Greve que não aconteceu

A greve geral convocada pelas centrais sindicais ficou muito longe de atingir suas metas de mobilização da classe trabalhadora e de alguma maneira, acabou prejudicando o grande objetivo que era conscientizar as pessoas sobre as quanto irão perder com a ofensiva do Governo contra os direitos trabalhistas.

Será preciso urgentemente traçar uma nova estratégia para as próximas semanas e meses, quando o quadro político brasileiro tende a se agravar com as discussões sobre o futuro de Temer, a esperada decisão de Moro sobre os processos contra Lula e as novas ações políticas do Supremo Tribunal Federal;

O insucesso da greve geral, cujo objetivo mais imediato era denunciar o caráter nocivo do projeto da reforma trabalhista, terá pelo contrário, uma conseqüência inversa ao que pretendiam as lideranças dos trabalhadores: os parlamentares que poderiam se sentir inibidos em votar as medidas propostas pelo governo Temer com medo de alguma reação mais dura dos trabalhadores, devem estar se sentindo liberados agora para votar a favor de um projeto que só atende os desejos do empresariado.

Já estão surgindo muitas análises para explicar o insucesso da greve, como a desunião das lideranças sindicais, o medo do desemprego, um certo fastio da população para esses movimentos de rua, a falta de divulgação do evento ( a grande mídia praticamente ignorou os preparativos para a greve) e fundamentalmente, a falta de um objetivo suficientemente forte para mobilizar os trabalhadores.

O fato de que a pretendida reforma trabalhista irá cortar importantes conquistas dos trabalhadores, nunca ficou muito claro para os que vivem de salários. Um ponto chave, que é a mudança nos prazos de aposentadoria, não é percebida pela maioria dos trabalhadores como uma questão do presente.

Não deve ser esquecido também o alto grau de alienação de uma boa parcela dos trabalhadores, cooptada pela promessa de que a reforma pretendida pelo governo vai gerar mais empregos, ainda que precarizados, tese que a mídia, a serviço dos empresários divulga diariamente.

Finalmente, existe ainda a questão de como as pessoas enxergam hoje os sindicatos, confundidos muitas vezes com os partidos políticos (o PT, basicamente) e com isso vendo suas imagens associados aos tais escândalos de corrupção, que reais ou imaginários, servem de manchetes diárias para a grande mídia.

Com Temer ou sem Temer, as forças progressistas do País precisam se organizar em torno de um objetivo comum para o período que vai de agora às eleições de 2.018.
São estas eleições talvez o único evento capaz de mobilizar os trabalhadores, desde que se possa oferecer a eles um projeto político progressista.

Caso a candidatura de Lula possa se sustentar até lá, ela seria a alternativa número um, desde que fosse estruturada em cima de uma proposta radical de reformas populares e não como foram nas eleições anteriores, um compromisso com as classes empresariais.
Aliás, uma repetição desse compromisso foi o que propôs essa semana em Porto Alegre o ex-ministro de FHC, Bresser Pereira, ao lançar a ideia de um grande pacto entre trabalhadores e empresários, mesmo que a atual discussão sobre a reforma trabalhista mostre que os interesses entre essas classes são e serão sempre opostos.

Falando numa reunião promovida pelo Sindicato dos Engenheiros, Bresser sugeriu uma política de desenvolvimento, mas "não populista", diferente da atual agenda "neoliberal e antinacional", de um governo que ele classificou de ilegítimo, fruto de um golpe parlamentar.

Caso as esquerdas não consigam viabilizar um projeto político consistente encabeçado pelo Lula, a proposta de Bresser Pereira poderá vir a ser uma pobre alternativa (possivelmente com Ciro Gomes) à uma candidatura de extrema direita, como a de um Bolsonaro.

Seria a repetição aqui no Brasil, do que o escritor Michel Houllebcq imaginou no seu livro Submissão sobre uma eleição na França em 2.022, quando a esquerda seria obrigada a apoiar um muçulmano, aparentemente moderado para impedir a vitória do candidato da extrema direita.

Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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