A importância do Partido Comunista Brasileiro para a nossa história

São 95 anos bem vividos de lutas, vitórias, derrotas e principalmente memória

No último 25 de março, o Partido Comunista Brasileiro completou 95 anos de história. Quase centenário, o "Partidão" enfrenta um Brasil intolerante e pseudo - politizado, aonde se chega a associar o vermelho ao Partido dos Trabalhadores e resultando em uma agressividade estúpida, desconhecendo o significado da cor vermelha e a verdadeira história da esquerda brasileira.

Por Yuri Brandão*

 

É de fundamental importância compreender que o PCB é o partido mais antigo do Brasil em atividade. Foi o único que, apesar de anos na ilegalidade, viveu todos os períodos de nossa república. Ofereceu a nós nomes como Luiz Carlos Prestes (O Cavaleiro da Esperança), Olga Benário, Caio Prado Júnior, Oscar Niemeyer, João Saldanha, Jorge Amado, Mário Lago, Vladimir Herzog entre muitos outros que participaram ativamente do processo de construção político e cultural do Brasil. Muitos não sabem, mas o PCB foi o único Partido Comunista que apoiou as Reformas de Base do Presidente João Goulart integrando seu governo até o famigerado Golpe de 1964 e foi um dos pilares da resistência democrática à Ditadura Militar, sendo à esquerda do MDB junto com o PTB clássico e rejeitando a opção guerrilheira de boa parte da esquerda brasileira à época e sofrendo críticas e cisões. O tempo mostrou que o Partidão tinha razão.

Muitos podem olhar o PCB hoje como um partido pequeno e sem expressão eleitoral. Tanto que essa famigerada "Reforma Política" que este nosso Congresso Nacional constrói e o TSE venda os olhos põe em risco a existência de um partido com uma nobre história e que paga um alto preço por sua coerência. Em 1962 sofreu a cisão do PC do B que se recusou a abandonar o stalinismo. Um partido que se diz comunista em seu programa e estatuto e flerta com partidos como o PMDB e engole, em nome do "pragmatismo político", o DEM de Ronaldo Caiado. Em 1992, trinta anos depois, recebeu uma nova cisão. Desta vez o PPS, uma legenda que se diz socialista, mas mantém alianças com PMDB, PSDB e DEM e que resultou de um congresso relâmpago onde até não filiados votaram em um Congresso do PCB. Algo inédito e único na política brasileira que quase levou o Partidão à extinção, o que não ocorreu graças à bravura de verdadeiros comunistas que mantiveram essa história viva. Em 2005, quando Lula e o PT estavam na crista da onda, sendo bajulados inclusive pela direita, o PCB rompe com o Governo Lula e seu modelo econômico neoliberal, opondo-se a este modelo petista de governar até o seu final, não caindo nos sofismas políticos intelectuais, tanto de "esquerda" quanto de direita, posicionando-se de maneira madura e independente, resultado de suas experiências acumuladas ao longo de seus 95 anos.

Gostem ou não, o Partido Comunista Brasileiro faz parte de nossa história. Seja com erros e acertos, legalidade ou clandestinidade, o vermelho com foice e o martelo dourado não se limitou a ser uma grife marxista de luxo como o outro PC. Foi o único representante da URSS no Brasil, posicionou-se coerentemente ao longo da história ao lado do povo brasileiro e, quando errou, soube fazer a autocrítica de forma honesta. Paga o preço de nossa débil democracia por ser um partido que não ludibria os eleitores buscando um caminho fácil ao poder. Procura de forma pedagógica construir o poder, o que eles chamam felizmente de Poder Popular. Muito triste é a falta de respeito que esta legenda sofre. Nem sua data 25 de Março de 1922 é respeitada por partidos como PPS e PC do B, que insistem em se apropriar desta data e da História do PCB, aproveitando-se do tamanho eleitoral da legenda, algo que o TSE deveria se posicionar e por uma questão de justiça declarar esta data de fundação legítima do PCB. Essa falta de respeito consiste também na confusão que muitas pessoas fazem em associar o PCB ao PT, sendo que o PT é um partido socialdemocrata que se apropriou de elementos da esquerda para obter sua hegemonia. Podemos concluir que a esquerda nunca chegou ao poder. Tivemos, sim, uma ilusão, e a ilusão é bem diferente da realidade.

São 95 anos bem vividos de lutas, vitórias, derrotas e, principalmente, memória. Algo que o Brasil banaliza pela sua precária estrutura educacional. O PCB transcende a sua condição de um simples partido político que sobrevive à decadência deste modelo democrático atual. O Partido Comunista Brasileiro é com certeza um patrimônio político e cultural do povo brasileiro.

*Yuri Brandão, bacharel em Direito pela PUC/GO e militante trabalhista e socialista independente

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