Olha cá para dentro…

-4,2%! Esta foi a quebra do PIB (produto interior bruto) Espanhol no último trimestre, comparativamente com período homólogo do exercício anterior. Menos 1,1% na taxa intertrimestral, melhor (0,5%) que a pior previsão.

Considerando a conjuntura internacional, não parece nada digno de registo. Sobretudo aos olhos daqueles que, por exemplo, investiram em warrants (opção de compra/venda) pela negativa, mesmo que ditos investidores (cada dia em menor número) representem apenas uma variante necrófaga da nossa espécie. Este dado, toma pois relevância se atendermos a que significa a maior quebra do sector produtivo Espanhol desde 1970. Relevância que, por seu lado, se magnifica se realizarmos um exercício simples de cruzamento, entre este e outros aspectos com representação quantitativa:


Observando o crescimento Alemão ou Francês do último trimestre (0,3%), poderíamos afirmar que Espanha continua mergulhada na recessão. Contudo, no conjunto da zona Euro, a diminuição do PIB é ainda mais significativa (-0.4%), revelando assim que, este país não tem capacidade de se destacar devido à sua política de subserviência e à falta de objectivos estratégicos, algo que nos recorda Portugal e a sua, bastante mais notável, dependência exterior. Situação que destaca, claramente, a consolidação da uniformização imperialista que fomenta os Estados Unidos. Resultado do abandono do tecido produtivo é também a perda da soberania nos mais diversos campos, a qual, quantitativamente, se poderia traduzir no resultado do IPC (inflação per capita), que, em Agosto, alerta sobre uma grave situação de deflação (-0,8%), o sexto pior resultado desde 1962.

Se, não obstante, tivermos em atenção as 1.118.300 famílias que provam hoje a amargura da falta de pão, famílias nas quais nenhum dos seus membros trabalha; o 17,92% da população activa que se tornaram peças de uma engrenagem caduca, do capitalismo insaciável. Se nos dermos conta de que existem já mais de 4,1 milhões de desempregados. Então, poderíamos afirmar, não obstante uma agonizante recuperação económica, dilatada no tempo e carente de viabilidade como sistema, Espanha não resulta hoje atractiva para os emigrantes. Prova disso poderiam ser os dados que apontam para, no ano 2008, só 720.000 trabalhadores romenos ou 800.000 mulheres e homens de nacionalidade marroquina, permanecerem no Reino do despótico Juan Carlos. Mais, quando comparamos a cifra com o total absoluto acumulado dos 8 últimos anos, mais de 4 milhões de estrangeiros.

Quanto aos europeus, excepto Roménia e Bulgária, referimo-nos a 288.000 trabalhadores residentes. É ainda importante mencionar que, no ano 2008, se verificou um decréscimo de 38% no global de solicitações e concessões de licença laborais (visados de trabalho). Porém, também para o círculo da Europa, excluindo Bulgária ou Roménia, se registaram e concederam, somente 122.000 solicitações de residência Estatística que, graficamente, se ilustraria como uma linha de evolução negativa de 135º.

Por outra parte, debruçando-nos necessariamente sobre as condições de trabalho neste país, resulta que, em empresas de empreitada com 1 a 5 trabalhadores (legais), o índice de acidentes mortais na média dos 4 sectores mais importantes: Industria; Agricultura; Construção e Serviços, foi de 12,77%. O que indica uma redução substancial na evolução do quinquénio, ainda que penalizando particularmente o sector da construção, no qual faleceram mais de 24% dos acidentados. Como tal, o resultado deixa todavia patente a exploração e as condições esclavagistas que experimentavam os trabalhadores no passado recente, sem deixar de considerar positiva a melhoria verificada. Este estudo apresenta ainda uma convergência entre o número de nacionais e estrangeiros no que aos acidentados se refere, sem que se tenha aplicado qualquer critério etário.

Definitivamente, este não é país de oportunidades!

Como conclusão, e desde uma óptica mais patriótica, no que diz respeito especificamente aos trabalhadores Portugueses emigrados. Tornam-se um reflexo da nossa realidade enquanto país e das políticas que o nosso povo sustenta à 34 anos, as condições nas quais, estes, se vêem implicitamente obrigados a entregar a vida para ganhar o pão, como mão-de-obra barata e muitas vezes escravizada. O número de emigrantes falecidos por motivo da assumida precariedade nos diferentes âmbitos, mesmo sem sugerir uma impressão alarmante (ainda que a morte de um trabalhador não deva ser nunca escamoteada), se ponderada em conjunto com factores tais como, a quantidade de Portugueses que aqui trabalham e aos quais, o governo de Sócrates atribui a condição de emigrantes em “itinere”, 50.000 (tentando justificar o desemprego crescente e recorde desde 1974); que constituamos, hoje, numa economia extremamente debilitada, um dos principais recursos para que o capital continue a gerar mais-valias e representemos, em 2008, 40% da emigração europeia que recebeu Espanha; a – possivelmente abjecta – existência da qual procuram fugir os nossos conterrâneos, apesar de se depararem com as contrariedades da falta de identificação com o entorno ou a viabilidade, mas fundamentalmente a esperança, que os mesmos depositam no país vizinho (o qual, como exposto, apresenta moldes similares às épocas mais negativas da sua economia) para alcançarem condições mínimas de subsistência, espelha o desespero – sem querer estabelecer paralelismos com os Africanos que perecem no estreito – de várias gerações de Portugueses, e, fundamentalmente, quão sombrio se apresenta o futuro da nossa juventude.

Complexa de assimilar, a actual conjuntura social Portuguesa conserva fenómenos comuns àqueles que elevaram a vontade do povo até ao 25 de Abril.

Noutras áreas, porém, poderíamos ainda constatar contradições dos governos do chamado “bloco central” (PS/D), enquanto se apresentam à população como movidos pela melhoria das suas condições de vida e assim pela eliminação do conjunto de carências que padecemos pela aposta política na subserviência e pelo prescindir da soberania na maioria dos aspectos (mesmo para países que se proclamam em depressão).

Finalmente, a verdade é que os trabalhadores Portugueses continuam a saltar para o vazio com a coragem que lhes engana o estômago. Deixando patente a desconfiança na nossa democracia. Vítimas da clivagem que promove o capital mas promotores finais desse mesmo classismo bacoco dentro de uma mesma classe. De recordar que, a arrogância, o despotismo, os muros que se levantam entre os homens, não são privilégio da direita. O hermetismo no relacionamento com os seus iguais acontece em todos os quadrantes políticos, alguns como apanágio da sua condição e como tal na sua grande maioria, outros como tentativa de distinção cultural; académica; intelectual; meritocrática ou estatutária, mas, soberbo hermetismo.

É nesse sentido que se pode colocar a seguinte sugestão: A coerência com os princípios basilares do Socialismo é a única forma de aproximar a liberdade aos oprimidos, a única forma de compartir o caminho da revolução; a única forma de transmitir os motivos pelos quais é imprescindível mudar, que quem tem na mão o futuro; quem realmente pode mudar este paradigma, somos nós. Provável é também que surja uma questão em busca dessas novas alternativas, mas essa, essa é uma questão que pode devolver ao inquiridor.

Mário Pinto

http://jdei.wordpress.com/2009/09/08/192/

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey