A cor dos olhos da crise

Por Raul Longo

Crise sempre foi conseqüência inevitável de Poder. Ou o Poder se nega a acompanhar a evolução e as necessidades sociais, ou extravasa e abusa, gerando a crise.

Por que a violência da multidão em Londres na reunião do G20? Por que a violência em Paris? Por que a multidão está furiosa com a OTAN?

Porque não confia nos olhos dos que se dizem interessados em acabar com a crise mundial. E não confia por antiga experiência. Antevê que mais uma vez pagará os prejuízos para que os verdadeiros responsáveis se ajeitem como sempre se ajeitaram. Foi assim na década de 30 do século passado e será assim outra vez se não identificarmos logo a cor dos olhos da crise, até porque essa não é uma crise pontual que apenas afeta os povos de países mal governados, como foram as recentes crises da Rússia que, além da Rússia, só afetou algumas repúblicas das bananas que tiveram de correr ao FMI, como se deu também com a do México e a da Ásia.

Não! Dessa vez a crise é mundial e afeta todos os países, mesmo os de governos sérios, experientes, capazes e honestos. Até a Islândia, vejam só! De gente tão branquinha e de olhos bem azuis!

Que as repúblicas governadas por relapsos, inaptos e desonestos tenham de acorrer ao FMI por crises alheias e pontuais, se compreende; mas esse não é o caso da Islândia, uma ilha sempre tão segura e tranqüila. Como entender isso?

É que não tem como não ser afetado por uma crise mundial. Por melhor que seja o governo e por maiores os potenciais de um país, como no nosso caso, o máximo que podemos esperar de um bom governo é que não permita o vilipêndio de obrigar seus povo a pagar os prejuízos dos erros dos outros com índices extorsivos de inflação, congelamento de salários, estagnação econômica, endividamento e dependência externa, desemprego, aumento da miserabilidade, etc., etc., etc...

Mas quem é que faz a crise mundial, se cada país tem um governante e uma economia própria?

Se formos à história, conferimos que enquanto os sistemas de poder se restringiam a impérios regionais, as crises que marcavam a decadência desses impérios também eram regionais. A crise do império babilônico foi uma crise restrita à Mesopotâmia. As crises das dinastias faraônicas ficavam lá pelas margens do Nilo, como as do Império da China pelas margens do Rio Huang (Amarelo).

A primeira grande crise mundial surgiu provocada pelo primeiro maluco que se resolveu imperador do mundo: o Alexandre Magno. Dominou dos Bálcãs até a Índia, pretendendo impor o helenismo, a cultura grega. Deu no que deu: Alexandre morreu aos 33 anos e até hoje ninguém sabe se de malária, tifo, encefalite virótica, envenenamento ou alcoolismo pela depressão de ter perdido seu exército no Extremo Oriente, provocando o fim do império helênico em meio ao que foi a primeira crise mundial da história.

Nisso de querer conquistar o oriente, todos os que foram imperadores do mundo e provocaram crises internacionais quebraram a cara. Depois do Alexandre foram os romanos. Além de herdar a cultura helênica, adaptando-a do grego para o latim, pegaram também a mania de querer dominar o mundo. Dominaram a Europa, mas à Oriente não foram muito além de Constantinopla, atual Istambul, capital na Turquia.

Mas a questão aqui é: quais seriam as cores dos olhos dessas duas primeiras crises mundiais? Sabemos que isso de gregos e romanos de olhos azuis é coisa de Hollywood, mas ainda que etnólogos desde meados do século passado considerem as designações raciais uma bobagem, pois geneticamente está provocado que todos descendemos da mesma Etiópia africana; também entendem que desta matriz desenvolveram-se dois biótipos com diferentes características anatômicas: os mongólicos e os caucasianos.

Uma das pistas de nossa origem africana, os paleontólogos encontraram em crânios de ancestrais dos indígenas americanos que apresentaram similaridades com os aborígenes australianos.

Os aborígenes alcançaram a Austrália há mais de 25 mil anos e são negros. Apesar de nunca ter constituído nenhum império, esse povo sofreu uma das maiores crises da história da humanidade e hoje está praticamente extinto. Até o ano de 1952 do século XX, os descendentes de ingleses praticavam livremente a caça ao aborígene na Tasmânia, ilha ao sul da Austrália. Apesar de negros, a crise dos aborígenes teve olhos azuis. Ou seja, uma crise de gente caucasiana que se considera a mais civilizada e instruída do mundo. E sempre se acharam no direito de ensinar o que deve ser feito. Caçar aborígenes, por exemplo.

Por outro lado, também não é dizer que todos os povos que se mantiveram no Extremo Oriente ou mais tarde e muito antes de Colombo atravessaram para as Américas, se fazendo índios ou esquimós das proximidades dos pólos, sejam netos de Mongóis. Mas, como também os polinésios que dividiram às ilhas do sul do Pacífico com os aborígenes, são os chamados Amarelos.

Tampouco, nem todo Europeu que depois de Colombo veio para as mesmas Américas, teve avós no Cáucaso (margem ocidental do Mar Cáspio), mas foi das miscigenações entre aqueles povos que saíram as etnias dos chamados Brancos: indo-europeus e semitas, por exemplo.

E dos indo-europeus, saíram os gregos de Alexandre Magno e os latinos dos Césares. Portanto, brancos.

Outros indo-europeus ou brancos que constituíram um Império foram os Otomanos. Não são árabes nem semitas, mas outra etnia que fugindo dos Mongóis, acabou se estabelecendo na antiga Anatólia, atual Turquia.

O Império Teocrático da Igreja Católica deu continuidade ao Império Romano na Europa, mais tarde expandindo para a América Latina, mas perdeu Constantinopla (atual Istambul) para os Otomanos que, convertidos ao islamismo, também lançaram as bases de um império religioso que se estendeu do Estreito de Gibraltar ao Golfo Pérsico e da fronteira com os germânicos e eslavos até as margens do Mar Vermelho.

Aos povos indo-europeus se deu outra classificação para diferenciar aqueles de pele mais morena, mais indo, portanto mais ligados as origens orientais. Àqueles que se distanciaram dessas origens por milenares processos de miscigenação e adaptação ao clima do norte: eslavos, escandinavos, anglos e saxões, os etnologistas chamam de Caucasianos Brancos.

Podemos, por esta classificação, detectar que o Império da Igreja Católica, que ainda hoje detêm considerável poder econômico e político, como um império de maioria de caucasianos branco, de olhos azuis.

Do Império Otomano, que perdurou de 1299 a 1922, apenas restou a Turquia, o país mais pobre da Europa e porta de entrada para o Oriente. O que pôs fim ao Império Otomano foi uma crise cruenta entre alemães e ingleses em disputa de seu domínio no decorrer da I Guerra Mundial.

Todas as demais crises mundiais foram provenientes de abusos de poder econômico e imperialista de gente bastante branca. Napoleão não tinha olhos azuis, mas Hitler pregava a supremacia da raça ariana: brancos de olhos azuis. O Império Britânico, como não poderia deixar de ser: anglo-saxão. Putin e Bush, se não têm olhos azuis, estão longe do moreno asiático ou semita.

Muitos judeus, em tantas miscigenações após 2 milênios de migrações por todo o norte da Europa, ao contrário dos árabes perderam bastante do indo e hoje mais se assemelham aos europeus caucasianos.

Ideológica e socialmente esses judeus também se diferem muito daqueles do Holocausto que em grande parte eram socialistas. Além de loiros e ruivos de olhos azuis, os atuais se tornaram sócios dos Caucasianos Brancos nos complexos financeiros, indústria bélica, grandes redes de comunicação e no alto comércio de ouro, diamantes e outras extrações minerais em boa parte responsáveis pela miséria na África, América do Sul e Indonésia. Mas são expertos. Enquanto exterminam os desarmados palestinos -- esses sim, semitas puros -- financiam os Norte-Americanos a morrer mais ao Oriente: no Vietnam, Iraque, Afeganistão... Aliás, que olhos verdes lindos têm as Afegãs!

E se alguém já viu e ouviu falar de crise provocada por alguma outra coloração étnica, por favor, avise para que se possa entender quem é o verdadeiro racista dessa história em que o óbvio causa tanto espanto como se fosse dito um absurdo.

Raul Longo

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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