Timor-leste: Uma vergonha

A maioria dos timorenses sentiram orgulho em ver a bandeira nacional hasteada em 20 de Maio de 2002, há precisamente quatro anos atrás, fruto da luta encetada pelos heróis nacionais e pelos heróis internacionais que zelavam por nós, entre os quais todos os povos da CPLP e principalmente Moçambique, Brasil e em especial, Portugal.

Os portugueses, que nos conheciam dos jornais apenas, fizeram actos de extraordinária solidariedade e amor, demonstrando o tamanho da sua alma colectiva, juntando mãos a volta de Lisboa, colocando lenços nas janelas, gastando o pouco dinheiro que tinham fazendo iniciativas todos os dias durante o processo de repressão indonésio depois do referendo em 1999.

Para quê?

Para ver a minoria do bom povo timorense a fazer cenas que provocaram o “sim” com a cabeça de Kissinger em 1975, que fez jorrar a invasão sangrenta indonésia de Timor-Leste. Agora livres e independentes, qual a imagem que projectamos para o exterior?

De um bando de insurrectos, indisciplinados, uns selvagens que andam a matar uns aos outros quando deveríamos estar a fazer comissões de trabalhadores, de gestores, mesas redondas a discutirmos as nossas necessidades. Deveríamos estar a celebrar a nossa independência, livres.

Mas não estamos livres nem estamos independentes. Não fosse as forças da ONU e a GNR portuguesa, esta metade da ilha seria um caos, ou seja, um caos pior ainda daquilo que é, que nós criamos.

Por causa das nossas atitudes, vemos potências estrangeiras discutirem se vão intervir ou não, e temos outras potências a congratular-se que têm mais poder em nós do que nós próprios.

Que vergonha. Em vez de demonstrarmos aos portugueses que merecemos o apoio deles, estamos a criar as condições para cada um deles afirmarem que estaríamos melhores sob o jugo da Indonésia outra vez.

Depois das manifestações recentes entre polícias e militares, volta a haver este final de semana violentos confrontos em Díli que faz muitos órgãos da imprensa internacional falarem em guerra civil.

Nada disso vai acontecer mas que vergonha que a preocupação deles seja esta e não uma segunda ou terceira fase de projectos de desenvolvimento. Nós, nem a primeira fase merecemos.

Lao MENDES

PRAVDA.Ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey