Lula, o espetacular engolidor de sapo!

O inimigo do meu inimigo não é necessariamente meu amigo; assim como o amigo do meu inimigo pode não ser meu inimigo. Também, nada impede que o inimigo do meu amigo possa ser um dos meus melhores amigos. Entretanto o pseudo-inimigo do meu inimigo é, invariavelmente, muito mais hostil aos meus propósitos e pode me causar muito mais prejuízos que o meu próprio inimigo declarado.


Não sei exatamente em que proposição, entre as relacionadas acima, se enquadra o João Miramar, editor-redator-chefe de Brasilianas, título que dá aos textos que ele produz e distribui por e-mail, com o propósito de combater a “ditadura lulodilmista”. Arrisco classificá-lo como "pseudo-inimigo do meu inimigo", pois o João Miramar às vezes critica meus inimigos (inimigos do povo), mas observo que o faz na condição de revisor de texto, tentando aparar arestas de prismáticas e difusas argumentações.


Já me disseram que o Miramar é um “oportunista”, não apenas um indivíduo que tira vantagens pessoais de certas situações, mas especialmente por ser elemento a serviço do Grupo Opportunity, do famigerado banqueiro Daniel Dantas. Porém, sobre isso, não tenho informações concretas. Sei apenas que posso compará-lo a um microrganismo oportunista, capaz de infectar o hospedeiro quando as resistências deste estiverem bastante debilitadas pelas suas insistentes investidas. Ou seja, se o indivíduo não tiver uma base imunológica fortalecida pelas verdades dos fatos, as Brasilianas do Miramar miram bem no núcleo das células cancerosas, associam-se a estas e provocam metástase.


Faz cerca de quatro anos que recebo os textos Brasilianas. Vou à forra enviando ao Miramar o que publicamos aqui na nossa Agência Assaz Atroz. Sempre ficamos no zero a zero, com alguns bate-bocas inócuos na beira do teclado. Mas nunca passou disso.


Hoje, finalmente, recebi um texto do João Miramar cujos argumentos se alinham com aquilo que imaginei em relação ao tal prêmio de “Estadista do Ano” concedido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Ontem, quando vi pela televisão as imagens da cerimônia, Lula discursando, entendi que o nosso presidente não estava à vontade, até os ares de descontração pareciam forçados. Pensei: "Lula é versado na arte de engolir sapo", pressuposto indispensável para o exercício de relações diplomáticas.
Ao descreverem as personalidades que concorreram com Lula, não tive dúvida: “Isso não é prêmio! É afronta!”.


Enfim, não foi a tal “honraria” que determinou que Lula é o “Estadista do Ano”, mas o fato de consentir em receber aquele trambolho revela que ele é o “Estadista do Século”, desde já.


Alguém aí confia em imperialistas e colonialistas honestos? Não, essa gente, além da fleugma glacial, é de uma sutileza que extrapola as enganações triviais.


Aquele “prêmio” está mais para Cavalo de Tróia que para a cobiçada coroa de Laurus nobilis que enfeitavam as cabeças de atletas e guerreiros dos impérios Grego e Romano.


Lula pode negar de pés juntos, mas dá pra notar que ele aceitou a premiação apenas para não fazer desfeita. Perfeita postura de um estadista.
Certamente João Miramar e toda a direita brasileira jamais argumentarão sob esse aspecto, o de que Lula é realmente um estadista porque conhece a arte de engolir sapo. Que não deve ser confundida com subserviência, mas sim com a inteligente capacidade de lidar com os sentimentos e emoções conflitantes entre si.


Aí está o texto que o João Miramar me enviou. Eu escreveria sobre o prêmio basicamente nos mesmos termos; mas sem empregar expressões tais como “países deploráveis em comparação ao Brasil”. Deplorável é o preconceito do Miramar, ou do autor do texto. No meu conceito, não existe “país deplorável”, mas governos abomináveis, como, por exemplo, os que se arvoram a donos do mundo. Este é um dos motivos pelos quais eu não assinaria o texto que o Miramar me enviou; o outro diz respeito às razões que nos levam a criticar o prêmio, elas são distintas e antagônicas.


Fernando Soares Campos
Editor-Assaz-Atroz-Chefe

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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