções tipo caça às bruxas.

Quantos desses que atiram pedras hoje contra o Partido Comunista Português sabiam que havia uma situação de conflito na Ucrânia Oriental (Donbass) há oito anos? Quantos desses que atiram pedras hoje contra o Partido Comunista Português sabiam que Vladimir Putin não é comunista? Quantos desses que atiram pedras hoje contra o Partido Comunista Português sabiam que a Rússia não é governada pelo Partido Comunista? Quantos desses que atiram pedras hoje contra o Partido Comunista Português sabiam que o Partido Comunista Português nada tinha a ver com a Rússia Unida ou com Vladimir Putin? Quantos desses que atiram pedras hoje  contra o Partido Comunista Português sabiam que o Presidente Volodymyr Zelenskiy permitiu que a guerra em Donbass prosseguisse e se recusou a implementar os acordos de paz (Minsk) que a Ucrânia assinou?

Quantos desses que atiram pedras hoje contra o Partido Comunista Português sabiam que o Presidente Zelenskiy permitiu que os batalhões neonazis desfilassem dentro das forças armadas oficiais do seu país, usando insígnia neo-nazi?

E aqueles que atiram pedras hoje concordam com isso? Pensam que é correcto um país atacar os seus próprios cidadãos? E porque é que os cidadãos de Donbass pegaram em armas? Para brincar aos soldados, ou para se defenderem contra os massacres perpetrados pelos fascistas ucranianos? (E não estamos a dizer que todos os ucranianos são fascistas).

Aqueles que atiram pedras pensam que é correcto que um país tenha neo-nazis nas suas forças armadas oficiais, usando suásticas? Sim? Então admitem que Hitler ganhou afinal de contas e aqueles que fecham os olhos a isto estão de facto a apoiar os fascistas, os massacres fascistas e as políticas fascistas, por exemplo a proibição de certos partidos políticos na Ucrânia (incluindo os comunistas). Isso se chama democracia??

Repito, ninguém gosta de operações militares, ninguém gosta de conflitos armados, ninguém gosta de ver casas destruídas ou famílias despedaçadas. Mas aqueles de nós que não são russos ou ucranianos não devem ser tão unilaterais, devemos encontrar equilíbrio, parar de vender ódio e procurar oportunidades para criar reconciliação e isto começa com uma avaliação responsável e equilibrada da situação.

Desde o primeiro dia, a posição do Partido Comunista Português tem sido uma palavra: Paz. Talvez seja tempo de as pessoas por uma vez ouvirem o PCP, que costuma ter razão.

Timothy Bancroft-Hinchey pode ser contactado em [email protected]

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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