Porto de Santos: em obras

Milton Lourenço (*)

SÃO PAULO -- Enquanto o poder público perde muito tempo com burocracia e trabalha a passos paquidérmicos, a iniciativa privada não espera. Um exemplo é o que ocorre no Porto de Santos: enquanto as obras de construção das avenidas perimetrais se arrastam há pelo menos quatro anos e outros projetos nem saíram da gaveta, a iniciativa privada faz a sua parte sempre com maior rapidez. Até porque precisa recuperar investimentos e obter lucros com as concessões que recebe do poder público.

Nem mesmo a perspectiva de refluxo nos ganhos, provocado pela crise financeira mundial, tem levado as concessionárias a recuar em sua programação. A ideia é aproveitar a desaceleração econômica para investir em obras de expansão e melhorar os serviços com o objetivo de reorganizar a cadeia logística, incluindo porto e terminais.

Num rápido balanço, podemos relacionar pelo menos nove grandes empreendimentos do setor privado. Um deles é o Terminal Marítimo do Valongo (Teval), do Grupo Libra, que até o final do ano estará em funcionamento. Em fevereiro, foi inaugurada a primeira fase do Teval e, em seguida, iniciada a segunda (e última) etapa de um empreendimento que constitui uma parceria com a MRS Logística, que permitiu a exploração da área sob seu domínio. O empreendimento está avaliado em R$ 100 milhões, sem contar investimentos em equipamentos.

Outro empreendimento de vulto é o do Terminal para Contêineres da Margem Direita (Tecondi), que pretende aumentar sua produtividade em 230% com a entrada em operação de dois portêineres – guindastes sobre rodas especiais para embarque e desembarque de contêineres – e a ampliação de sua área no Cais do Saboó. Segundo o Tecondi, investimentos de R$ 180 milhões devem elevar o seu potencial de operação para 700 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) por ano.

Já a Mesquita Soluções Logísticas anunciou que pretende investir R$ 12 milhões em novos sistemas de controle de operações em seus terminais retroportuários em Santos e Guarujá, a exemplo do Grupo Rodrimar, que vem investindo em programas de informática, novos equipamentos e melhoria de sua infraestrutura no Cais do Saboó a fim de aumentar sua capacidade de 250 mil para 400 mil TEUs.

Por seu lado, a Stolthaven espera investir R$ 20 milhões em seu terminal na Alemoa, especialmente para colocar em operação novos tanques de armazenamento. Para o segundo semestre, a multinacional prevê a construção de um ramal ferroviário. Além disso, investe em obras de ampliação que deverão estar concluídas em 2011. É de lembrar que a unidade da Stolt em Santos movimentou no ano passado 1,6 milhão de toneladas em produtos, quase 100 mil toneladas a mais que em 2007.

Na área de granéis, os terminais Teaçu e Cosan pretendem aumentar em até 50% a capacidade de movimentação de cargas do novo terminal açucareiro. Integrados, os dois terminais esperam chegar a 13 milhões de toneladas em pouco tempo.

A agroindustrial francesa Louis Dreyfus Commodities, que movimenta principalmente suco de laranja, espera concluir até meados do ano as obras de ampliação de seu terminal no antigo Armazém 30. Seus investimentos já foram feitos com a perspectiva do aumento de movimentação a partir de 2011, quando, em razão do trabalho de dragagem, o canal do estuário receberá navios de maior calado.

Já o Noble Group, líder mundial em suprimentos agrícolas, com sede em Hong Kong, prevê para novembro a inauguração de seu terminal no antigo Armazém 12-A, depois de investir cerca de R$ 60 milhões em conjunto com o grupo Itamaraty, que arrendou a área em 2001. O terminal irá movimentar soja e milho, além da produção de açúcar da própria empresa. Por fim, a Embraport, do grupo Coimex, espera colocar em funcionamento em 2011 o seu complexo multiuso na área continental, que deverá operar 1,2 milhão de contêineres e 2 milhões de metros cúbicos de álcool por ano.

Como se vê, são promissoras as perspectivas que se abrem, apesar do período recessivo. O que se espera é que o poder público e a iniciativa privada unam esforços e atuem de maneira articulada para que o Porto de Santos esteja preparado para suportar a nova onda de crescimento, que, com certeza, virá depois desta fase.

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Centro de Logística de Exportação (Celex), de São Paulo-SP.

E-mail: [email protected] Site: www.fiorde.com.br

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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