Do choque de ética ao choque elétrico?
No Rio de Janeiro, há três dias atrás, correligionários do candidato Alckmin atacaram num bar cidadãos que cantavam um jingle de LULA e usavam camisetas desse candidato.
No dia seguinte, o candidato tucano afirmou que se LULA for reeleito ele nem inicia o seu mandato, opinião que mais parece uma senha golpista. A imprensa insiste em tentar descobrir algum crime na origem do dinheiro que supostamente seria usado para comprar informações sobre a ligação dos tucanos com a venda superfaturada de ambulâncias iniciada na gestão de Serra à frente do Ministério da Saúde.
Políticos em final de mandato procuram influir na opinião do Judiciário e da Polícia Federal, num flagrante desrespeito à soberania e independência dos poderes. Órgãos influentes da imprensa inventam fatos para criar confusão e até o pânico entre eleitores e cidadãos. O que une todos esses fatos e acontecimentos? O irracionalismo dos que falam em democracia, mas não sabem conviver com ela quando seus interesses de classe, egoístas e concentradores, vão sendo ultrapassados por outros, mais distributivos e solidários.
Quando a submissão de tais interesses, submetidos a políticas traçadas em Washington se confrontam com os verdadeiros interesses nacionais.
A hora é de atenção e união dos verdadeiros patriotas, dos nacionalistas, dos brasileiros que acreditam num Brasil mais justo, na distribuição de suas riquezas, em defesa do patrimônio nacional (incluindo-se nesse patrimônio sua gente simples e trabalhadora das cidades e dos campos). União e atenção para não deixar vencer a mentira, o entreguismo, o espírito repressor, o conservadorismo arcaico, o preconceito de classe, o racismo, o modernismo de fachada.
MEMÓRIA:
Em 1963/64, ainda me lembro bem, a esquerda gabava-se de estar no governo e só faltava tomar o poder. Deu no que deu. A direita parlamentar, apoiada por empresários e latifundiários, pela imprensa livre, em contato direto com a embaixada norte-americana e no assédio aos quartéis, inclusive com malas de dinheiro, botou a esquerda na cadeia e no exílio. E é preciso que se diga: o governo de João Goulart, apesar dos discursos inflamados e das ameaças das reformas de base, não fez a metade do que já fez o governo Lula e do PT em favor dos desfavorecidos no Brasil.
Hoje se costuma dizer por aí que golpes de estado já não necessitam da presença de militares (a Tailândia acaba de desmentir o axioma). Em 2002, a direita venezuelana, apoiada pela Embaixada norte-americana e pela mídia independente e democrática, bem que tentou. Só não deu certo porque desta vez os militares estavam do lado certo: do lado do povo.
A desfaçatez com que se lançou a direita política no Brasil na tentativa de desestabilizar e enfraquecer o governo Lula e o Partido dos Trabalhadores tem muito de semelhante ao que se passou em 2002 na Venezuela. O novo golpismo já vai fazendo escola.
Depois de varrerem para debaixo do tapete neoliberal (que tudo aceita em nome do progresso e do modernismo, seja lá o que isso queira dizer para os seus profetas) as sujeiras da reeleição de FHC, das privatizações e dos 30 dinheiros ganhos em cada uma delas, do empobrecimento das Forças Armadas, da criação do Estado Mínimo, do solapamento sistemático dos direitos dos trabalhadores, da criminalização dos movimentos sociais, do desrespeito ao meio-ambiente, do engavetamento vergonhoso de CPIs, da mercantilização da cultura, depois de tudo isso, a nova direita (nova?), arreganha os dentes e bota suas tropas na rua, ou melhor, nas redações de jornais, revistas e tele-jornais e sentencia para o Brasil e para o mundo: o governo Lula é corrupto, PT é corrupto, nunca se viu tamanha corrupção no Brasil.
Lança-se a suspeita, nomeiam-se prováveis culpados, repete-se o bordão durante um ano e meio em todos (ou quase todos) os jornais revistas e canais de televisão e pronto: tudo vira verdade, um dogma que, os que nele não acreditam podem ir queimar nas chamas dos infernos... E sem direito a defesa.
E assim, o Brasil precisa de um choque de ética, expressão cunhada nos corredores da campanha do Sr. Geraldo Alkimin, nome imposto (não se sabe ainda bem por quem) ao PSDB, partido que apesar dos pesares tinha nomes melhores em seus quadros. Sabemos que essa escolha não foi um consenso, mas quem a impôs e a quem ela interessa?
Aos que remetem dinheiro ilegal para o exterior (a PF já tem a relação dos nomes e até hoje não foram divulgados), às butiques de luxo (e outras empresas) que sonegam impostos, aos que mandam prender e matar os sem-terras em nome do que de mais atrasado existe no campo brasileiro, à perspectiva dos que sonham com novas privatizações, ao alinhamento com a política externa de Mr. Bush, aos que defendem o isolamento da Venezuela, Bolívia, Cuba e países que porventura não rezem na cartilha do Departamento de Estado e das grandes corporações financeiras, aos que aceitam a internacionalização da Amazônia (leia-se desnacionalização).
Tudo isso defendido por um discurso hipócrita travestido de moralidade e ética e que muitas vezes resvala pela violência retórica, não poupando ao presidente da República, ao Partido dos Trabalhadores e à esquerda em geral, adjetivos virulentos e desrespeitosos, numa atitude que além de indicar preconceitos e ódio de classe faz lembrar nosso passado recente, onde as prisões e cadeias do país receberam inúmeros patriotas que lutaram por um Brasil mais justo e mais digno e que ouviram muito dessa linguagem de condenações sem defesa, de ameaças veladas à integridade (muitas delas consumadas), de discursos tipo precisamos acabar com essa raça, de Brasil: ame-o ou deixe-o.
É preciso não só reeleger LULA, mas ficar atento para o que vier em seguida. Tudo será tentado para deslegitimar o resultado das urnas e nada nos garante que não possamos passar da hipocrisia do choque de ética para a realidade do choque elétrico. A base de sustentação do slogan é a mesma e não mudou muito. Os exemplos estão aí em Guantánamo, Iraque e prisões clandestinas em países europeus... e no avanço da democracia norte-americana, que agora permite interrogatórios com torturas.
Izaías Almada
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter