O BRIC existe mesmo?

Por JOSE ANTONIO PINOTTI

O BRIC existe mesmo?. 15654.jpegMercado Comum Europeu, Nafta, OPEP e tantas outras siglas indicam grandes blocos econômicos reunidos e integrados para desenvolver áreas de interesses comuns.

Nesta linha o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai há mais de uma década criaram o Mercosul, diminuindo impostos para comércio mútuo e criando oportunidades. Com o tempo, as vantagens apareceram e outros países mais distantes e com menor afinidade associaram-se ao Mercosul, como México e Venezuela

Já o BRIC é muito mais um conceito do que um bloco integrado. Brasil, Rússia, India e China têm em comum o fato se serem vistos como mercados emergentes de grandes perspectivas para investidores internacionais.

Tal fato se deve às suas enormes áreas territoriais, suas grandes quantidades de reservas minerais, seu grande parque industrial de base instalado (siderúrgicas, metalúrgicas, geradoras elétricas, construção civil) e seu grande volume de exportação de commodities e importação de manufaturados complexos.

Além disto, no aspecto humano, estes países têm em comum suas culturas e línguas próprias, diferente de todos os países vizinhos e do seu próprio continente, formando um mercado peculiar e sua grande reserva de consumidores emergentes (população abaixo da linha de pobreza que vem ganhando poder de compra e alavancando o mercado interno). Porém o intercâmbio comercial e o conhecimento mútuo entre esses países ainda é muito pequeno perto do que poderia ser.

Brasil e China já são grandes parceiros comerciais, embora com uma relação um pouco tumultuada. A China é um grande consumidor de commodities minerais e agrícolas brasileiras, mas a importação dos seus manufaturados de baixo custo vêm destruindo alguns setores da economia brasileira, como por exemplo a área têxtil e de vestuários.

Isto obriga o governo brasileiro a impor cotas e outras barreiras comerciais, que acabam provocando outras retaliações e embargos do governo chinês. Brasil e Índia tem se aproximado ao longo dos anos buscando sinergia de negócios.

Embora as exportações e importações ainda não sejam tão expressivas, vários investimentos indianos começaram a entrar no Brasil, comprando indústrias e terras.

Porém Brasil e Rússia pouco interagem. Seus povos sabem muito pouco um sobre o outro. Nunca houve imigração considerável entre estes dois países que promovesse um intercâmbio de cultura, suas distâncias geográficas e culturais são enormes. Porém disto podem surgir grandes oportunidades de trocas de produtos, investimentos e conhecimentos, incrementando comércio, turismo, e outras parcerias.

Muitas vezes, analisando experiências em uma sociedade semelhante à nossa podemos entender melhor o funcionamento do nosso próprio mercado, aproveitando soluções criativas já testadas em outro lugar e antecipando e contornando problemas já vivenciados pelo outro.

Seria interessante se estes povos pudessem conhecer mais um sobre o outro. No Brasil estas informações são escassas e ultrapassadas. O pouco que se sabe da Rússia ainda se mistura com a época da União Soviética.

O brasileiro médio só sabe que a Rússia já foi comunista, tem um clima gelado e lá se bebe vodka e se come strogonoff. Creio que os russos também devam saber pouco sobre o Brasil, além do futebol e do carnaval.

Se formos analisar mais a fundo, Brasil e Rússia têm mais semelhanças entre si do que com a China e Índia. São países que antes desse boom emergente posterior à decada de 90, já tinham uma classe média estruturada, com um grau de educação e demanda de qualidade mais altos.

Podemos dizer que são mercados mais sofisticados e com uma percepção mais delineada dos seus gostos, que não se aculturaram tanto com a globalização recente. Ao mesmo tempo são países muito caros, não só quando comparamos seus custos internos com a Índia e China.

Os preços praticados no mercado interno são mais altos até do que os de países europeus ou norte-americanos, tornando algumas exportações de manufaturados pouco competitivas.

São países que passaram por muitos planos econômicos nas últimas duas décadas, onde o dinheiro perdeu sua referência e alguns segmentos da economia se inflacionaram de uma maneira desproporcional.

São países onde o custo de produção se torna alto, devido à alta carga tributária e de corrupção (o que não deixa de ser um tributo para grupos privados), com uma máquina pública grande e burocrática, que ao invés de fomentar a economia, acaba engessando e dificultando processos.

Ou seja, o governo atrapalhando a iniciativa privada. E os casos de sucesso empresariais acabam vindo de indivíduos que conseguiram contornar de forma arrojada e criativa a inércia do Estado.

Ao longo dos próximos artigos estaremos discutindo temas e experiências do mercado brasileiro, as peculiaridades da nossa cultura, o modo de pensar do povo, os entraves sociais, o funcionamento político, as inovações tecnológicas e as oportunidades de negócios.

O intuito não é construir um painel turístico de um local exótico, mas, sim, trazer a reflexão sobre temas comuns à natureza humana, mesmo que entre sociedades diferentes. Em alguns casos os russos poderão perceber quanto eles já avançaram, em outros, como existem soluções simples para alguns problemas crônicos. Muitas vezes o outro é o melhor espelho que existe para que possamos olhar para nós mesmos.

JOSE ANTONIO PINOTTI é engenheiro de computadores pela Unicamp, psicólogo pela Usp, mestrado em psicanálise pela Sorbonne, pós graduação em homeopatia na SBH. Atuou em consultorias de gestão e reestruturação de empresas, atualmente faz parte do conselho de algumas S.A.s e atua em merging & acquisitions.

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