O espaço da Esquerda no ambiente político actual

Que as aspirações políticas e históricas da Esquerda foram levadas aos cumes de sucesso por gerações de activistas heróicas, não haja dúvidas. Contudo, depois desta vitória tremenda para a Humanidade, quem galvaniza a Esquerda hoje, onde está o elo que une as suas facções, que é a única hipótese que tem para sobreviver e apresentar uma alternativa credível para a governação e defesa de direitos humanos básicos?

Definir a Esquerda e Direita

Em termos mais latos, pode dizer-se que as políticas da Esquerda se empenham em “cuidar e gerir” enquanto a Direita segue o que define como as leis da natureza. Cuidar e gerir envolve o estabelecimento de mecanismos para proteger os direitos humanos, envolve a criação de vectores que garantem a igualdade social, que naturalmente passa por um grau de intervencionismo político e económico pelo Estado.

Cuidar e gerir significa intervencionismo pelo Governo (afinal para quê serve?), significa a implementação de equilíbrios para garantir que a economia e os recursos não sejam governados por um clique de elitistas, envolve um alto grau de responsabilidade no planeamento económico, que passa por um Ministério de Ordenamento do Território com o mais alto perfil possível (na maioria dos estados, este é relegado ao nível de secretaria de estado). Cuidar e gerir significa garantir direitos humanos básicos a uma educação, cuidados de saúde, acomodação, emprego, actividades em tempo de lazer, transportação e uma pensão de reforma indexada ao custo de vida.

A desculpa que a actividade humana deveria ser gerida pela natureza humana é o erro mais básico utilizado pela Direita, uma noção agarrada pelas mãos de elementos criminosos dentro de todas as sociedades humanas para justificar os instintos mais basicos na governação por um grupo restrito que quer dominar através de divisão e coerção. A abordagem de “natureza” na política tenta justificar a lei da selva na sociedade humana, um estatuto de que a Humanidade tem estado a tentar sair há séculos, liderada pela Esquerda.

A abordagem “natureza” tenta proteger os interesses investidos das classes com dinheiro ou propriedade, que se esconde atrás das teorias de responsabilização individual (dentro de um enquadramento carregado ao favor de alguns); laissez-faire, sem colocar os equilíbrios para garantir a igualdade; a privatização, onde o jogo é viciado sempre a favor de elitistas capitalistas; outsourcing – uma desculpa para cortar empregos e limitar contratos de trabalho) e basicamente, a criação de todas as condições pela dominação de uma sociedade por aqueles que detêm todas as chaves de riqueza e poder na mão.

O Falhanço da Esquerda

Dado os preceitos acima referidos, parecia lógico que a Esquerda estivesse sempre no poder…mas não está. Talvez o maior inimigo da Esquerda é a sua fragmentação inata, os seus activistas assumindo posições infantis, recusando-se a dialogar com aqueles que defendem ideias alternativas, participar em debates onde poderão estar presentes “inimigos”, esquecendo-se que o verdadeiro inimigo dos direitos humanos é a Direita.

O resultado é que aqueles que foram eleitos para representar o “povo”, de forma geral encontrando-se numa minoria porque são incapazes de seduzir a opinião pública, frequentemente preferem representar seus interesses pessoais, enquanto a Direita consegue infectar os alicerces do Socialismo como vermes, introduzindo nos corações e mentes da comunidade internacional a noção que a linha de fundo das contas pesa mais do que valor humano.

Por isso a esquerda só pode culpar a si própria. Ideias válidas, ideais válidos, activistas válidos se tornam vítimas das birras dos pseudo-intelectuais que nunca pegaram numa enxada, que nunca trabalaram numa fábrica, que nunca tiveram de caminhar descalço para a escola e que gostam de defender o Socialismo dos seus escritórios confortáveis.

Se bem que o modelo capitalista-monetarista gastou triliões de USD a sabotar os projectos da Esquerda, juntamente com tentativas de assassínio, terrorismo de estado e a pior espécie de políticas que sempre protegeram os que controlam o capital e nunca o povo, a Esquerda só conseguiu chegar ao poder numa minoria de Estados.

O Falhanço da Direita

Políticas de direita e centro-direita na maioria dos Estados levaram a uma situação em que cuidados de saúde e educação básica são uma questão de poder monetário, e não um direito básico. Hoje em dia, a Direita conseguiu destruir um sistema de educação gratuita e quem pode pagar para ir à faculdade, vai, quem tiver dezenas de milhares de dólares para tirar um mestrado, pode e quem negociar para fazer um doutoramento, pode. Quem não tem, é excluído – um cidadão de segunda classe. A Direita conseguiu destruir a noção que cada um tem o direito a um emprego, a uma casa, a transportação pública a preços justos.

Cada vez mais, se emprega pessoas com contratos temporários, pseudo-empregos para satisfazer burocratas invisíveis que trabalham pelos barões invisíveis que por sua vez controlam o poder e o capital, mantendo os centros de poder nas suas mãos. Hoje em dia, cuidados de saúde são administrados mais de acordo com linhas-guia monetárias e não o Juramento Hipocrático, a segurança de trabalho simplesmente não existe, crime chegou a níveis intoleráveis e a insegurança geral engendra uma péssima qualidade de vida. As leis da natureza, as leis da selva. É isso o que conseguiu implantar a Direita e simplesmente não funciona.

O caminho pela frente

Dizer que a Esquerda não funciona e que a Direita é a única alternativa é basicamente um insulto à inteligência humana. A Esquerda zela por cuidados de saúde, educação, paz, emprego, acomodação, actividades de lazer, transportação…todos gratuitos ou a custos reduzidos. A Direita, sem qualquer exceção, provou ser o inimigo destes serviços públicos básicos.

A Esquerda tem de fazer um programa de marketing politico, porque o produto tem qualidade e essencialmente constitui um Bem de agrado a todos. A dificuldade da esquerda em apresentar seu produto reside no facto que sua equipa de vendedores se encontra eternalmente dividida.

A Esquerda precisa de uma figura unificadora.

Timothy BANCROFT-HINCHEY

PRAVDA.Ru

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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