ILGA Portugal atribui prémios Arco-Iris 2008

REVISTA COM’OUT, FERNANDA CÂNCIO, RÁDIO CLUBE E SOLANGE F. distinguid@s pela Associação ILGA Portugal com o PRÉMIO ARCO-ÍRIS 2008

A Associação ILGA Portugal - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero realizou ontem a cerimónia de atribuição dos Prémios Arco-Íris 2008 como forma de reconhecimento e incentivo a pessoas e/ou instituições que com o seu trabalho contribuíram de forma significativa para a luta contra a homofobia ao longo do ano anterior.

Na 6ª edição dos Prémios Arco-Íris -- que se realizou ontem, 8 de Novembro (Sábado), pelas 18 horas no Centro LGBT -- a Associação ILGA Portugal pode contar com as presenças de Elisabeth Barnard (Directora da Com’OUT); Fernanda Câncio; Luís Osório (Director do Rádio Clube); e Solange F..

Apoiada este ano pela Comissão Europeia através da campanha “Pela diversidade, contra a discriminação”, a cerimónia contou ainda com apoios da Terra Design, da GL Events e da Flower Power.

A descrição dos prémios atribuídos bem como os textos de apresentação de cada um dos prémios encontram-se em apêndice.

Podem ser vistas imagens gravadas na cerimónia em
www.youtube.com/ilgaportugal
(playlist Prémios Arco-Íris)


Lisboa, 9 de Novembro de 2008
A Direcção e o Grupo de Intervenção Política da Associação ILGA Portugal


Enquanto Associação de defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero (LGBT), a Associação ILGA Portugal tem sempre tido como causa primeira a luta contra a discriminação com base na orientação sexual e na identidade de género. Mas esta nossa causa não é, nem deve, nem pode ser só nossa.


Tal como outras formas de exclusão, a homofobia contribui para uma sociedade mais fracturada, menos saudável e menos funcional. Porque a homofobia é, afinal, um problema social, teremos tod@s que o resolver em conjunto. E porque a luta contra a homofobia não tem ainda um fim à vista, ela torna-se tanto mais urgente e merecedora do nosso esforço concertado. Na realidade, a nossa causa é – e deve ser – uma causa aberta.

Daí que a Associação ILGA Portugal atribua anualmente o seu Prémio Arco-Íris, como forma de reconhecimento e incentivo a personalidades e instituições que, com o seu trabalho, se distinguiram na nossa – e vossa – luta contra a homofobia.


O último ano foi marcado pela rejeição da igualdade no Parlamento português.

A reivindicação da igualdade no acesso ao casamento foi central durante 2008, desde a Conferência organizada pela Juventude Socialista na Assembleia da República até à publicação de dois livros de juristas sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.


Mas o dia 10 de Outubro de 2008 foi um dia de vergonha histórica para a nossa democracia.
Em 2008, deputadas e deputados ignoraram a Constituição, confirmaram a menoridade da cidadania de gays e lésbicas e reforçaram o insulto às nossas relações.

Mas 2008 foi paradoxalmente o ano de reforço da nossa visibilidade e da nossa voz.

A Associação ILGA Portugal tornou-se uma Instituição Particular de Solidariedade Social, passou a integrar o Conselho Consultivo da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género e tornou cada vez mais visível a prioridade da igualdade.

As nossas famílias – as famílias que somos – falaram de si numa brochura que editámos e distribuímos no Parlamento. Publicámos livros infantis para todas as famílias – incluindo as famílias que somos…

Reforçámos alianças na luta pela igualdade no Dia Mundial de Luta Contra a Homofobia, no Congresso Feminista e nas comemorações do Orgulho LGBT. Tivemos a Marcha e o Arraial mais participados de sempre.

E mesmo com a rejeição no Parlamento, uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa demonstrava um crescimento exponencial no apoio social à igualdade no acesso ao casamento. É que esta é uma discussão que se ganha inevitavelmente. E é fácil prever que um compromisso por parte de um partido do centro político seria suficiente para que esta reivindicação alcançasse uma maioria sociológica de apoio.

Não existiu esse compromisso mas existiu quem lutasse por ele, pela afirmação da nossa cidadania e pelo reforço da nossa visibilidade – e hoje celebramos essa luta com os Prémios Arco-Íris 2008.

Vamos por isso celebrar as galardoadas e os galardoados de hoje com o Prémio Arco-Íris 2008 que inclui o troféu Arco-Íris bem como o tradicional diploma, para além de instrumentos para a continuação da luta contra a homofobia: os livros infantis editados pela Associação ILGA Portugal com o apoio do projecto eraseunavez.com - “De onde venho?” de Javier Termenón e “Por quem me apaixonarei” de Wieland Pena e Roberto Maján; o livro do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Tod@s em Portugal, editado pela respectiva Estrutura de Missão; e o livro “Casamento entre pessoas do mesmo sexo” de Carlos Pamplona Corte-Real, Isabel Moreira e Luís Duarte d’Almeida.


Revista Com’OUT

A Com’OUT é a grande novidade editorial de 2008. É hoje finalmente editada em Portugal uma revista LGBT de qualidade – que a população LGBT ambicionava e merecia.

Abrangente, diversa, com uma voz própria, afirmativa, com artigos de opinião fortes, é uma revista que não esquece as várias letras da sigla LGBT.

Com’OUT é o apelo desta revista que não se dá bem com silêncios e com silenciamentos: é um apelo à visibilidade LGBT, à afirmação da identidade LGBT, à denúncia da discriminação.


A Com’OUT é uma revista que podemos ler com prazer e com orgulho, que passa agora a fazer parte da nossa identidade e que, pela sua postura intransigentemente cidadã, contribui de forma sustentada para a luta contra a discriminação.


Sob a Direcção de Elisabeth Barnard e com a Edição de Eduardo Marino, a Com’OUT tem acompanhado com atenção a realidade política LGBT, tem descoberto, denunciado e ultrapassado a dificuldade em encontrar patrocínios ou anunciantes e continuará certamente a crescer e melhorar, porque merece o sucesso que tem vindo a ter – e merece desde já o nosso reconhecimento com o nosso Prémio Arco-Íris 2008.

Solange F.

«Sou lésbica! E então?»
Eram estas as frases na capa da revista Única (do jornal Expresso) em que Solange F. fez o seu coming out.

Num país em que figuras públicas continuam a recusar dar este passo, Solange F. deu o exemplo. E deu o exemplo porque sabe que é importante dar o exemplo.


Porque sabe que a sensação de isolamento de quem descobre ser gay ou lésbica tem que ser contrariada com visibilidade - e se a sexualidade das mulheres é sempre remetida para a invisibilidade, a visibilidade lésbica é tanto mais importante.
E também porque sabe que a discriminação se alimenta do silêncio e contribui para o silenciamento de gays e lésbicas. Pelo contrário, Solange F. faz questão de se manifestar sempre pela igualdade e contra a discriminação das pessoas LGBT, nomeadamente no acesso ao casamento civil e à parentalidade.

Em entrevistas para revistas e jornais, na rádio ou até em debates televisivos, Solange F. sabe curto-circuitar a homofobia, desfaz pseudo-dramas, mostra que a homossexualidade é, nas suas palavras, “tão natural como a sua sede” e luta pelo nosso direito à indiferença.


Temos tido o prazer de ter vindo a partilhar a luta de Solange pelo direito à indiferença - desde o programa Sociedade Civil da RTP sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo até ao trio lésbico do Rádio Clube, também premiado hoje. Será certamente um prazer continuar a partilhar este caminho para a igualdade com Solange F., que homenageamos hoje com o nosso aplauso e com o Prémio Arco-Íris 2008.

Rádio Clube Português

Para além da visibilidade LGBT, 2008 foi marcado pela sua audibilidade – e o Rádio Clube desempenhou um papel fundamental ao dar voz a pessoas LGBT.

O trio gay que participou no programa Janela Aberta em 2007 desdobrou-se este ano em dois trios: um trio lésbico e um trio gay. Semanalmente, lésbicas e gays comentam notícias, analisam e criticam posições políticas, afirmam a sua identidade e recusam a discriminação. E também as pessoas transexuais têm tido voz no Rádio Clube – realçamos um programa de debate sobre Thomas Beatie, o homem transexual que engravidou e foi pai recentemente.

Mas o Rádio Clube destacou-se claramente no panorama radiofónico português na cobertura do processo que levou à votação parlamentar da igualdade no acesso ao casamento. Uma panóplia de debates, reportagens e notícias – e um papel sistemático no questionamento de decisores/as políticos/as.


O Rádio Clube mostrou compreender não só a relevância deste momento político e a centralidade desta reivindicação, mas também o papel que os media podem – e devem – ter na partilha de informação, no incentivo ao debate e na desconstrução do preconceito.


Janela Aberta não é só o nome do programa conduzido por Aurélio Gomes e Teresa Gonçalves em que gays e lésbicas participam; é também uma boa descrição da filosofia de uma estação que se destaca claramente no panorama radiofónico português pela sua aposta em dar voz à sociedade civil. Uma aposta ganha – que homenageamos hoje com o nosso Prémio Arco-Íris 2008.

Fernanda Câncio

Vencedora de um Prémio Arco-Íris em 2005, Fernanda Câncio é a primeira pessoa a receber o Prémio pela segunda vez.
Jornalista, cronista e blogger, é uma acérrima defensora da igualdade. Atenta, incisiva, responsável, contundente, sabe ir à jugular do preconceito.

No dia 10 de Outubro de 2008, Fernanda Câncio esteve no Parlamento para assistir à perpetuação da discriminação no acesso ao casamento, depois de uma intervenção incansável pela igualdade.


Em literalmente dezenas de textos publicados ao longo do último ano, entre reportagens de fundo, entrevistas e artigos de opinião no Diário de Noticias, na Notícias Magazine ou em blogs como o jugular, Fernanda Câncio assume muitas posturas: «A interrogativa, a explicativa, a agressiva, a reivindicativa, a contemporizadora, a sensível, a sensata, a paciente, a impaciente». O objectivo é sempre o mesmo: lutar pela igualdade, pela dignidade e pela felicidade das pessoas – e não só das pessoas LGBT.

É que, escreve Fernanda Câncio, citando Rui Pereira (Coordenador da Unidade de Missão para a Reforma Penal premiada em 2006 e actual Ministro da Administração Interna): «"As causas da igualdade são de nós todos." Há quem ainda não tenha percebido».


Ainda bem que Fernanda Câncio o explica – é que ninguém o explica melhor.


Fernanda Câncio tira-nos as palavras da boca, põe-nos palavras naboca – e continua a saber identificar e denunciar as raízes da discriminação:


No outro dia estava com uma amiga que tem filhos adolescentes. A dada altura, alguém falou do que os miúdos fariam daí a uns tempos, quando tivessem namoradas. Ou namorados, acrescentei eu, só para a mãe ouvir. E acrescentei: “Nunca se sabe”. A resposta dela ficou a reverberar até hoje na minha cabeça: “Exacto. Como nunca se sabe acho que devemos reprimir o mais possível”(…)


A ideia de que é possível condicionar um filho ao nível das orientações sexuais com observações do género “não me vais sair maricas, pois não?” (…) é de um tal absurdo e de uma tão extraordinária e gratuita crueldade no caso de o objecto da conversa estar a definir a sua sexualidade da forma que se deseja “evitar”, que parece impossível que possa sequer passar pela cabeça de alguém. O problema é que passa. E todos os dias, numa casa perto de nós – talvez na nossa.
É um prazer ter Fernanda Câncio uma vez mais na nossa casa, onde a homofobia não entra – nesta casa, que é obviamente também sua – e atribuir-lhe o Prémio Arco-Íris 2008.


Por tudo isto, @s noss@s premiad@s merecem a nossa sincera homenagem.
Cabe-nos agradecer, reconhecer, aplaudir e incentivar @s noss@s convidad@s através deste Prémio: o Prémio Arco-Íris atribuído pela Associação ILGA Portugal, associação de defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero, em reconhecimento dos seus contributos para uma democracia mais aberta, inclusiva e verdadeira, baseada na valorização da diversidade e na igualdade de direitos.

Associação ILGA PORTUGAL
Email: [email protected]
http://www.ilga-portugal.pt/

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey