Santana do Ipanema, capital alagoana do esporte de aventura

Santana do Ipanema, capital alagoana do esporte de aventura

 

por Fernando Soares Campos(*)

 

Houve época em que a maior atração turística do Nordeste era o próprio turista. Isso ocorria nos tempos em que os administradores públicos acreditavam que as belezas naturais da região e o espírito hospitaleiro do nordestino, por si próprios, seriam suficientes para atrair visitantes que viessem a aquecer a economia local. 

 

Executivos, técnicos, vendedores, representantes comerciais de empresas diversas, entre outros profissionais, em viagem de negócios, encantavam-se com as deslumbrantes praias da região. Assim, muitos deles se programavam para, quando entrassem de férias, usufruir desse paraíso ensolarado, onde, além dos maravilhosos cenários de céu, mar e terra, pode-se também desfrutar de uma das mais apreciadas culinárias do Brasil. 

 

Era uma época em que, no Nordeste, no âmbito das administrações municipais, somente as capitais dos estados possuíam secretarias com atribuições voltadas para o gerenciamento de atividades relacionadas com o turismo. 

 

Até o final do século passado, a política adotada para o desenvolvimento do turismo no Brasil estava centralizada no incentivo à ampliação do parque hoteleiro nacional. Com isso, as capitais nordestinas modernizaram sua rede hoteleira. Maceió, por exemplo, conta hoje com mais de 500 hotéis ("outros tipos de hospedagem são considerados no número total, como flats, resorts, hostels, pousadas e campings", informa o site Buenas Dicas - Viagem Inteligente"), entre os mais simples, que se classificam por uma estrela, até os de cinco estrelas, conforme prestação de serviço, no que diz respeito à localização, ao atendimento, limpeza, segurança e tantas outras atribuições do ramo hoteleiro. Hotel de categoria uma estrela é aquele que atende aos requisitos básicos para o conforto e segurança do hóspede. Cada estrela a mais indica a diferença e a variação de preço entre os hotéis. A classificação por estrela sugere diferenças de infraestrutura, serviços prestados e, consequentemente, o preço da hospedagem. Daí os clientes em potencial fazem a melhor escolha do hotel, de forma que atenda às suas necessidades e poder econômico. Três estrelas, por exemplo, é uma classificação generalizada para hotéis que prestam atendimento a um público-alvo bem específico: o turista.

 

Em 2003 foi criado o Ministério de Turismo do Brasil (MTur), que tem como objetivo "desenvolver o turismo como atividade econômica auto-sustentável em geração de empregos e divisas, proporcionando inclusão social". A criação desse ministério indica que as autoridades e os empreendedores do ramo hoteleiro finalmente reconheceram o turismo como uma das mais importantes atividades econômicas do País, o que exige programas e projetos específicos para promover o seu desenvolvimento. 

 

Fica claro, portanto, que o planejamento da atividade turística pelos governos em todos os âmbitos, seja federal, estadual ou municipal,  ainda é muito recente, mas já se encontra em estágio bastante avançado, tanto que o Ministério do Turismo estuda a instalação, em Alagoas, da primeira Escola Nacional de Turismo"A convite da prefeitura de Maceió, comitiva da Pasta esteve na capital alagoana para discutir o formato e a operacionalização do empreendimento" (extraído da página do MTur, publicado em 19/01/2021).

 

Entre os que pretendem fazer turismo no Nordeste, apenas uma pequena parcela destina-se ao interior dos estados nordestinos. São os que buscam turismo de evento, principalmente as festas juninas, em cidades que se destacam por oferecer os melhores "São João" do mundo! Há também um interesse pelo turismo religioso, que tem seu ápice na cidade de Juazeiro do Norte, conhecida como "A Meca Nordestina", na Região Metropolitana do Cariri, Ceará. Para outras modalidades turísticas, resta apenas uma pequena parcela do fluxo turístico no interior do Nordeste. 

 

Turismo sustentável  

 

(Trecho do artigo intitulado "Turismo esportivo e de aventura nos sertões nordestinos", autoria deste mesmo autor que vos fala, publicado em julho de 2018.)  

 

Quando nos referimos a turismo sustentável, é comum tratarmos sobre as modalidades de turismo relacionados com a natureza. O turismo rural, por exemplo, proporciona um eventual relacionamento das pessoas oriundas de ambientes urbanos com os trabalhos rurais, as atividades agropastoris, artesanais, pequenas indústrias, hotéis fazenda. Nesse caso, o turista  busca interagir com a cultura e as relações sociais do campo. O ecoturismo, em que o turista se entrega à observação e contemplação de acidentes geográficos e, em muitos casos, se envolve física e emocionalmente com o ambiente.  

 

"Segundo a OMT o turismo sustentável deve ser aquele que salvaguarda o ambiente e os recursos naturais, garantindo o crescimento econômico da atividade, ou seja, capaz de satisfazer as necessidades das presentes e futuras gerações.

 

"Portanto, o desenvolvimento turístico deve pautar por "economizar os recursos naturais raros e preciosos, principalmente a água e a  energia, e que venham a evitar, na medida do possível a produção de dejetos, deve ser privilegiado e encorajado pelas autoridades públicas nacionais, regionais e locais". (Artigo 3 Código de Ética - OMT).

 

"O Turismo Sustentável deve acima de tudo buscar a compatibilização entre os anseios dos turistas e os das regiões receptoras, garantindo não somente a proteção do meio ambiente, mas também estimulando o desenvolvimento da atividade em consonância com a sociedade local envolvida." ("O que é turismo sustentável",  Rita de Cássia P. F. Ramos, maio de 2013.)

 

Para a adoção do turismo sustentável, há necessidade do desenvolvimento de estruturas apropriadas para o acesso do turista às áreas que lhe interessam, mas de forma que se preserve o meio ambiente.

 

Turismo sustentável é incompatível com os turismos de massa, como ocorre no caso das romarias religiosas e visita a monumentos históricos. Isso também nos chama a atenção para a separação entre "turismo esportivo" e "turismo de evento esportivo". O primeiro pode ser relacionado com o turismo sustentável, enquanto o segundo tem relação direta com atração de massas turísticas: apresentação dos esportistas e assistência formada por apreciadores ou mesmo torcedores.

 

Uma das características fundamentais do turismo sustentável é a opção por atendimento a pequenos grupos, formados por pessoas interessadas na preservação dos recursos naturais e, não raro, praticantes de alguma modalidade esportiva, destacadamente esportes de aventura, modalidades esportivas que envolvem, por exemplo, escaladas, trilhas e montanhismos, mas também os adeptos dos chamados esportes radicais, tais como voo livre, por asa delta e parapente. Limito-me a citar esses exemplos, visto que pretendo me situar nas condições naturais, apropriadas para a prática de turismo esportivo, que podem ser desenvolvidas, de imediato, ou a curto prazo, na região sertaneja do Estado de Alagoas.

 

O complexo geográfico da região sertaneja do Estado de Alagoas compreende extensas planícies e variadas formações montanhosas: serras e colinas, em cujos cumes se descortinam deslumbrantes panoramas, além de oferecerem condições de formação de rampa para decolagem de voo livre. E as planícies garantem, em termos de segurança, as condições ideais de pouso para essa prática esportiva.

 

Na região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, os praticantes de voo livre (parapente e asa delta) reclamam que possuem muitos ponto de salto e raros para o pouso, quase sempre precisam de autorização de donos de pequenas extensões de terreno plano, o que nem sempre conseguem.

 

Nos sertões nordestinos, os ventos quentes também contam a favor do esporte aéreo. Além do voo, as subidas por trilhas íngremes para alcançar as rampas são, por si mesmas, aventuras adrenalínicas.

 

Santana do Ipanema é a cidade-sede da Região Metropolitana do Médio Sertão do Estado de Alagoas (RMMS-AL). Os outros oito municípios que participam da formação dessa micro região sertaneja são: Dois Riachos, Olivença, Olho d'Água das Flores, Carneiros, Senador Rui Palmeira, Poço das Trincheiras, Maravilha e Ouro Branco.

 

Todos os municípios que compõem a RMMS-AL têm as características geográficas e sócio-culturais idênticas. Diferenciam-se basicamente no que diz respeito à intensidade das atividades econômicas. Santana do Ipanema, na condição de cidade polo, conta com atividades comerciais mais intensas e oferece maior diversificação em prestação de serviços,  contando hoje com um hotel classificado como padrão turístico (3 estrelas): Hotel Privillege. "Em cada um dos 53 charmosos quartos há uma decoração em tons terrosos em homenagem ao sertão alagoano e quadros que retratam a história da cidade de Santana do Ipanema. É parte da política de responsabilidade socioambiental do hotel a adoção de medidas sustentáveis, onde mais de 50% dos chuveiros dos apartamentos são abastecidos com energia solar, 70% das lâmpadas são de LED, contribuindo com um baixo consumo de energia, e 98% do seu quadro funcional é composto por cidadãos santanenses", diz a apresentação no site do hotel (https://www.hotelprivillege.com.br/).

 

A cidade também oferece hospedagens em pousadas de variados padrões. Conta com bares, restaurantes, padarias, postos de abastecimento de combustível, além de rede bancária suficiente e comércio diversificado. Atendimento emergencial socorrista, a cargo de Grupamento Bombeiro Militar. A emergência hospitalar fica por conta do maior hospital da região. Também dispõe de clínicas particulares e consultórios de diversas especialidades médicas, credenciados para atendimento através dos mais importantes planos de saúde.

 

Santana do Ipanema e região têm as condições geográficas, culturais, sociais, mercantis e econômicas para atender demanda de turismo sustentável, sob as modalidades "turismo esportivo" e "turismo de aventura", necessitando, porém, da criação de pequenas empresas prestadoras de serviço nessas áreas e do apoio do poder público para a implantação da infraestrutura básica, necessária ao atendimento da clientela visitante, além do treinamento e habilitação de cicerones com formação em segurança do trabalho, o que pode ser feito em parceria com o empresariado local e as faculdades públicas e privadas instaladas no município.

 

Voo Livre em Santana do Ipanema


Local: Serra da Camonga, Santana do Ipanema - AL


WayPoint: -9.352702, -37.203433


Acesso: Ao chegar em Santana do Ipanema vindo de Maceió, 200 metros após a primeira ponte entre à direita e siga por 3 km até a entrada do Parque da Serra da Camonga que está sinalizada. A partir deste ponto basta seguir as placas.


Decolagem: Rampa natural com pastagem, boa inclinação permitindo decolagem de asa delta e uma decolagem por vez.


Pouso: Pouso amplo logo à frente da decolagem.


Melhor Época: Possibilidade de voo o ano inteiro, melhor época de setembro a dezembro.


Clube Responsável: AVOE_AL (Associação de voo esportivo de Alagoas).


Prós: Ótima região para voo XC, ventos e térmicas fortes na temporada, teto entre 2.000 e 3.000m, região cortada por diversas rodovias, terreno plano e pousos abundantes ao longo da rota.


Contras: Apenas carros 4x4 chegam na rampa.

 

(Informações extraídas do site da CBVL - Confederação Brasileira de Voo Livre.)  

  

  

(*)Fernando Soares Campos é escritor, autor de "Saudades do Apocalipse  ̶  8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; e "Fronteiras da Realidade  ̶  contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018. 

 

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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