Para ir à Paraíba, um paraíso a ser descoberto!

Para ir à Paraíba, um paraíso a ser descoberto!

É impressionante como que no estado da Paraíba ainda se encontram tantas belezas não exploradas pelo turismo. É como que tudo, talvez por falta de investimento/recurso governamental, ficasse quase que escondido de nós. É preciso que a Paraíba descubra sua vocação natural

É impressionante como que no estado da Paraíba ainda se encontram tantas belezas não exploradas pelo turismo. É como que tudo, talvez por falta de investimento/recurso governamental, ficasse quase que escondido de nós. É preciso que a Paraíba descubra sua vocação natural, é preciso que os brasileiros descubram os muitos tesouros quase inexplorados daquele pedaço privilegiado do nordeste brasileiro

O fato é que sua beleza vai muito além das praias urbanas da bela e histórica João Pessoa e se estende por toda faixa litorânea do Estado, desde a porção sul, onde estão as praias mais divulgadas/badaladas, à porção norte, ainda sem a devida divulgação. É desproporcional o potencial turístico da Paraíba com a atual procura pelo destino e seus pacotes em agências de viagens espalhadas pelo Brasil.

Por Petrônio Souza Gonçalves*

 

Se adentrarmos um pouco mais na cultura paraibana, vamos ao encontro de dois nomes dos mais importantes da literatura brasileira do século passado, um na prosa: José Lins do Rêgo, e outro na poesia: Augusto dos Anjos. Ambos nasceram em cidades próximas a João Pessoa, em um raio de apenas 60km de distância da capital. Curiosamente, as cidades de nascimento desses dois gênios parecem estar uma de frente para a outra. Somente esses dois nomes e toda a história que os envolve - eles são da época do Brasil dos grandes engenhos - justificaria a criação de um circuito literário de turismo, tudo isso a menos de uma hora da capital. Para fazer esse circuito de perto, é preciso deixar o litoral e ir ao interior da Paraíba - bem significativo isso - descobrindo muito da história desse Estado quase esquecido do Brasil.

Augusto dos Anjos

Por estar do lado direito da BR 230, que é duplicada, vamos primeiro visitar a cidade de Sapé, onde ficava o lendário Engenho do Pau D'Arco, local de nascimento do poeta Augusto dos Anjos, que faleceu prematuramente, aos 30 anos de idade, na cidade mineira de Leopoldina. Antes de chegar a Sapé, vê-se que a cidade reverencia e reconhece seu poeta maior. Pela estrada lê-se em alguns outdoors "A terra da poesia". Pelas ruas de Sapé, algumas imagens de Augusto e versos, até que pedimos informações para chegar ao engenho onde ele nasceu, que fica a 11km do centro do pequeno município, em área rural. Ao sair da rodovia, uma bela escultura batizada com o título do único livro do poeta "Eu", marca onde deve-se entrar à esquerda e andar por mais 2km. Ao fim da estrada de asfalto chega-se ao Memorial Augusto dos Anjos e às ruínas do engenho que viu o poeta nascer e escrever seus versos imortais.

Muito do que inspirou a obra do poeta ainda está lá, como testemunha da poesia que ali nasceu e não existe mais. Há um razoável Memorial, simples e acolhedor, com alguns pertences, verdadeiras relíquias, como a agenda pessoal do Poeta, com poemas escritos por ele, além de documentos, como o contrato de publicação de seu único livro, fotos e lembranças de Augusto e de sua família. Vê-se que o que mantém o Memorial em funcionamento é a força devocional de quem lá trabalha. Chega a ser comovente o amor daquelas pessoas por Augusto e sua obra. Lá é possível comprar alguns suvenires sobre a obra do Poeta, camisetas, até um licor feito com frutos do tamarindo que tanto ele cantou e decantou em seus poemas. A centenária árvore está viva até hoje. O Memorial tem boa visitação e quando estivemos lá havia assinatura de um casal mineiro no dia anterior. Do Memorial faz-se um roteiro de 1h30 monitorado por guias que contam um pouco da vida de Augusto, onde é possível ver a capela onde ele foi batizado, o tamarindo de suas histórias, o pequeno lago encantado que tanto lhe inspirou, entre alguns outros pontos. Por tudo que se tem ali e todo potencial da figura quase mítica de Augusto, deveria ter uma estrutura muito maior e muito mais documentada sobre tudo que se passou. No pequeno auditório para 70 pessoas são proferidas palestras, exibições de vídeos e apresentações artísticas sobre a abra augustiniana e literatura. O Memorial está sediado na casa da ama de leite de Augusto, personagem de alguns de seus poemas, Guilhermina, que ele homenageou dando ao filho o nome de Guilherme.

Um período do dia é suficiente para visitar o velho Engenho e o Memorial do poeta Augusto, que tem seu horário de funcionamento de terça a sábado das 8h às 16h, domingos e feriados das 8h às 12h. O site para informações é: www.memorialaugustodosanjos.com, e o telefone para contato: 83-99421-3010. A visitação tem a contribuição voluntária de R$2,00 por pessoa. Para quem quiser almoçar em Sapé, lá tem um bom restaurante de comida regional, self-service, na saída para a BR 230, com o nome de Bar da Charque: 83-98808-1109.

José Lins do Rêgo

De volta à BR 230 e voltando para João Pessoa, entra-se na estrada com sentido a cidade de Pilar, quando viaja-se por mais 16km em asfalto, até chegar a terra do menino de engenho José Lins do Rêgo. A cidade pequena, de pouco mais de 12 mil habitantes, é surpreendente.  Linda, pacata e de uma beleza desconcertante. Suas casinhas devidamente pintadas, com arquitetura original e única, parecem ter saído de um filme, um verdadeiro cenário de cinema, o que me faz pensar por que não se divulga aquela singela preciosidade da Paraíba?

Muito da beleza do casario deve-se à história do município, que teve seu povoamento iniciado por volta de 1630. A produção de açúcar foi tão forte no período dos engenhos que em 1859 a cidade recebeu a visita do Imperador D. Pedro II. D. Pedro II ficou hospedado no Solar do Barão de Maraú, belíssimo prédio histórico totalmente conservado, onde hoje é a sede da Fundação Menino de Engenho. O Barão de Maraú foi na verdade José Teixeira de Vasconcelos, fazendeiro e político que chegou a presidente da Província da Paraíba em 1867. A arquitetura do Solar é do período colonial e é o único exemplar do estilo na Paraíba, tendo apenas outros 37 exemplares espalhados pelo Brasil.

A Fundação Menino de Engenho é hoje um espaço cultural e recebe apresentações artísticas, grupos folclóricos, exposições, oficinas culturais, entre outros eventos. Lá encontra-se um pouco do artesanato local, além de uma pequena biblioteca para consulta, batizada em homenagem ao dia de nascimento do escritor: 3 de julho. Muito bem preservado, o Casarão abriga algumas fotos de José Lins, além de pinturas e artesanatos com imagens e figuras da obra do grande romancista. Na praça em frente ao imponente Solar uma bela homenagem a Lins, talvez a única, em Esfinge inaugurada por ele próprio no ano de 1951, na praça que também leva o seu nome. A Fundação fica posicionada estrategicamente de frente para a igreja Matriz, formando o antigo passo imperial em um belíssimo conjunto arquitetônico.

Em Pilar ficamos sabendo que todo o acervo de José Lins se encontra em João Pessoa, no moderno e gigantesco Espaço Cultural José Lins do Rêgo, que tem além da biblioteca do autor, objetos pessoais, arquivos, fotos e alguns originais. O Espaço Cultural fica na rua Abdias Gomes de Almeida, 800, em Tambauzinho. O telefone para informações é (83) 3211-6201.

Ao olhar para as ruas silenciadas da singela Pilar, julga-se que tudo isso ficou esquecido em um passado muito distante. Ao contrário de Sapé e de seu poeta Augusto, em Pilar não se vê de forma espontânea nas ruas ou nas casas uma frase, uma placa, uma menção sequer ao seu filho mais ilustre. É de uma decepção inominável.

A sede do tão declamado engenho do menino Zé Lins ainda está lá, e fica a menos de 1km do centro urbano. Lá, também, outra decepção, pois há nada, nada, nem um pedaço de papelão indicando que ali funcionou um dos engenhos mais importantes do Brasil, que virou história e hoje habita a memória dos brasileiros. O Engenho Corredor é uma propriedade particular, de familiares de José Lins, e recebe visitas agendadas. Ele foi todo restaurado com recursos próprios. Os proprietários, primos do escritor, administram e recebem os visitantes mantendo a história viva dos tempos do Ciclo do Açúcar. A casa está preservada em todos os aspectos, com mobília da época e características relatadas nos livros de Zé Lins. A visitação monitorada é de segunda a sexta, das 8h às 11h e das 13h às 15h. Aos sábados das 8h às 11h. No local tem espaço para aula de campo, encontros ou eventos diversos, sendo agendado com antecedência pelo whatssap 83-98787-9705. O valor da visitação é de 20,00.

Os moradores de Pilar falam com orgulho do filho ilustre, contam histórias de José Lins tomando banho nos rios, andando pelas ruas, convivendo com todos na pequena cidade. Se essa memória é forte por dentro das pessoas, há muito pouco sinal desse carinho nas ruas e nos locais públicos da bucólica e charmosa Pilar.

Na praia com os índios

Tão perto de João Pessoa quanto as cidades literárias, fica também o paradisíaco município de Baia da Traição. Com seu nome inusitado, Baia da Traição fica dentro de uma reserva indígena, talvez por isso o turismo não tenha prosperado ali diante de tantas belezas e opções. Aquela pequena Baia e seus arredores é mesmo um paraíso. Lá se encontra praias com falésias, um antigo Forte, lagoa e rio de águas cristalinas, um belíssimo Farol no horizonte, nascentes e córregos por todos os lados, e uma área nativa e preservada por várias aldeias indígenas. São 13 as aldeias espalhadas pelo município. Todos esses atrativos fazem da pequena e pobre Baia da Traição um lugar único.

A apenas 85km de João Pessoa, tudo é rústico e simples na cidade, com poucas opções para hospedagem e alimentação. Vale destacar que mesmo simples, seus restaurantes tem uma cozinha de primeira, com diversos peixes frescos e alguns frutos do mar. Um dos destaques é o simples e saboroso restaurante Forasteiro, do argentino Guillermo Bustos, que mora ali há 20 anos. De frente para o mar, em plena praia, o restaurante serve peixes frescos com acompanhamentos. Uma boa dica são as peixadas, especialidade da casa. Os pratos saem à média de R$60,00 para duas pessoas. Destaque para a lagosta grelhada na manteiga, para duas pessoas sai à média de R$100,00. Curiosamente o restaurante conta com algumas redes estendidas entre as mesas, para quem quiser fazer um boa sesta com a bela visão da baia. Outro bom restaurante é o Terraço Potiguara, que fica na entrada da cidade, a 200m da praia, especializado na culinária regional. Os pratos com carne de sol são saborosíssimos e saem a média de R$60,00 para duas pessoas.

A cidade conta com poucas pousadas, uma delas é a aconchegante pousada Beira do Mar, ao lado da praia, sendo a diária para casal a R$150,00 (83) 3296-1675. Outra pousada um pouco mais simples é a Alto Astral, com preço médio de R$100,00 a diária para casal, também na beira da praia (83) 98770-9247.

Para chegar à cidade é preciso pegar em João Pessoa a BR 101, que é duplicada, no sentido a Natal - norte. Depois de 50km, entra-se à direita no município de Mamanguape. De lá até a Baia são mais 35km. De João Pessoa para Baia da Traição tem-se ônibus em todos os períodos do dia, saindo da rodoviária ao preço de R$ 25,00 a passagem. A viagem dura cerca de 2h.  

Uma das versões para o nome do município deve-se a uma traição dos antigos índios potiguara - nos primórdios da colonização do Brasil - a uma tripulação portuguesa que recebeu permissão para atracar na baia e foi alvejada pelos índios que já estavam cooptados pelos franceses. Se é verdade ou não, a história ficou e deu nome à baia e à cidade. Hoje o município conta com aproximadamente 10 mil habitantes.

O portal na entrada da cidade é um arco, com uma flecha no meio, tendo como base uma canoa indígena, tudo muito sugestivo e original. Ao andar pelas ruas, se depara com pequenos barcos e embarcações espalhados pelas calçadas e nas frentes das casas, alguns deles já bem deteriorados.

Na área urbana começa uma das aldeias dos índios potiguara. Ela se estende para área rural e se encontra com outras. Vale a pena fazer uma visita monitorada às aldeias e lá apreciar os artesanatos feitos por eles, que expõem na frente das casas quando se veem os turistas passeando por ali. Uma das guias que faz essa visita e conta um pouca da história e da cultura dos índios potiguara é a também potiguara Jaqueline Ciriaco83 - 98658-7509, sendo o preço médio do passeio de R$20,00 por pessoa.

Um orgulho dos moradores de Baia da Traição é a perenidade de seus rios e a grande quantidade e qualidade de fontes de água doce, fruto da preservação das nascentes pela reserva indígena no município.

As praias

A pequena baia que dá nome à cidade tem 11km de puras e belas praias, indo de uma ponta a outra. No centro urbano as casas foram construídas na orla junto à praia, quando se vê muitas delas sendo engolidas pelas ondas. Os 11km abrigam as praias: Jangadinha; da Trincheira; Ponta das Trincheiras; da Baía, a central, que é limpa; do Forte; Tambá; Jerimum e Cardosas. Do outro lado da baia vê-se um grande parque eólico, que fica no município vizinho de Marataca.

Na praia central, sempre vazia, tem-se o belo cenário com o movimento dos barcos que ficam lá ancorados, sendo delimitado pelo grande muro de arrecifes que começa na praia e segue mar adentro. O muro de arrecifes segue na direção do Farol da Traição, que fica a poucos metros da praia. Tudo isso faz daquela a praia mais calma do município. Dentro da reserva indígena ficam as praias com falésias, sempre desertas e totalmente preservadas, sendo as praias do Forte, Tambá, Jerimum e Cardosas. Por ser uma baia, as ondas são sempre calmas, próprias para o banho.

A praia do Forte e a de Tambá se destacam, tendo as falésias chegando bem perto do mar. Essas falésias tem uma média de 30 metros de altura. Fato curioso da Baia é que raríssimas vezes se vê o sol se pôr limpo no horizonte, quando ele sempre se despede do dia se escondendo por entre nuvens, fazendo um espetáculo à parte.

Lagoas e rio do Gozo

Com seus rios preservados, existem belas lagoas e um rio de água límpida e cristalina em Baia da Traição, o que é um achado. A lagoa do Canário fica a 8km do centro da Baia, em estrada de terra, de lá até a lagoa Encantada são mais 3km, ambas ficam na aldeia Lagoa do Mato. As duas estão em área indígena, são totalmente limpas e preservadas mas não têm estrutura alguma. Vale muito passar uma tarde em meio a uma água pura e translúcida. Já no rio do Gozo, sua água límpida lembra os rios de Bonito, podendo-se ver os peixes e o fundo do rio com sua areia branca. Preservado e mais visitado, o rio também não conta com estrutura. Ele fica a 13km do centro da Baia, em estrada de terra, dentro da aldeia indígena de Tracoeira. O Gozo é um importante manancial que abastece boa parte da região.

Forte

Pouco sobrou do antigo Forte instalado pela coroa portuguesa para proteger a baia das invasões dos holandeses e franceses no Brasil colônia. Situado acima das falésias da praia de Tambá, já em área indígena, os dois canhões que sobraram para contar um pouco dessa história ficam a menos de 3km do centro da cidade, podendo chegar até eles pela praia. Registros dão conta da instalação do Forte por volta de 1625. De lá avista-se toda a orla e toda a Baia, sendo um ótimo lugar para fazer fotos e assistir ao pôr do sol.

Ao olhar para tanta beleza reunida e quase esquecida, lembro-me das palavras do argentino Guillermo, que deixou seu país de origem para viver naquele pequeno paraíso quase desconhecido que ele conheceu há mais de 20 anos: "Aqui Deus fez a sua parte com muito carinho e cuidado, ficou faltando aos homens fazer a deles".

*Jornalista e escritor

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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