Brasil: O novo ministério assume... e se confunde
O episódio que envolveu o médico-cirurgião Raul Cutait já seria bastante para desqualificar os políticos que aceitaram compor o novo ministério sem impor a condição de escolherem livremente seus subordinados. Como vimos, a poucos foi concedido tal "privilégio" que só o é por estarmos a tratar de uma forma condenável de condução da vida pública...
Iraci del Nero da Costa *
Dizer e desdizer parece ser a tônica da maioria dos ministros nomeados pelo presidente interino da República. Mesmo depois de alertados pela população, pela imprensa e pelo próprio presidente Temer muitos de seus auxiliares imediatos, ao que parece, se comprazem no ir e vir, no voltar atrás depois de poucas horas de comprometerem-se com medidas e afirmações consideradas descabidas por todos, inclusive por seus próprios formuladores!
Afora alguns bons nomes, tal ministério mostra-se frágil e dado a continuados falsetes. Sentimo-nos expectadores de uma dança moderna: mexo aqui, removo ali, volto pra cá, vou pra lá, caneta apaga, borracha escreve; vamos, iremos ou voltaremos? Enfim: chego, assumo, me afasto, sumo...
O episódio que envolveu o médico-cirurgião Raul Cutait já seria bastante para desqualificar os políticos que aceitaram compor o novo ministério sem impor a condição de escolherem livremente seus subordinados. Como vimos, a poucos foi concedido tal "privilégio" que só o é por estarmos a tratar de uma forma absolutamente condenável de condução da vida pública, forma essa que se enraizou no Brasil desde os primórdios de nossa formação histórica e nos sufoca até o momento presente.
Poder-se-ia esperar do chefe da Nação a constituição de um ministério de notáveis aliada ao chamamento à população à qual caberia a necessária função de impor ao poder Legislativo a aprovação das medidas destinadas não só a promover a recuperação de nossa economia mas, também, a de garantir a busca de ações aptas a combater o desemprego assombroso o qual está a comprometer o futuro de milhões de pessoas bem como a de implementar a ingente tarefa de garantir uma vida salutar aos organismos públicos e às empresas pertencentes ao Estado afim de impedir a repetição de episódios degradantes como o mensalão e o petrolão.
Como se observa, muito há por fazer e muito tem de ser cobrado do atual presidente interino da República, o qual, como vários dos componentes do novo ministério tropeça recorrentemente nas medidas que pretende implementar, pois é um exímio elaborador de um inconcebível vai e volta.
Em face do exposto e pensando nos termos bem simples vemo-nos obrigados a enfrentar nas ruas a resposta a duas perguntas cruciais.
Bastará a tentativa de reconstruir a economia para embasar a governança de Temer?
Não falta estofo a um grupo ministerial arranjado segundo critérios condenáveis de atender a estes e àqueles?
As respostas a tais questões são óbvias e devem fazer-se presentes na ação de todos os brasileiros preocupados com o saneamento da Nação.
* Professor Livre-docente aposentado da Universidade de São Paulo.
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