São Paulo: O governo municipal não existe e o estadual marcha para o nada

Nestas breves notas procuro consignar, de modo o mais lacônico e incisivo possível, minha insatisfação relativamente ao atual prefeito da cidade de São Paulo e aos candidatos que disputarão o governo do Estado de São Paulo nas eleições deste ano de 2014. Tenha-se presente, ademais, que nesta crônica indiquei para cada personagem contemplada tão somente um ou dois de seus despautérios deixando ao leitor a instigante tarefa de completar o rol de estultices atribuíveis a cada uma de tais figuras.

Iraci del Nero da Costa*

A Prefeitura de São Paulo encontra-se acéfala, Fernando Haddad (PT) seu titular, sem experiência política alguma e portador de vivência administrativa desprezível, aponta em direções contraditórias que o imobilizam fazendo suas ações assemelharem-se a u'a massa informe desprovida de energia, visão clara e determinação; comporta-se, ademais, como um fantoche tosco e mal-ajambrado ao qual falta um ventríloquo minimamente competente.

Deu-se, assim, uma total caotização da vida política paulistana derivada de sua desadministração; disso resultou uma generalizada desorganização e falta de iniciativas coerentes; tudo ocorre de maneira espontaneísta e, repetidamente, as medidas assumidas são modificadas ou simplesmente deixadas de lado.

A ilustrar a sandice de jogar iniciativas fora está a tentativa da Prefeitura de São Paulo de criar na região central da cidade um "cercadinho" com grades de ferro destinado a albergar os usuários de drogas da cracolândia; o objetivo da instalação de tal gaiola era o de liberar as calçadas para pedestres e as vias da área para os veículos. Evidentemente, os doutos usuários, conhecedores de seu direito de ir e vir, consideraram discriminatória tal medida e se recusaram a enjaular-se no "cercadinho" tão carinhosamente oferecido pelo prefeito das incongruências, o qual deve estar a imaginar se a introdução de alguns complementos seria capaz de tornar menos ofensivo o almejado "cercadinho": talvez um bar com lanchonete, alguns divãs ou canapés com banheiros privativos o façam menos repelente... 

O trato com a empresa Controlar, o demagógico e despropositado tratamento emprestado à proposta de majoração do IPTU e o amalucado comportamento com relação à ampliação do rodízio veicular municipal são apenas três outros exemplos gritantes de atitudes descabidas adotadas pelo desgoverno que nos aflige. As ações de tal político, diga-se, atuam não só em seu desfavor mas também poderão atingir um outro desconhecido dos habitantes do Estado de São Paulo, o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), que está a ser imposto pela atual presidente e seu guia político como integrante do conjunto vazio que reúne os candidatos à governança dos paulistas. 

Com respeito à pessoa ignominiosa desse ex-ministro da Saúde, basta lembrar duas de suas condutas absolutamente repugnantes: sua concordância  incondicional com as normas ditadas pelo governo cubano quanto ao programa Mais Médicos, que rompem com nossa Constituição e representam um crime contra a cidadania, e sua iniciativa de exarar dispositivo que limita o exame para detecção do câncer mamário. Além disso, como o fez Fernando Haddad com êxito quando candidato, Padilha tentou selar pacto com Paulo Maluf (PP) o qual chegou a declarar publicamente a adesão a Padilha em um ato realizado em maio próximo passado no qual ambos, devidamente fotografados cumprimentando-se, pretenderam consagrar o compromisso do PP; tal entendimento, mesmo tendo sido rompido por Maluf, é bastante para aviltar definitivamente o candidato do PT. Na verdade, o abandono ao qual Padilha se vê condenado decorre do pífio desempenho revelado por sua candidatura nas seguidas pesquisas eleitorais realizadas por distintas instituições. Estamos em face, pois, de um "poste" que até agora não chegou a se erguer e cujo eventual derruimento deverá ser compartido com seu presunçoso e limitado criador.

Já a desqualificar o político neófito e precocemente degradado Paulo Skaf (PMDB) faz-se presente sua asquerosa campanha publicitária calcada na necessidade de fazer alarde, justamente depois de seu lançamento como candidato ao governo paulista, das atividades desenvolvidas pelas entidades empresariais as quais preside. De um oportunista deste porte nada se pode esperar a não ser mentiras e tentativas de engodo. Igualmente, não se deve esquecer que tal candidatura é tida, pela própria Presidência da República, como mera linha auxiliar do PT e do governo federal.

Gilberto Kassab (PSD), por sua vez, continuou a trilhar sua costumeira linha inescrupulosa de "coisa nenhuma". Secretário de Planejamento que foi do desditoso e malfadado ex-prefeito Celso Pitta, Kassab, ao lançar sua legenda, afirmou: ela "não será de direita, não será de esquerda, nem de centro", vale dizer, seu partido é, mas não será. Assim, procurou aliança com o atual governador do Estado de São Paulo e candidato pelo PSDB à reeleição (Geraldo Alckmin), com Alexandre Padilha e também com Paulo Skaf, ou seja, ofereceu-se a todos perseguindo sua candidatura a uma função de evidência; por não alcançar seu objetivo de imediato, decidiu que seu partido deveria lançar candidato próprio ao governo de São Paulo. Tal candidato seria o próprio Kassab, fato este não concretizado. Talvez por se ter dito candidato a governador apenas para valorizar-se, Kassab - que não conseguiu afinar-se com Alckmin nem com Padilha -finalmente resolveu apoiar Paulo Skaf, segundo colocado nas pesquisas eleitorais. Como se vê, Kassab aceita qualquer coisa, ou seja, recorrentemente, alcança um insuperável nível de insignificância. Inanidade esta ora reafirmada por sua disposição de deglutir o que der e vier; no caso em pauta ele mesmo albergou-se como candidato ao Senado na chapa encabeçada por Skaf, o qual, afirmou que, se eleito, convidará Henrique Meirelles - integrante do PSD de Kassab e que já serviu ao governo do PT como presidente do Banco Central - para ser seu secretário da Fazenda. Não bastasse a união com Kassab, Skaf ainda veio a associar-se com o PP de Paulo Maluf, aliança esta que conspurca inexoravelmente uma candidatura já corroída em todas suas dimensões.

Geraldo Alckmin (PSDB), por seu turno, sempre tomado por sua grosseira empáfia, discursa sobre as forças ocultas e os monstros que povoam sua alienação centrada no caos decorrente de um mandato que jamais exerceu. No seu desvario o atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes de São Paulo acredita que os trens do Metrô foram parados por misteriosos "botões secretos" acionados depois da primeira falha ter sido provocada pelo próprio Metrô! Estaríamos a nos defrontar com botões maldosos que também paralisaram a Segurança Pública e o próprio governo do Estado? Mas as parvoíces dessa criatura desmiolada vão além da mera lucubração inteiramente fantasiosa, pois Alckmin deseja ir adiante e propôs uma multa a ser aplicada aos que gastassem nos dias correntes mais água do que o faziam em 2013; como sabido, seu temor era o de que, com o estabelecimento do racionamento d'água, viessem a escoar-se, pelos invisíveis ralos das urnas, os tão almejados votos; não obstante, depois anunciar que a cobrança desta multa - a qual já teria sido aprovada pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) - possivelmente dar-se-ia a contar de maio, o governador, sempre com medo da perda de votos, resolveu reavaliar o cronograma de aplicação de tão malquista sobretaxa e afirma que está a aguardar o parecer da Procuradoria-Geral do Estado (PGE). Ademais, embora a Arsesp tenha autorizado, em abril próximo passado, a  Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) a reajustar a tarifa da água em 5,44%, este último órgão resolveu prorrogar o reajuste até, no máximo, o final de dezembro. O governador Alckmin rapidamente procurou - numa evidente autoacusação - negar o caráter eleitoreiro de tal decisão afirmando: "Isso não tem nada a ver com reeleição". Seu receio evidente é que tal aumento imposto no momento presente e em face do fantasma do racionamento certamente representaria um terrível desgaste político.

Complementando seu mundo confuso, Alckmin - sempre disposto a temperar uma salada digna de sua inconsistência ideológica - acolheu como vice de sua chapa um nome extraído do PSB (Márcio França) cujo candidato à presidência  da República (Eduardo Campos) defronta-se com Aécio Neves, que também pretende ser eleito presidente da República e integra o mesmo PSDB do governador de São Paulo.

Gilbero Natalini pelo PV e Gilberto Maringoni pelo PSOL definem-se, tão somente, como fachadas de partidos sem penetração significativa no corpo eleitoral.

Quanto ao PV - embora seu candidato pudesse, eventualmente, vir a apresentar propostas construtivas - a limitada expressividade numérica do partido em termos de votos condena-o, ao menos por ora, a uma participação apenas simbólica no pleito em discussão.

O PSOL - pelo titubeio de alguns de seus integrantes quanto à escumalha depravada que adota a tática "black bloc" - não merece qualquer menção que vá além da lembrança de sua baixa presença junto ao eleitorado o qual não se tem vergado às falácias ideológicas propaladas por alguns de seus partidários. O PSTU - em cujo seio também encontramos membros com postura dúbia quanto aos praticantes da tática "black bloc" - endossou o candidato a governador do PSOL e conta, igualmente, com representatividade eleitoral apoucada. 

Nesta mesma linha de fazer-se presente só para constar estará Raimundo Sena de Jesus do PCO, sigla que também abriga partidários cujo apoio acrítico à tática "black bloc" é repelente.

Os demais concorrentes ao Palácio dos Bandeirantes - Wagner Farias (PCB), Walter Ciglioni (PRTB), Laércio Benko (coligação PHS/PRP) e José Benedito Sacomano (PPL) - também são meros figurantes cuja representação vai pouco além de suas próprias pessoas.

Como vimos, vários são os candidatos que se sacrificam por seus partidos, ou seja, políticos que emprestam seus nomes somente para tornar presente na mente do eleitor o nome de sua agremiação; não há, pois, por parte de tais postulantes nenhuma perspectiva de vir a dirigir o governo de São Paulo ou de poderem trabalhar concretamente pelo bem estar de seus habitantes. Resta, assim, apenas o vazio de uma campanha eleitoral inglória.

Já outros, não tão dispostos ao solitário sacrifício em prol de seus partidos, candidatam-se para divulgar os próprios nomes. Tais pessoas têm como objetivo as eleições em curso, mas as que virão, pois nelas, segundo pensam, aparecerão com políticos já conhecidos do eleitorado e marcados por "experiências e pendengas passadas".

Seja como for, em muitos dos casos reportados neste texto nos defrontamos, apenas, com avantesmas cuja pretensão maior é a de nos espaventar com a denominação de uma sigla numericamente pobre ou com um nome que ainda não fixamos na memória como o de um político merecedor de alguma atenção.

Por fim, os candidatos mais cotados devem ser descartados em face das manchas presentes em suas biografias.

Frente a tamanha degenerescência - que corrobora a tese dos que são contra o voto obrigatório - não resta alternativa: anular o voto é a única forma de expressar o repúdio ao quadro político que se nos apresenta nas eleições  de 2014 para o governo do Estado de São Paulo.

 

* Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.

 

 

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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