Mercado da Ribeira, 21 de Abril 2006
Quero começar por agradecer e saudar os capitães de Abril, aqui representados por Vasco Lourenço, e saudar todos os que hoje aqui se reúnem para comemorar o dia mais bonito da história portuguesa e o lugar central da nossa contemporaneidade.
Muitos dos que aqui estão viveram e fizeram essa revolução que mudou a estrutura social, económica, o sistema político, o papel do Estado, inauguraram as revoluções pacíficas e sabiam que esperar seria sempre tempo demais. E fizeram essa mudança nas ruas, desmentindo historicamente que os portugueses são organicamente inabilitados para a participação, a intervenção, a cidadania e a transformação. E se esta capacidade era então uma dúvida, ela é hoje uma esperança.
Outros, como eu, puderam usufruir do 25 de Abril. Não apenas pela idade, mas também pelo género. Não será demais acentuar que as mulheres beneficiaram particularmente com a revolução.
Por isso, vale a pena, desde logo, dizer que o 25 de Abril não é, nem pode ser, propriedade de nenhuma geração. O 25 de Abril não pode ser construído e anualmente celebrado enquanto medo de mudança a mais, mas também não pode ser treslido apenas como uma luta contra um passado ditatorial.
O 25 de Abril deve ser também comemorado e vivido em 2006 como um projecto para uma sociedade melhor, mais justa e mais livre, como uma projecção de futuro. E esse futuro não pode ser parecido com o presente, não pode negar as continuidades negativas que existem em relação ao pré 74.
Existem novas gerações a chegar ao 25 de Abril. E tem que existir em todos nós a capacidade para as acolher.
E se não é por acaso que é a esquerda quem mais e melhor celebra o 25 de Abril, penso que vale a pena igualmente sublinhar hoje que a esquerda precisa de modernizar as relações entre as suas partes, de se reorganizar, de se repensar.
É também assim que interpreto iniciativas como as deste jantar, como encontro de uma possibilidade de a esquerda se juntar, se reencontrar e se renovar.
É urgente compor movimentos políticos e sociais que fomentem projectos claros de transformação social, num mundo onde a história ainda não acabou, mas que há ameaças aos direitos sociais e políticos então conquistados, e novas investidas impensáveis ou irrealizáveis há umas décadas.
As forças de esquerda não podem continuar a identificar-se apenas pelo aquilo que as divide, enquanto engrossa o vazio, a ausência de um projecto político, social e cultural coerente, tantas vezes manifesto no centrismo e tantas outras prosperando a pretexto da União Europeia.
32 anos depois do 25 de Abril, 30 anos de poder democrático, não é de outro dia assim que precisamos. Precisamos antes de o dignificar quotidianamente. Necessitamos é de cumprir a exigência e a expectativa democrática que explodiu em Abril.
Viva a Liberdade!
Viva Abril!
Joana Amaral Dias
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