A aversão da presidente Dilma pelos médicos beira à perseguição. Pressionada pelas vozes das ruas, ávidas por melhores serviços de saúde, ela, em mais uma demonstração de demagogia explícita, anuncia, com pompa e circunstância, a solução para o problema: importar médicos, estender o curso de medicina por mais dois anos, juntamente com a obrigação dos estudantes de medicina, nesse período, trabalharem no Sistema Único de Saúde (SUS), cujo objetivo seria levar os médicos recém-formados para o interior do Brasil.
Sobre condições de trabalho, carreira de Estado, como a dos magistrados, e salários dignos, ninguém falou. É a tapeação petista, ao arrepio da lei, agora, com ares de ditadura tupiniquim, quando impõe o que não pode impor. A primeira dignitária da nação, a grande gerente, segundo o doutor Lula, de capelo e tudo, deveria saber que, na democracia burguesa, tão enaltecida pelos seus companheiros petistas, ninguém é obrigado a fazer o que não deseja, tampouco o médico tem obrigação de fazer medicina pública ou privada, ficando a seu critério optar por uma ou outra, seguindo o caminho da sua conveniência.
A tirania da obrigação é reprovável, fere a lei e se prevalecente, pelo menos, deveria ser isonômica, isto é, abarcar outros profissionais, por exemplo, os economistas a serviço do governo, incapazes de tirar o nosso país do atoleiro do pibinho e da inflação que corrói os salários dos mais pobres. O governo tão preocupado com um plebiscito, fora de hora, deveria, sim, procurar saber a opinião da nossa população sobre a condução da política econômica e, talvez, obtivesse como resposta a necessidade de mais dois anos de estudo para os seus condutores, dentre eles, a presidente Dilma.
Infelizmente, o governo Dilma continua a tratar as questões sociais com a demagogia típica de quem não sabe lidar com os problemas estruturais de um país continental. Depois de acuada por reivindicações legítimas, a presidente, no lugar de ir a fundo, na busca de respostas eficientes, optou pelo caminho fácil da propaganda política, com a aprovação de uma equipe de ministros, acostumados a dizerem amém à sua arrogância e incompetência administrativa. Desconectada da realidade, Dilma mantêm, no Ministério da Saúde, um ministro medíocre, com a cabeça voltada para a eleição de 2014, em São Paulo. Enquanto isso, faltam médicos e equipamentos, nos hospitais federais, e o repasse dos recursos financeiros do SUS para os estados e municípios se dá de maneira lenta e irregular.
Em recente reunião, com prefeitos de milhares de municípios, após ser vaiada, Dilma, de dedo em riste e de maneira agressiva, disse aos berros que não há milagres. Em outras palavras, os prefeitos deveriam se virar com os parcos recursos repassados pelo governo federal e fazer apenas o possível. Enquanto isso, na contramão do seu discurso colérico, o governo federal opera milagres, sim, quando, apesar da crise econômica em que o país se vê mergulhado, tem fôlego para financiar empresários falidos. A multiplicação dos pães, impossível para os pobres, acontece para os mais ricos, sob o condão da ilusionista de plantão.
Vê-se, então, que a contradição é uma das máculas do governo Dilma. Quando o discurso oficial dizia estar preocupado com a formação do médico brasileiro, o que seria meritório se partisse de um governo sério, na verdade, era um subterfúgio, para Dilma esvaziar o ato médico, vetando atribuições inerentes aos médicos, o que redundou na usurpação destas por paramédicos. Se o objetivo era desmoralizar os esculápios, perante à população, deveria fazê-lo, por completo, isto é, aproveitar o momento de fúria legisferante e estender o direito de emissão de atestado de óbito para outros profissionais da área de saúde. Mandonismo e despreparo, à parte, o que a presidente não entende é que as pessoas, quando se queixam dos serviços públicos de saúde, estão clamando por mais médicos, pois sabem que somente esses profissionais são capazes de aliviar a sua dor e o seu sofrimento.
THELMAN MADEIRA DE SOUZA
Médico no Rio de Janeiro
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