Vigília em homenagem à Luna – Todos contra a homofobia!

PRAVDA.Ru O quê são as Panteras Rosa?

Sérgio Vitorino: As Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransfobia são um movimento em rede para combater a discriminação contra as pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero) em Portugal. Pretendemos acelerar o processo de mudança de mentalidades necessário para o fim do heterossexismo como sistema político de opressão e do primado da heterossexualidade como modelo sexual e amoroso único. Zelamos pelo reconhecimento da diversidade da sexualidade humana, pela emancipação da comunidade LGBT, e pela autonomia e liberdade sexual de tod@s.

Como evoluiu este Movimento?

Eu pessoalmente comecei a lutar pelos direitos das pessoas LGBT em 1991, ainda antes da Internet e de uma série de estruturas que hoje em dia achamos normais. O termo “LGBT” era desconhecido em Portugal e tabú na imprensa portuguesa. Achava que estas pessoas eram tratadas de forma injusta – homossexualidade, drogas e prostituição eram referidos como se fossem um fenómeno só – e acreditava na necessidade de procurar outra forma de diálogo, com acções mais concretas. Assim em 2004 nasceu o movimento As Panteras Rosa, concretamente por causa de um casal de mulheres lésbicas que habitavam no Bairro da Cruz Vermelha e que foi o único conjunto familiar, entre dez mil, a ser-lhe negado uma casa da Câmara, pela Câmara Municipal de Lisboa, pois não reconhecia esse direito por não constituir uma “família”. A primeira acção das Panteras Rosa foi colocarm o-n os à frente dos bulldozers que iriam destruir a casa destas duas pessoas.

Na altura, nenhuma associação queria pronunciar-se sobre o caso, e por quê? Porque usavam espaços cedidos pela Câmara, tinham apoios da Câmara e tinham medo de assumir uma posição contra a entidade que os apoiava.

As Panteras Rosa funcionam sós ou têm ligações com outros movimentos e associações?

Trabalhamos com várias associações de gays e lésbicas, e não só. Estamos sempre num processo de diálogo constante, trocando ideias e discutindo formas de agir, mas estamos associados também a outras causas e outras discriminações, porque nós não podemos ver a discriminação sexual como uma coisa fechada. Todas as discriminações afectam as pessoas e os mecanismos de submissão das pessoas são muito idênticos. O insulto que se destina a uma pessoa num determinado lugar, os mecanismos do preconceito, e as maneiras como se produzem de geração para geração, nós podemos comparar com facilidade. A homofobia, o racismo e outras discriminações são facilmente comparáveis.

Temos ligações com outros movimentos e associações internacionais, também, e por exemplo neste momento estamos a discutir a situação de pessoas no Irão, e países africanos, que estão a ser discriminados por causa da sua escolha sexual nos seus países e que procuram o asilo político na Europa.

Nós estamos ao nível europeu a tentar construir uma corrente de opinião e de solidariedade internacional efectiva, que vai para além das palavras, próxima das nossas posições políticas. Há em Portugal e nos outros países várias associações institucionalizadas que de alguma forma perderam de vista os objectivos originais do movimento . Lutamos pela transformação da maneira como vemos a sexualidade. A abolição destas categorias que nos colocam, se são heterossexuais ou homossexuais, se são homens ou mulheres, o ser humano é muito mais complexo que estes termos. A sociedade construiu-se, fundou-se, numa crença da naturalidade destas categorias que é falsa e que determina diferenças de poder e de possibilidades.

E estes temas que defendemos foram bloqueados também pela Esquerda…uma esquerda fundada sobre os mitos da virilidade do trabalhador, que se via facilmente nos cartazes. Os trabalhadores colocados assim não são mulheres, são homens, não são homossexuais, são uma coisa só…

As Panteras lutam contra o que denominam a LesBiGay Transfobia. Poderia explicar o que significa esse termo?

Esse termo foi por nós, as Panteras. Outros termos agora no léxico mediático nacional também foram impostos pelo activismo , como a homofobia ou a transfobia . Uma fobia é um preconceito que gera uma discriminação. Aqui estamos a falar de dois tipos de preconceito - um, contra as pessoas que têm relações sexuais ou amorosas com pessoas do mesmo sexo, e por outro lado, aquele que é dirigido às pessoas que não entram nas normas do masculino e do feminino como são colocados na sociedade.

E temos de ver que as famílias mudaram bastante. O “homem”chefe de família com o seu poder económico já não existe como existia. Porém o s dogmas não mudam e basicamente mantêm-se iguais há dois mil anos. Tudo foi construído à volta da imagem do homem como sexo forte, pai de família, e somos todos prisioneiros desta forma de encarar a sociedade.

Quais são as opções sócio-profissionais de pessoas que não “obedecem” a estas normas?

Relativamente aos transsexuais, em Portugal, não têm qualquer opção profissional. Não têm possibilidade nenhuma de arranjarem trabalho enquanto não façam toda a sua transformação, enquanto não passarem anos nas mãos do psiquiatra até que seja autorizada a transformação e aqui há um problema terrível.

Em Espanha, o processo leva um ano e meio. Aqui em Portugal, chega a levar dez anos. E dez anos por quê? Porque o sistema médico está feito para fazer uma pessoa duvidar e desistir. O próprio sistema médico quer obrigar as pessoas a ser homens ou mulheres, e quando chega uma pessoa que se assume como algo diferente, que diz que não é homem ou mulher mas quer mudar o seu corpo, o médico diz “Então não é transsexual e por isso não pode”. E a pessoa vai acabar por fazer a transformação clandestinamente ou no estrangeiro, que exige muito dinheiro, ou então vai optar por tomar hormonas e sem assistência médica, que é extremamente perigoso.

Por isso é normal encontrarmos uma grande parte destas pessoas na prostituição. Outras não…e as pessoas ficariam espantadas se soubessem quantas das pessoas que as rodeiam no dia a dia, quer homens, quer mulheres, são de facto transsexuais…e nunca ficam a saber. No caso da transformação de uma mulher por exemplo, cresce-lhe a massa muscular, cresce-lhe a barba, esteticamente são mais homens do que muitos homens porque foram construídos.

Entre estas pessoas, transsexuais, vulneráveis, se encontrava a Luna, assassinada no dia 28 de Fevereiro este ano.

Sim, dois anos depois da morte da Gisberta no Porto. Haverá uma vigília em homenagem à Luna na quarta-feira dia 26 de Março, no Conde Redondo em Lisboa, no cruzamento com a Rua Gonçalo Crespo, às 19 horas. Ficámos mortificados com a cobertura mediática do caso. No caso da Luna, houve indiferença. Uma semana depois do seu assassinato no dia 28 de Fevereiro, não havia informação. Há aqui o risco de banalização da morte de transexuais ou de outras pessoas marginalizadas, como as trabalhadoras do sexo, como se a sua marginalização ou a sua diferença fossem em si,  uma permissão para matar.

Quando a cobertura se concentrava mais nas características físicas da pessoa, se era homem ou se era mulher, se tinha pénis, se não tinha pénis, do que questionar as causas daquela morte e porque foi aquela pessoa naquela vulnerabilidade particular em que foi morta… é uma banalização do assassinato que cria a noção de uma permissão para matar.

A imprensa focou nos supostos bandos de criminosos que controlam a prostituição naquela zona

Nós trabalhamos com estas pessoas. O crime organizado concentra-se nas boites, mas na rua não. De forma geral, as pessoas estão por conta própria.

E qual é o trabalho das Panteras? O que fazem concretamente?

Além das acções que desenvolvemos para despertar a consciencialização social, chegamos às várias zonas em que a prostituição é praticada e trabalhamos com pessoas que praticam a nível particular, dando apoio informativo, distribuindo panfletos informativos sobre cuidados de saúde, sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis. Damos apoio material – distribuímos preservativos masculinos e femininos e gel e prestamos serviços de apoio, facilitando acesso a um advogado, ajudando pessoas que têm problemas com acesso aos serviços de saúde ou judiciais.

Qual é a causa da sua motivação?

O que está em causa é a liberdade fundamental das pessoas exprimirem e viverem a sua opção sexual, bem como a sua identidade de género. O direito de cada pessoa a ser-se na sua plenitude, sem que as suas características pessoais, estas ou outras, determinem discriminações e diferenças sociais

Sérgio VITORINO

Panteras Rosa

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

Quarta-feira dia 26 de Março haverá uma vigília em homenagem à Luna às 19.00 no Conde Redondo, Lisboa. Cruzamento com a Rua Gonçalves Crespo.

Ler mais sobre as acções das Panteras Rosa

http://panterasrosa.blogspot.com/

http://www.panterasrosa.com/

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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