Mantega: Brasil deve voltar a crescer 4% ou 5% em 2010

SÃO PAULO - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta sexta que a economia brasileira deverá retomar um nível de crescimento de 4% ou 5% no ano que vem. Ao participar de evento promovido pela revista "Carta Capital", em São Paulo, o ministro disse acreditar que a crise financeira internacional será curta e o Brasil tem condições melhores para enfrentá-la do que a maioria dos países. "Acredito numa crise mais curta, em que todos os países já estarão com crescimento positivo em 2010. Alguns em níveis modestos, mas países como o Brasil já poderão em 2010 alcançar um crescimento de 4% ou 5%, voltando ao crescimento do ano passado", disse o ministro.


Mantega destacou que um dos principais sinais de que a economia brasileira está se recuperando é a produção de veículos. De acordo com o ministro, o Brasil já é o sexto maior fabricante mundial deste setor e "certamente vai ultrapassar os países europeus". Ele citou ainda que Brasil e Alemanha são os únicos países no mundo cuja produção de veículos no primeiro trimestre deste ano foi maior que a do mesmo período de 2008. "Isso mostra como a política econômica tem surtido mais efeito aqui que em outros países", afirmou.


O ministro citou também a recuperação do mercado de trabalho no País. Em abril, o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho ficou positivo em 106.205 vagas formais. "Nós sofremos também alguma perda de empregos no momento imediatamente posterior à crise, mas também já estamos criando novos empregos, o que é hoje raro no mundo, uma vez que na maioria dos países está havendo aumento do desemprego", disse, citando como exemplo os Estados Unidos, onde a perda de empregos mensal tem variado entre 500 mil e 700 mil vagas.


"A economia brasileira deverá encerrar este ano com saldo positivo de empregos, não tão grande como nos anos anteriores, evidentemente, mas numa situação mais favorável que a de outros países e aumentando a massa salarial, que é o sustentáculo do mercado interno", afirmou. "A massa salarial continua se expandindo no Brasil, o que garante o poder de consumo e a manutenção do dinamismo do mercado interno."


O ministro citou que a recuperação dos preços das commodities (matérias-primas) já se reflete na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fortemente influenciada pelas ações da Vale e da Petrobras. O índice Bovespa retomou o nível dos 50 mil pontos e assiste ao retorno do capital estrangeiro. "Há uma recuperação no preço das commodities que se reflete na Bovespa, uma bolsa fundamentalmente de commodities. Vemos um crescimento mais expressivo da trajetória da Bovespa em comparação com a Dow Jones. Isso não quer dizer que será necessariamente uma trajetória linear. Concordo que ainda temos volatilidade nos mercados. A crise ainda não está resolvida e superada, mas temos sinais de maior resistência e condições melhores na economia brasileira."
Câmbio
Segundo Mantega, a valorização do câmbio é um reflexo da entrada de capitais, aliada ao fato de que a taxa de juros no Brasil é mais elevada que em outros países. "Já estamos vendo um fluxo crescente de capitais para o Brasil. Assim que deu uma melhorada no exterior, rapidamente tivemos uma entrada de capitais na economia brasileira", citou. "Mas isso de qualquer forma demonstra um cenário benigno para o Brasil e que poderá ser aproveitado se isso reverter em mais investimentos e mais produção."


O ministro disse que a atuação do Banco Central no mercado de câmbio fará que com as reservas internacionais do País continuem a crescer em meio à crise, ao contrário do que tem ocorrido em outros países, como a Rússia, que já teve reservas de mais de US$ 600 bilhões e hoje acumula US$ 370 bilhões. "O Banco Central já voltou ao mercado porque está havendo um fluxo positivo para o Brasil, e a tendência é de que as reservas continuem a subir", citou. O ministro disse que a exploração do petróleo pré-sal vai "mais do que duplicar as reservas brasileiras".


Mantega destacou também que o crédito está sendo retomado aos poucos, embora o custo ainda esteja elevado. Ele voltou a cobrar a redução dos spreads cobrados por bancos públicos e privados. "A situação financeira melhora fora e dentro do Brasil. O interbancário está voltando, já estamos tendo capacidade de captação no exterior, a produção já voltou a ser irrigada pelo crédito. É evidente que ainda não há o crédito necessário e o custo financeiro ainda é muito elevado. Então temos ainda um caminho a percorrer no aumento do crédito e redução das taxas de juros", afirmou.


O ministro afirmou que a retirada da Petrobras do cálculo do superávit primário elevou a relação dívida/PIB de 36% para 39%, mas argumentou que o objetivo da medida era proporcionar a adoção de políticas anticíclicas. Segundo ele, no passado, com crises internacionais de menor intensidade, havia fuga de capitais, elevação dos juros, aumento da dívida pública e, por consequência, aumento da necessidade de superávit fiscal, corte de gastos e de investimentos - portanto, "uma atuação pró cíclica, aprofundando a retração econômica". "Nos dias de hoje, com a economia mais sólida, podemos fazer exatamente o contrário, fazer de fato uma política anticíclica," disse, citando a redução da taxa básica de juros e a diminuição de impostos para veículos, produtos da linha branca e materiais de construção.


Segundo ele, o déficit nominal do País será de 2,1% do PIB em 2009, inferior ao dos Estados Unidos e Reino Unido, e a meta do superávit primário, reduzida para 2,5% do PIB neste ano, voltará aos patamares elevados - a meta será de 3,3% em 2010. "Voltaremos ao superávit primário usual dos anos anteriores nos próximos anos, de modo que a trajetória da dívida líquida do setor público continuará descendente, mostrando que o Brasil possui uma situação fiscal sólida, mais sólida que a maioria dos países do G-Lula diz que eventual candidatura em 2014 não é 3º mandato.

Fonte: Agencia Estado

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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