População e PIB das cidades médias crescem mais que no resto do Brasil

Dados preliminares de uma pesquisa que vem sendo realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que as cidades médias brasileiras tiveram maior crescimento populacional, entre 2000 e 2007, e também maior aumento do PIB (Produto Interno Bruno), entre 2002 e 2005, que as demais cidades brasileiras.


A Coordenadora de Desenvolvimento Urbano da Diretoria de Estudos Regionais e Urbanos do Ipea, Diana Motta, e o pesquisador Daniel da Mata, da mesma diretoria, são os responsáveis pelo estudo inédito.


O critério demográfico tem sido o mais aplicado para identificar as cidades médias. Podem ser consideradas médias aquelas cidades com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, devido às características do sistema urbano regional, municípios com população de 50 mil a 100 mil habitantes também podem desempenhar a função de cidades médias.


Desde a década de 1970, as cidades médias têm desempenhado um papel importante na dinâmica econômica e espacial do país. Atualmente o seu fortalecimento é evidenciado pelo processo de desconcentração da produção e da população no território nacional.


Enquanto as metrópoles e grandes cidades (com mais de 500 mil habitantes) perderam participação no PIB nacional de 43,34% para 41,70%, entre 2002 e 2005, as pequenas (menos de 100 mil habitantes) ampliaram levemente a participação de 30,59% para 30,95%, e as médias tiveram o melhor desempenho aumentando sua participação no conjunto da riqueza nacional de 26,07% para 27,35%.


Do ponto de vista populacional, as cidades grandes e pequenas encolheram entre 2000 e 2007, enquanto as médias cresceram. As médias concentravam 23,8% da população em 2000 e passaram a 25,05% em 2007. As grandes caíram de 29,81% para 29,71%, e as pequenas, de 46,39% para 45,24%, no mesmo período.


Os dados do Ipea mostram que as cidades médias cresceram além das médias nacionais, com aumento do PIB acima dos 5% ao ano e crescimento populacional em torno dos 2% ao ano.


Os dados revelam que as cidades médias foram capazes de absorver o crescimento populacional e apresentar também crescimento do PIB, contribuindo também para a expansão e o adensamento da rede urbana do Brasil.


"O maior crescimento do PIB Industrial ocorreu nas cidades médias situadas em área de ocupação urbana consolidada, como por exemplo, na região Sudeste, e nas localizadas em área de fronteira de recursos, nas regiões Centro-Oeste e Norte do país", diz a pesquisadora Diana Motta.


Quando uma cidade apresenta um elevado crescimento econômico, torna-se um atrativo para migrantes em busca de melhores condições de trabalho. Maior migração significa maior crescimento populacional, supondo que não há diferença substancial entre as taxas de natalidade e mortalidade entre as cidades do sistema urbano. Essa foi a tendência verificada na pesquisa do Ipea.


As cidades médias também obtiveram o maior crescimento do PIB per capita. Ou seja, tiveram um crescimento do PIB superior ao aumento populacional, isso significa dizer que não só o "bolo" da riqueza aumentou, mas a "fatia" para cada um também.


Quanto ao processo de urbanização do país, as cidades médias apresentaram uma posição de destaque. No período de 2002 a 2007, a população dessas cidades cresceu à taxa de 2% ao ano, mais que as taxas das cidades grandes (1,66%) e das cidades pequenas (0,61%). Algumas, no entanto, tiveram crescimento ainda maior, como Palmas (RO) e Águas Lindas de Goiás (GO), com crescimento populacional acima dos 6% ao ano.


Elevadas taxas de crescimento demográfico são registradas especialmente nas áreas de fronteira econômica (regiões Centro-Oeste e Norte).


Os dados do Ipea mostram que os municípios entre 100 mil e 500 mil habitantes têm maior dinamismo econômico principalmente no setor industrial (crescimento de 2,23% ao ano), seguido pelo setor de serviços (1,25%). Foi registrada uma acentuada queda na produção agropecuária (-2,06% ao ano).


Segundo o estudo, as cidades médias foram aquelas que apresentaram uma maior taxa de urbanização, portanto, era esperado um crescimento mais elevado das atividades "urbanas" - setores secundário e terciário. Como resultado, haveria uma menor participação das atividades relacionadas ao setor agropecuário e uma queda do PIB agropecuário.


Cidades Médias e Rede Urbana do Brasil

As cidades médias desempenham o papel de núcleo estratégico da rede urbana do Brasil, pois constituem elos entre os espaços urbano e regional. As cidades médias podem ser identificadas de três modos:


1. Podem estar situadas em espaço regional mais amplo, por exemplo, Rio Branco (AC), Imperatriz (MA) Franca e Bauru (ambas em SP).


2. Podem também integrar um município periférico de uma aglomeração urbana, como Diadema (Região Metropolitana de São Paulo).


3. Podem constituir um núcleo central, por exemplo, São José do Rio Preto, Araraquara e Guaratinguetá (em SP).


Diana Motta e Daniel da Mata argumentam que "a importância das cidades médias reside no fato de que elas possuem uma dinâmica econômica e demográfica próprias,permitindo atender às expectativas de empreendedores e cidadãos, manifestadas na qualidade de equipamentos urbanos e na prestação de serviços públicos, evitando as deseconomias das grandes cidades e metrópoles. Dessa forma, as cidades médias se revelam como locais privilegiados pela oferta de serviços qualificados e bem-estar".


No estudo "Rede Urbana do Brasil" (Ipea, IBGE, Nesur-Unicamp, 2002) as cidades médias estão presentes nas categorias de Centros Regionais, Centros Sub-Regionais 1 e Centros Sub-Regionais 2. O que diferencia essas categorias urbanas são:


· A centralidade (área de influência - abrangência regional do fluxo de bens e serviços que tem origem no centro urbano);


· relações internacionais (presença de grandes empresas e corporações, redes complexas de serviços modernos que fortalecem o papel de centros decisórios);


· A escala da urbanização (dimensão do processo de urbanização em relação ao conjunto da rede urbana brasileira);


· A complexidade e diversidade da economia urbana (existência de setores econômicos diferenciados e nível de articulação setorial);


· A diversificação do setor terciário e funcionalidade (diversificação das atividades de serviços e funções urbanas específicas).


Fonte: IPEA

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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