Sucursais do inferno

Sucursais do inferno
Jolivaldo Freitas


Não se sabe ao certo o que levou dois jovens a cometer o assassinato em série e o apoio de outro; matar e ferir dezenas de estudantes num colégio em Suzano, São Paulo, mas o que sabemos é de uma dor intensa para as famílias das crianças vitimadas e o sofrimento sem par para os familiares daqueles rapazes, que usando armas de fogos e até instrumentos ou armas medievais, encetaram seus ódios contra tudo e todos. 
O Brasil ficou em choque e se ouviu que não é da nossa cultura este topo de atentado contra a vida, com vários lembrando que nos Estados Unidos, sim, o tempo todo adultos, adolescentes e até crianças cometem um ato de tal magnitude e que a sociedade americana já está acostumada e que os estudiosos têm procurado entender o que se passa na cabeça de quem decide cometer tal atrocidade. Falácia. Já temos um péssimo e tétrico histórico de atentados cometidos por jovens em lugares públicos e notadamente nas escolas.


O que se esquece é que o Brasil está indo no mesmo caminho, principalmente com as escolas sendo transformadas em sucursais ou filiais do inferno. O “Inferno de Dante” com seus nove círculos de sofrimento. Não se trata mais de um fato extemporâneo. Já temos registros bem antes da violência juvenil ser consequência do vício dos jogos eletrônicos, como quis atestar o vice-presidente da República Hamilton Mourão. Basta ver que no Morumbi Shopping, em São Paulo, numa noite de novembro de 1999 o estudante de medicina baiano, Mateus da Costa Meira, de 24 anos entrou atirando com uma metralhadora que havia comprado na mão de um traficante. Ele disse que não sabia porque fizera aquilo, mas que estava com vontade de atirar fazia tempo. Estava com um ódio inexplicável e também queria chamar a atenção da família.


As escolas já registraram muito casos no Brasil. Na primeira década deste século foram cinco em que alunos atiraram contra colegas. Aqui na Bahia um estudante de 17 anos matou duas alunas do Colégio Sigma, usando a arma do pai, policial em 2002. Ano passado um adolescente, de 15 anos, entrou armado e atirou contra colegas de classe do Colégio Estadual João Manoel Mondrone, em Medianeira, no Paraná. 


A questão que deve ser debatido, hoje, é o que motiva o ato tresloucado. Como enfatizei, as escolas se transformaram numa praça de guerra, seja pelo bullying exacerbado, seja pela infiltração de “aviões” das gangues de tráfico, seja pelas diferenças interpessoais, em que na falta de diálogo ou de condições de enfrentamento civilizado – às vezes pelo fator impotência frente aos problemas – os alunos em suas dores imensas e absolutas decidem resolver seus problemas, vingando, atirando a esmo. E, como numa cena mais dantesca, tirando a própria vida.


Se os pais estão baratinados, imagine o que acontece com a cabeça dos professores e dos alunos. São muitas as causas materiais e inconscientes que levam ao desespero, ao impulso, ao ato. Nenhum ato deste teor é pensamento volátil. É consequência de sofrimento acumulado, da falta de perspectiva racional, da ausência de uma porta por onde sair. Cada vez mais a juventude está isolada com seus problemas. Os jovens estão sem rumo e pressionados pela sociedade que também, neste momento, não mostra prumo nem psicológico, sociológico, educacional e nem político. O momento é de dor e de trazer os jovens para o colóquio. Entender o que está se passando. E resolver. A juventude quer solução. E tem pressa. Quanto ao porte de arma...
Escritor e jornalista: [email protected]

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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