O fascismo está batendo em nossa porta
"Todos os políticos são ladrões e o melhor que podemos fazer é ficar longe deles".
Quantas vezes você já não ouviu essa frase de pessoas indignadas pelas notícias que enchem as páginas dos jornais e os programas de televisão, sobre a corrupção de dirigentes políticos do mundo inteiro?
Para elas, não é o sistema capitalista que corrompe a todos nós com a transformação do dinheiro em bem maior, mas algumas pessoas que se valem do poder político para se locupletarem indevidamente.
Então, nas vezes em que essas pessoas são chamadas a se manifestarem politicamente, numa tentativa ainda que frágil, de tentar mudar esse quadro, elas se omitem, ou fazem uma escolha errada.
Veja-se o resultado do primeiro turno das eleições parlamentares da França. Mais de 50 por cento dos eleitores inscritos não votaram. Os que o fizeram, deram mais de 30 por cento dos votos para o novo partido do Presidente Macron, formado em sua maioria por pessoas alheias à política. Partidos tradicionais, como os socialistas, os republicanos de centro direita e a extrema direita da Frente Nacional, diminuíram em muito a sua próxima representação no parlamento. O único partido com uma proposta política de reforma radical que cresceu, foi a França Insubmissa de Jean-Luc Melénchon.
Isso tudo ocorreu na França, um país sempre considerado com um dos mais politizados do mundo.
Os eleitores franceses, como os americanos, os ingleses e possivelmente os brasileiros, parecem querer assumirem aquele personagem tão bem descrito por Bertold Brecht, do analfabeto político:
"O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.
Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.
O trágico dessa história é que esse procedimento alienado só serve para abrir caminho para o fascismo.
Foi assim na chamada República de Weimar, na Alemanha, entre 1919 e 1933, cuja fragilidade abriu às portas para ascensão do nazismo de Adolf Hitler e assim foi também na Itália, onde o descrédito dos políticos e a bandeira do anticomunismo, levou Benito Mussolini ao poder.
Os sucessivos escândalos na sua vida política, o total descrédito do parlamento, caminho pelo qual parece seguir também setores do judiciário e a total fragilidade de um governo ilegal, nascido por um golpe de estado, pode levar uma boa parte dos brasileiros a, se não desejar, pelo menos aceitar um golpe de estado fascista, como foi em 64, mesmo que agora ele ocorra por uma via eleitoral corrompida pela grande mídia.
A alternativa nessa luta contra o comportamento alienado que pode nos levar ao fascismo, é a luta por eleições diretas já e se não for viável essa solução (como tudo indica que seja assim) o que nos resta é cerrar fileiras em torno da eleição de Lula em 2018, mesmo com as grandes desconfianças que ainda nos restam sobre o seu futuro comportamento.
Lula em 2018, sim, mas um Lula comprometido publicamente em fazer aquilo que prometeu, mas não cumpriu em seus oito anos de governo: reforma política, reforma agrária, regulação da mídia.
Seria uma revolução, quase um sonho, mas sonhar sonhos bons é o que de melhor pode fazer um revolucionário, como disse Lenin.
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS
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