Um raio-x do egresso na sociedade brasileira

Traçar um panorama da situação dos egressos de penitenciárias na sociedade brasileira – esse foi o objetivo do trabalho de conclusão de curso apresentado pela aluna Zilda Messias à Faculdade de Comunicação do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), de Santos-SP. Da banca examinadora participaram os professores Adelto Gonçalves, orientador, e Arylce Cardoso Tomaz, que consideraram a aluna bastante criativa na escolha e desenvolvimento de um tema “cuja relevância social é incontestável”.

Apresentado como uma grande reportagem em formato de revista impressa no tamanho de 20cm x 26,5cm, o trabalho acadêmico reúne entrevistas com psicólogos, sociólogos, chefe de carceragem e egressos. Mães, companheiras e esposas também foram ouvidas.

Para a jornalista recém-formada, a falta de esperança do egresso vem da ausência de políticas públicas voltadas para o presidiário, desde o momento em que ele entra no sistema carcerário até a hora de seu retorno à sociedade. “Mas, mesmo com todas essas condições adversas, há resultados que mostram que trabalho, educação e apoio estão transformando a vida para melhor não só dos presos e suas famílias, mas de toda a sociedade”, disse, lembrando que outro objetivo do seu trabalho foi mostrar a atuação de organizações não governamentais (ongs) que se ocupam com esse público.

Depois de constatar que, de cada dez detentos libertados, sete voltam a delinqüir e acabam novamente presos, a autora procurou estabelecer os motivos que levam essas pessoas a retornar à vida do crime. “Um dos maiores desafios da sociedade moderna é assistir ao homem que enfrenta os problemas advindos do encarceramento, quer durante o cumprimento da pena de prisão, quer após esta, quando é devolvido à liberdade”, disse.

A revista preparada por Zilda Messias como projeto-piloto recebeu o título de Raio-X, em razão de a palavra raio definir nas cadeias e penitenciárias o espaço onde as celas são dispostas, ou seja, significa uma espécie de pavilhão. “Já X é uma abreviação de xadrez que para os encarcerados significa cela”, explicou.

A revista traz como reportagem de capa o texto “Sociedade do medo”, que mostra como os ex-presidiários enfrentam preconceito social, abandono familiar e falta de perspectivas. A publicação traz também uma entrevista com o jurista Sérgio Sérvulo da Cunha, chefe de gabinete do ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos (2003-2006), que considerou “hediondo” o sistema penitenciário brasileiro.

Ao desenvolver seu trabalho, Zilda pôde observar e conhecer mais profundamente o assunto. “Só em São Paulo o sistema prisional opera com uma população 50% acima de sua capacidade. São 96.540 vagas para um total de 145.096 presos. Para cada dois detentos com vaga, há um que está acomodado de forma improvisada, segundo dados do Ministério da Justiça”, disse.

Depois de considerar as prisões “linhas de produção ativas de aperfeiçoamento da marginalidade”, a jornalista recém-formada lembrou que é urgente a inclusão da família, sociedade, operadores do Direito e o poder executivo na possibilidade de, conjuntamente, construírem um projeto viável de reinserção para o preso na pré-inserção e o egresso na sua inserção social. “Os especialistas entrevistados deixaram bem claro que é muito difícil a reintegração social do egresso, mas, em nenhum momento, isso foi posto como impossível”, ressaltou.

Para a jornalista, a resposta aparece com ações voltadas para o trabalho e educação, como o que ocorre com a cooperativa de egressos da Fundação de Apoio ao Egresso do Sistema Penitenciário do Rio Grande do Sul (Faesp), que emprega aquele que nenhum empreendedor quer em seu quadro de funcionários. “Ficou claro que a participação da família é de extrema importância para os detentos, tanto antes quanto depois de cumprirem a sua pena”, disse. “A família é um componente precioso para o resgate de princípios básicos de convivência, ética e moral”.

Adelto Gonçalves

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Author`s name Timothy Bancroft-Hinchey
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